Desde a primeira temporada, Andor vem construindo um retrato sombrio e realista da galáxia sob domínio do Império. A prisão de Narkina-5, os julgamentos arbitrários e a destruição de culturas locais mostraram que o regime de Palpatine não precisa de sabres de luz para impor o terror.
A segunda temporada, no entanto, eleva esse horror a um novo patamar, introduzindo uma instituição que pode ser a mais perturbadora da saga: o Ministério da Iluminação.
Logo no primeiro episódio, somos apresentados a Shambo e Osar, dois representantes do setor de propaganda do Império. Eles expõem um plano para transformar a opinião pública contra o povo de Ghorman, associando sua imagem a criaturas repulsivas nativas do planeta.
Com postura desconcertantemente animada, tudo isso é dito com um entusiasmo gélido diante de oficiais que, mesmo acostumados à brutalidade imperial, demonstram desconforto.
O Ministério da Iluminação não recorre às armas tradicionais. Seu campo de batalha é a comunicação e sua arma é a manipulação. Com estratégias dignas de agências de publicidade, esse setor do Império transforma mentiras em verdades aceitas e molda a percepção dos cidadãos comuns com base em interesses estritamente políticos.
Essa abordagem lembra diretamente o Ministério da Verdade de 1984, de George Orwell. Além do nome, a referência fica evidente na forma como o Império reescreve narrativas e utiliza técnicas de propaganda para justificar massacres. O mais assustador é o contraste entre a crueldade das ações propostas e a leveza com que são apresentadas.
A presença de figuras como Shambo e Osar também expõe o quanto o Império é capaz de institucionalizar o mal. Diferente de vilões tradicionalmente autoritários, os dois são sorridentes, cordiais e absolutamente conscientes do que estão fazendo.
Ao lado do Ministério da Iluminação, a segunda temporada também traz de volta o Diretor Orson Krennic, vivido por Ben Mendelsohn. Conhecido de Rogue One, Krennic surge agora em ascensão dentro da hierarquia imperial, coordenando reuniões e tomando decisões de grande impacto com total respaldo da alta cúpula do Império.
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Mesmo figuras como Partagaz e Dedra Meero demonstram subordinação em sua presença. Krennic, com seu comportamento quase burocrático, representa uma nova camada de antagonismo: a do gestor de horrores. Ele não impõe medo pela força, mas pelo poder que exerce com naturalidade sobre vidas inteiras.
Em sua essência, Krennic simboliza o funcionário público a serviço do mal. É ele quem lidera o Departamento de Pesquisa de Armas Avançadas, responsável pela construção da Estrela da Morte. Não à toa, a prisão onde Cassian esteve na primeira temporada foi projetada para fabricar peças dessa arma.
A segunda temporada de Andor mostra que o Império não se sustenta apenas pela violência, mas também pelo controle da narrativa. Assim como as grandes guerras do século XX, parte do domínio político vem através de propagandas midiáticas.
O plano de destruir Ghorman, encoberto por uma campanha bem estruturada, expõe o grau de sofisticação da dominação imperial. Mesmo quando está prestes a cometer um massacre, o Império se preocupa com relações públicas.
Esse controle absoluto da informação não apenas neutraliza resistências, mas impede que a população sequer perceba que há algo errado. O horror se normaliza frentes as grandes propagandas que se tornam um dos pilares centrais do regime autoritário.
O que a segunda temporada de Andor faz com maestria é inserir o medo de forma institucional. O terror não vem de naves explodindo ou sabres atravessando corpos, mas da ideia de que há pessoas sendo treinadas para convencer outras de que o mal é justificável. Essa é talvez a contribuição mais madura que a franquia já apresentou.
Mais do que nunca, a luta de Cassian é contra uma engrenagem que transforma opressão em normalidade. Ao destacar isso, Andor eleva Star Wars a uma nova maturidade narrativa, mostrando que nem sempre o poder vem da força.
A nova temporada de Andor está disponível no Disney+, com lançamentos semanais.