George R. R. Martin apontou o dedo para showrunners e roteiristas que ousam alterar as obras originais
Por Claudio Dirani
Ao conferir as versões cinematográficas de seus livros ou HQs favoritos, quantas vezes você já apontou verdadeiros crimes cometidos contra a obra original? Nem precisa responder.
Ultimamente, as exceções viraram regra no universo de roteiristas que decidem por vontade própria alterar a etnia – e até a aparência física dos personagens. E isso vale também no universo gamer, como ocorreu com a Mary Jane em Spider Man 2 da Insomniac Games.
A desculpa para a metamorfose também é esfarrapada: “Isso aqui é um filme não é o livro”, argumentam os cheirosos, que nem disfarçam mais que a cultura woke vem em primeiro lugar.
Essa atitude de “mudei porque eu achei certo” foi denunciada pelo norte-americano George R.R. Martin, simplesmente o homem por trás de Game Of Thrones e do spin-off A Casa do Dragão.
Ainda que de forma relativamente tardia, o escritor comentou em seu site pessoal Not a Blog que os roteiristas atuais não estão nem um pouco preocupados ao vilipendiar os textos originais, mesmo que eles sejam de autoria de nomes como Stan Lee, Charles Dickens e J.R.R. Tolkien.
“Para onde quer que você olhe, há mais roteiristas e produtores ansiosos para pegar grandes histórias e torná-las suas. Não parece importar se o material original foi escrito por Stan Lee, Charles.’ Dickens, Ian Fleming, Roald Dahl, Ursula K. Le Guin, J.R.R. Tolkien, Mark Twain, Raymond Chandler, Jane Austen… Não importa quão importante seja o escritor, não importa quão grande seja o livro, sempre parece haver alguém por perto que pensa que pode fazer melhor, ansioso para pegar a história e ‘melhorá-la”, acusou Martin.
O que George R.R. Martin apontou em sua postagem, vale destacar, tem sido há anos apontado em vídeos da Liga Nerdola. Um exemplo dessa destruição aconteceu em diversas alterações na primeira temporada da série The Last Of Us, que fez até alusão ao comunismo.
E o que falar dos personagens da Marvel?
Para começar que todo o arco da Capitã Marvel foi alterado, desde que Carol Danvers ganhou seu filme próprio em 2018. Sim, queridos heróis: se a obra fosse seguida de acordo com o autor, o protagonista seria o Capitão Marvel – o guerreiro Kree criado por Stan Lee e Gene Colan que traz consigo fantásticas sagas até seu encontro épico com Thanos.
“Roteiristas raramente acertam quando mudam”, afirma Martin
Em seu ataque aos “mutiladores de histórias originais”, Martin destaca ainda que, na maioria absoluta, os roteiristas que são autorizados a modificar o rumo de personagens fazem o serviço mal feito.
“‘O livro é o livro, o filme é o filme’, eles dirão, como se estivessem dizendo algo profundo. De fato, eles fazem a história deles. Eles nunca melhoram as coisas. Novecentas e noventa e nove vezes em mil, eles pioram a situação”, apontou.
Para não ser acusado de implicante, o criador de Game Of Thrones elogiou o trabalho da nova versão para a série Xógum – a Gloriosa Saga do Japão, exibida no Brasil pelo Star Plus.
““De vez em quando, porém, conseguimos uma adaptação realmente boa de um livro realmente bom, e quando isso acontece, merece aplausos”, afirmou Martin, ao citar a produção dos showrunners Rachel Kondo e Justin Mark baseada na obra de James Clavell.
“Acho que o autor teria ficado satisfeito. Tanto os roteiristas antigos quanto os novos honraram o material original e nos deram adaptações incríveis, resistindo ao impulso de torná-lo seu”, acrescentou George R.R Martin.
Em um passado recente, o autor deixou nas entrelinhas que sua própria obra foi alterada para atender aos requisitos televisivos na cultuada e extremamente bem-sucedida Game of Thrones – série que veio a ser duramente criticada no capítulo final de sua 8ª temporada em 2019.
Em depoimento ao The New York Times, Martin declarou que seu interesse na produção da HBO já havia diminuído desde as temporadas 5 e 6 da atração. Segundo ele, o final massacrado por alguns fãs “teria sido bem diferente”.
“Lá pelas temporadas 5 e 6, e certamente 7 e 8, eu já estava bem fora de sintonia”, afirmou. “Quanto ao motivo, melhor perguntarem para Dan e David”, cravou o escritor, em referência aos produtores David Benioff e D. B. Weiss.