A Casa do Dragão e a necessidade incontrolável de lacrar na cultura pop

Casa do Dragão

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ou: como o “engajamento woke” pode estragar uma obra

Nas últimas quatro temporadas de Game Of Thrones, o criador da saga George R.R. Martin, já não opinava sobre o que iria entrar ou ficaria de fora do roteiro de uma das séries mais populares de todos os tempos.

A saída à francesa do escritor, aliás, foi explicada há pouco tempo aqui mesmo no Se Liga Nerd. Se você não se lembra, nós ajudamos a refrescar a memória. Martin disse que um dos fatores que mais o aborreceu foi as incontáveis alterações no lore da atração.

 

“‘O livro é o livro, o filme é o filme’, eles dirão, como se estivessem dizendo algo profundo. De fato, eles fazem a história deles. Eles nunca melhoram as coisas. Novecentas e noventa e nove vezes em mil, eles pioram a situação”, reclamou o autor norte-americano.

 

Os recentes comentários de George R. R. Martin sobre as alterações conceituais da cultura pop continuam atuais. Ou melhor: produção atrás de produção, as mudanças entram em cena para dar uma espécie de “toque pessoal” que os fãs nunca pediram.

É o caso específico de A Casa do Dragão (HBO/Max), que – para a surpresa e choque de ninguém – promoveu a inclusão de uma cena que nunca foi desenhada pelos roteiristas: a do beijo entre Rhaenyra Targaryen, interpretada por Emma D’Arcy) e Mysaria, vivida por Sonoya Mizuno.

A Casa do Dragão: a origem do beijo lacrate

Antes que o Se Liga Nerd receba qualquer cancelamento, é bom ninguém confundir as estações. Beijos entre garotas, há tempos, são mais do que comuns em filmes e séries. O que gira em torno específico do 6º episódio do spin-off idealizado pela mente de George R. R. Martin é a necessidade de lacrar para gerar engajamentos. Além, claro, de adulterar o conteúdo.

 

Vamos deixar a própria Sonoya Mizuno dar sua versão woke da história:

 

“Não foi planejado como um beijo. Acho que foi roteirizado como… há apenas uma respiração entre eles ou algo assim, e então o que quer que aconteça é interrompido”, explicou a atriz ao The Wrap.

 

Segundo Mizuno, ela, D’Arcy e a showrunner Ryan Condal debateram por muitos meses até decidir como a cena entraria no episódio. A sugestão do beijo para dar aquela lacrada básica foi a intérprete de Rhaenyra Targaryen

 

“Como estávamos separadas na sala e Mysaria contou essa história, D’Arcy sentiu o instinto de abraçá-la, de confortá-la. “A partir daí, pareceu tão orgânico entrar no beijo”, acrescentou.

 

As mudanças que ninguém pediu

 

Como o Se Liga Nerd e os canais da Liga Nerdola já cansaram de analisar, as práticas com a marca registrada da cultura woke são calculadas. Todas elas, são feitas à espera de críticas, onde os culpados de mudanças no texto são os consumidores da cultura pop.

Um caso bem recente e emblemático ocorreu na 1ª e única temporada de Sandman – a série original Netflix em que o próprio Neil Gaiman concordou com as alterações que desagradaram profundamente os leitores da fantástica graphic novel protagonizada pelo Mestre dos Sonhos.

Exemplos são inúmeros, mas não dá para esquecer que o sensitivo John Constantine (interpretado no cinema por Keanu Reeves) foi transformado em uma mulher (Jenna Coleman) em um dos episódios.

 

Agora é a vez do próprio Neil Gaiman assumir seu “woekismo”:

 

“Foi incrivelmente libertador poder ver tudo em Sandman a partir de uma perspectiva ‘do agora’ e perguntar: ‘Bem, se eu estivesse começando a escrever esta história agora, ainda faria isso?’ Foi simplesmente libertador. Demos um novo senso de equilíbrio aos personagens, eu acho”, declarou Gaiman, em defesa de sua criatura distorcida.

 

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