AJ Goes to the Dog Park prova que nem todo desenho quer virar gente grande
A comédia lunática de Toby Jones é puro delírio enlatado, mas tropeça quando tenta esticar piada de curta para longa
Toby Jones decidiu transformar a neurose millennial em opereta canina: AJ Goes to the Dog Park. AJ, o protagonista que idolatra rotinas mornas e pão com manteiga, vê seu parque de cães virar “blog park” vegano chic e parte numa cruzada municipal inspirada pelo manual de RPG da prefeita: lutar, pescar, brigar, raspar, sugar. É Monty Python com filmagem no quintal, porém com orçamento de feira de ciências.
A graça está nas raízes animadas do diretor. Rebecca Sugar aparece nos créditos com uma power ballad sobre “minha colina para morrer”, Owen Dennis dirige sequências que misturam demon lord com treinamento de cotovelada. Há bonecos soprados por leaf blower, cachorros de pelúcia com barba de Gandalf e flashbacks desenhados como livro de colorir. Você sente a turma de Cartoon Network fazendo live-action só para brincar.
Mas como toda sketch esticada, a elasticidade não aguenta. As piadas físicas de AJ Goes to the Dog Park acertam quando abraçam o absurdo, porém murcham rápido. O roteiro parece de curta de 15 minutos dilatado até virar 70, e o clímax épico surge do nada como se alguém tivesse trocado o rolo de filme. O nonsense é delicioso, mas a falta de ritmo cobra pedágio.
No saldo, o filme é a prova de que comédia autoral ainda pode ser radicalmente idiota e criativa. Só que mesmo anarquia precisa de métrica. Sem ela, a experiência vira maratona de meme: engraçado no começo, exaustivo na terceira leva de cotoveladas heroicas.
Acompanhe as novidades da Super Prumo e se inscreva no canal do YouTube da Liga Nerdola para ficar por dentro de tudo!