“Claro que dá para juntar!” — disse o supervisor de efeitos visuais, como um alquimista medieval prometendo transformar chumbo em ouro.
Guy Williams, o mago dos pixels de Superman, acaba de decretar que sim, Robert Pattinson e David Corenswet podem dividir a tela. Sua lógica? “Diretores são pessoas criativas incríveis.” Ah, sim. O mesmo argumento usado para justificar Batman vs Superman, Liga da Justiça e todas as outras catástrofes que transformaram a DC em sinônimo de desespero corporativo.
A comparação com Rogue One é especialmente reveladora. Como se o problema fosse apenas diferença tonal. Como se Andor e Baby Yoda fossem de universos diferentes. Não, senhor Williams. Star Wars sempre foi Star Wars. Já Batman e Superman agora são peças de quebra-cabeças diferentes que alguém está tentando encaixar com martelo.
Vamos aos fatos cruéis: Matt Reeves criou um Batman noir, psicológico, ancorado em realismo sujo. É Taxi Driver com capuz. James Gunn fez um Superman colorido, esperançoso, com robôs lendo jornais e cachorros voadores. É Saturday morning cartoon com orçamento de blockbuster.
Juntar esses dois é como pedir para Scorsese dirigir um episódio de Teletubbies.
Mas a ginástica mental não para por aí. Gunn promete que teremos DOIS Batmans simultâneos. Um no “universo principal”, outro em “Elseworlds”. É a solução Salomônica invertida: ao invés de dividir o bebê, vamos cloná-lo e confundir todo mundo.
“The Brave and the Bold” — o Batman oficial do DCU — nem tem data. Nem diretor. Nem ator. É um fantasma corporativo assombrando salas de reunião enquanto Pattinson filma sua sequência real, com público real, em um universo que funciona.
A esquizofrenia é tamanha que o próprio Gunn admitiu: “Batman é um problema que preciso resolver.” Tradução: não faço ideia do que estou fazendo, mas preciso fingir que tenho um plano.
O que torna tudo mais patético é a transparência do desespero. Pattinson é aclamado. Reeves é respeitado. The Batman funcionou. Então, ao invés de deixar o sucesso em paz, querem parasitá-lo, sugá-lo para dentro do buraco negro do “universo compartilhado” — esse conceito que a Marvel transformou em religião e todos os outros em cargo cult.
“Mas pode funcionar!”, insistem. Como? Vão explicar que existem dois Batmans porque… multiverso? Variantes? Speed Force? Kryptonita quântica?
O público já está exausto dessas ginásticas narrativas. Flash fracassou tentando consertar universos. Agora querem criar mais confusão? É masoquismo empresarial.
Reeves deve estar calculando quanto custaria quebrar seu contrato agora mesmo. Criou uma obra de arte sombria e agora querem que seu Batman faça piada com o cachorro superpoderoso do Superman. É humilhação criativa em tempo real.
Enquanto isso, fanboys celebram: “Finalmente vamos ter World’s Finest!” Não, queridos. Vamos ter World’s Most Forced. Um crossover frankensteiniano costurado com linha corporativa e desespero por bilheteria.
A ironia final? Se deixassem cada universo respirar sozinho, teriam duas franquias lucrativas. Mas não. Hollywood precisa estragar tudo que toca, como Midas ao contrário — transformando ouro em lixo reciclável.
Star Wars sobreviveu a diferentes tons porque sempre foi um universo coeso. DC está tentando pegar dois filmes que mal se reconheceriam como primos distantes e forçar um casamento arranjado.
Preparem-se para o inevitável: Batman sussurrando gótico enquanto Superman sorri para a câmera. Gotham noir dividindo espaço com Metrópolis technicolor. Robert Pattinson fingindo que faz sentido estar ali.
É o equivalente cinematográfico de colocar Beethoven e Anitta no mesmo palco e chamar de “sinfonia”.
Que São Nolan nos proteja do que está por vir.
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