Análise do livro “O Japão no Papel”

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Breve guia da cultura japonesa

 Em 2022, a Associação Cultural e Literária Nikkei Bungaku do Brasil, em parceria com a Telucazu edições, lançou um pequeno livro gratuito de 62 páginas contando um pouco da cultura japonesa focada no papel, quer seja a arte de escrever poemas, textos, ou fantasias, até dobraduras (origami) e pinturas.

Em pequenos textos, com vastos conteúdos, somos apresentados a artes que continuam sendo preservadas e cuidadas até hoje, como o haicai, que é um pequeno poema japonês com certas regras que são explicadas no livro. O estilo poético em questão, conta o mestre Edson, autor do texto, foi aperfeiçoado por Matsuo Bashô (1644-1694); também há o kanji que é datado de 1300 a.C. e faz parte da escrita japonesa, aliado ao katakana e ao hiragana e, para citar mais um, a sumi-ê (sumi- tinta; ê- pintura) que é uma arte datada de 2000 a.C. Estes são apenas exemplos de como o Japão se importa com suas tradições que são vastas e são retratadas muito bem pelos autores desse livro.

Existe também um breve relato, escrito pelo mestre Marcelo del Greco (editor da JBC editora), sobre a origem do mangá no Japão. Origem que também descrevi para minha monografia e posterior publicação: “Mangá Tropical- Um estudo de Caso”. Em um relato rápido, mas forte, Marcelo cita com maestria toda a trajetória do mangá. A história do mangá, sua origem mais aceita, é relacionada com os pergaminhos budistas chōjū-jinbutsu-giga que datam dos séculos 12 – 13 e eram usados para ajudar na pregação budista, o que confere ao mangá, por sua ancestralidade, um aspecto espiritual interessante. Os pergaminhos são considerados tesouros nacionais e estão, atualmente, em exibição no Museu Nacional de Tóquio.

Chōjū-jinbutsu-giga: The Very First Manga

Voltando ao livro, também há um relato curioso dentro dele, que remete a uma ação do ex-primeiro ministro Shinzo Abe. Ele nomeou tanto o mangá, como o animê, como embaixadores da cultura japonesa e não foi para menos. Ao citar karuta (jogo de cartas baseado na antologia de poemas chamada “Cem Poemas por Cem Poetas”, compilada por Fujiwara Teika em 1235) a autora escreveu: “Inspirado pelo sucesso de ‘Chihayafuru’, a obra em animê e mangá de Yuki Suetsugu, o grupo surgiu em 2013”, fazendo referência à criação da Associação de Karuta de São Paulo, que surgiu após o sucesso de uma obra em animê e mangá. Isso nos mostra a força de propagação cultural que os desenhos e os quadrinhos possuem e como o antigo primeiro ministro tinha uma visão focada e sábia sobre a arte e a cultura popular japonesa. Abaixo a abertura da série animada.

Claro, existem alguns erros gramaticais aqui e acolá, mas isso não diminui o valor da obra em si e a força da mensagem que ele passa, instruindo-nos em diversas artes pouco conhecidas pelo público brasileiro, mas amplamente defendidas e adoradas pela tradição do povo japonês. Em resumo, é um livro introdutório a diversas artes tradicionais japonesas, então, eu até recomendaria esse livro para quem deseja iniciar seus estudos sobre a cultura japonesa, porém, como foi uma edição limitada, já esgotou-se. Tenho a honra de ter conseguido um.

Sobre a Associação Cultural e Literária Nikkei Bungaku do Brasil

Fundada inicialmente em 1966, tem como principal função a preservação e divulgação da cultura japonesa no Brasil.

A edição de 2022 está esgotada, mas a análise de seu conteúdo permanece válida como memória de seus ensinamentos e, também, como uma prova de como o Japão preserva sua cultura e tradições.

Por Patrick Raymundo de Moraes que é jornalista e escritor. Possui o blog Outros Papos, outrospapos.com, livros na Amazon e no site da editora Perse.

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