A Branca de Neve comunista da Disney

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Saudações aos espectadores! Nós, seres humanos, somos capazes de funções básicas como amarrar os sapatos. Mas parece que algumas pessoas muito bem pagas na Disney têm dificuldades até com o óbvio, já que acharam uma ótima ideia refazer o clássico animado Branca de Neve em live-action. A desculpa oficial? “Trazer contos amados à vida de novas maneiras para os espectadores de hoje”. Ah, lá vamos nós de novo…

Isso talvez explique muita coisa errada no mundo, mas ainda assim é perturbador. Tão perturbador quanto os “companheiros mágicos” (porque não podemos mais chamá-los de anões, aparentemente) feitos em CGI (computação gráfica). Felizmente, graças às projeções de bilheteria, eles não darão pesadelos a tantas crianças assim – porque os pais que amam seus filhos provavelmente não os levarão para ver isso. Mas para os que levarem, não digam que não avisei.

É terrível demais

 

Você pensaria que este remake malfadado não poderia ser pior do que o desastre de relações públicas que o antecedeu. Mas tenho que dar crédito à Disney: eles conseguiram superar minhas expectativas já baixíssimas. Mau sinal.

As primeiras reações nas redes sociais, de pessoas escolhidas a dedo pela Disney em uma estreia fechada onde a mídia não podia fazer perguntas, disseram que o filme era um “banquete visual” e Rachel Zegler uma “supernova brilhante”. Hum… acho que consigo sentir o cheiro de papo furado. Disseram até que recapturava a “magia” do original de 1937. Sim, definitivamente cheira a mentira deslavada.

Isso levou o Daily Beast (um site americano de notícias e opinião) a escalar um pobre coitado (provavelmente um estagiário) para escrever: “Desculpem, haters, o filme da Branca de Neve da Disney aparentemente é bom”. Deve ter sido um trote interno. A manchete não envelheceu nada bem.

Nada diz “confiança no filme” como liberar as críticas apenas 24 horas antes do lançamento. E quando saíram? Notas baixíssimas, na casa dos 40% e até 20% entre diferentes grupos de críticos (no momento da gravação original do vídeo que inspirou este texto). Todos “preconceituosos”, claro, segundo a narrativa que tentaram emplacar.

Que vergonha Disney

Então, após dois anos de desastre de RP – incluindo reclamações públicas de Gal Gadot, a polêmica iniciada pelo ator Peter Dinklage (famoso por Game of Thrones) que criticou a ideia de ter anões morando em caverna, o que levou a mudanças drásticas e irritou atores com nanismo que queriam os papéis, além das refilmagens massivas (típicas da Disney atual), orçamentos estourados e, claro, a garota-propaganda de tudo que há de errado em Hollywood moderna, Rachel Zegler – como ficou o filme? Considerando minha relutância em falar sobre isso, deveria ser óbvio: uma M****. Ousaria dizer: chato, sem alma, subversivo de um jeito ruim, criativamente falido, um produto corporativo aguado.

Disseram que “recaptura a magia” do original. Não recaptura. Talvez eu esteja sendo duro. Faltam só algumas coisinhas: a narrativa coesa, a criatividade, o charme, o visual icônico dos anões originais, a personalidade dos animais fofinhos da animação, as músicas clássicas como “I’m Wishing” (“Meu Desejo”) e “Someday My Prince Will Come” (“Um Dia Meu Príncipe Virá”). Falando nisso, falta o Príncipe. E, essencialmente, falta a Branca de Neve que conhecemos. No lugar, temos um filme estilo “girl boss” (mulher empoderada no comando) com uma dose de propaganda que soa quase comunista para crianças.

Eles não perdem tempo. Logo no início, explicam que os pais benevolentes da Branca de Neve queriam governar “pelo livre e justo”, e a “abundância da terra pertencia a todos que a cultivavam”. A coisa foi tão na cara que até a BBC (a rede pública de notícias britânica) achou esquisito, descrevendo como uma mistura de conto de fadas feudal com um chamado marxista às armas.

Espelho, espelho meu quem é comunista do que eu

A história original? Rainha má com inveja da beleza da enteada ordena sua morte. A enteada foge, encontra 7 anões mineiros amigáveis. A Rainha, disfarçada, dá uma maçã envenenada. Branca de Neve cai em sono mortal, quebrado pelo beijo do príncipe.

A versão 202X? Como a própria Zegler disse: “Não é mais 1937”. Ela “não será salva pelo príncipe” e não sonha com “amor verdadeiro”, mas em “se tornar a líder que ela sabe que pode ser”. Então, a trama fica assim: Gal Gadot (por algum motivo inexplicável de roteiro) tem inveja da beleza de Rachel Zegler. A Rainha ordena a morte da enteada não tão inocente, cujo único desejo é ser uma chefe. Branca de Neve foge e vai parar numa cabana, mandando em sete criaturas de pesadelo feitas em CGI – um parece o filho indesejado de Alfred E. Neuman (o mascote dentuço e de orelhas grandes da antiga revista de humor americana Mad) com John Campea (um conhecido comentarista de cinema americano online); outro parece o comediante americano George Lopez – e alguns hippies sujos. A Rainha (a única personagem vagamente interessante) dá a maçã envenenada. Branca de Neve cai em sono mortal (se acabasse aí, talvez fosse melhor). Infelizmente, o sono é quebrado por um ex-ator com quem ela demonstrou interesse (não um príncipe), que depois a ajuda a liderar a resistência para retomar a utopia supostamente comunista que ela estava destinada a comandar. Espero que venha um McLanche Feliz da “Redistribuição de Riquezas” com um brinquedo de foice e martelo e o Manifesto Comunista no papel do hambúrguer.

É o cúmulo da ironia quando uma corporação multibilionária, que não se importa em filmar perto de supostos campos de concentração na China (uma referência às polêmicas na época do live-action de Mulan), nos dá lições sobre os males do capitalismo. Sim, tiraram as músicas sobre desejar e esperar um príncipe. No lugar, uma canção feminista genérica sobre querer liderar. Zegler até canta bem… mas o material é lixo genérico da Disney. A trilha sonora me fez sentir saudades dos tempos de serviço militar obrigatório (uma hipérbole para dizer que era muito ruim).

Os personagens? Alguns serão lembrados pelas piores razões (como os “anões” em CGI). A maioria será esquecida antes de você chegar ao estacionamento. O único quase ileso é o Espelho Mágico, embora tenham conseguido errar a fala clássica (“Espelho, espelho meu…”) e cortado a descrição poética da Branca de Neve (“Lábios vermelhos como a rosa…”).

No conto original, a beleza dela supera a da madrasta aos 7 anos. Na animação, aos 14. Na versão moderna? Aparentemente, é quando ela liberta um ladrão de batatas e tem um despertar de “justiça social”. Falando no ladrão de batatas (o substituto do príncipe): um ex-ator descrito como “blackpilled” (termo da internet para alguém extremamente cínico e pessimista sobre o mundo), líder de bandidos, que foram escalados claramente pela “habilidade” e não por cotas de diversidade, assim como todo o povoado da Alemanha medieval (que, segundo os historiadores modernos da Disney, era super diversificado).

O Caçador? Mudaram um pouco, mas ele ainda leva Branca de Neve para matá-la, mas é “dominado” pela beleza e bondade dela (enquanto a audiência provavelmente estava pensando “Anda logo com isso!”). Ele decepciona a todos e a deixa ir.

Os animais? Um grande rebaixamento. No original, eram personagens importantes e expressivos. Agora, abominações em CGI sem personalidade alguma. Quase esperei o vilão Alto Evolucionário (de Guardiões da Galáxia 3) aparecer para fazer experimentos neles.

E os “anões” ou “criaturas mágicas”? Chamá-los de “material de pesadelo” é pouco. Foram de MODOK total (aquele vilão cabeçudo e bizarro da Marvel), só que sete vezes. Um parece, como dito, uma mistura estranha, outro o George Lopez, e o Dunga parece o John Campea ou aquele garoto do vídeo viral sobre o caríssimo e criticado hotel temático de Star Wars da Disney. O que a Disney estava pensando? Os anões são talvez mais icônicos que a própria Branca de Neve! Mas é isso que acontece quando você ouve as críticas de Peter Dinklage e joga o jogo da política de identidade de forma desastrada: todo mundo perde. Sete atores com nanismo perderam a chance de trabalho, a Disney gastou milhões em CGI feio e ofensivo.

E Gal Gadot? Linda, sem dúvida. O tempo todo ela é a “mais bela”, especialmente de Rainha Má (não me julguem). Mas sua atuação é tão convincente quanto seus números musicais. Pelo menos suas cenas têm um certo valor de “tão ruim que fica engraçado”.

E Rachel Zegler? Depois de dois anos de declarações controversas e arrogantes sobre o filme e o original, é impossível suspender a descrença. Vendo o filme, posso dizer: ela não valeu o problemão que causou. O melhor que se pode dizer é que ela canta bem músicas ruins. Sua atuação? Tão emocionante quanto assistir tinta secar. Sua química com o ladrão de batatas? Tão inexistente quanto sua aparente simpatia por Gal Gadot nos eventos públicos.

Então, grande surpresa: Branca de Neve é um filme terrível. A Disney nos avisou por dois anos, orgulhosamente, com as declarações do elenco e da equipe. E o público avisou a Disney nos comentários dos trailers que receberam “ratio” (termo das redes sociais para quando uma postagem tem muito mais respostas negativas e críticas do que curtidas). É só o mais recente na longa linha de fracassos previsíveis da Disney. A bilheteria? Fracassou, arrecadando na estreia menos que o live-action de Dumbo de 2019 (outro remake da Disney considerado decepcionante), sem nem ajustar a inflação. Bem, bem, bem… parece que o público tinha razão.

Já ouço as desculpas esfarrapadas: “Não foi feito para você”, “É para crianças”, “É um conto de fadas”.

  1. “Não foi feito para mim”: Verdade. Mas já gostei de muitos filmes “não feitos para mim”. A questão é ter qualidade.
  2. “É para crianças”: Claro. Mas não precisa ser estúpido ou insultar a inteligência delas. Por que você odeia crianças a ponto de querer que elas vejam isso? Se ama seus filhos, não os leve. É quase um castigo.
  3. “É um conto de fadas”: Sim. E utopias comunistas também são, aparentemente.

O problema é que faltam duas coisas que podem salvar até um conceito ruim: qualidade e autenticidade. Não há nada disso aqui, nem em Hollywood atualmente. Branca de Neve e os Sete Anões (1937) encapsula tudo que era certo na Disney. Esta Branca de Neve moderna encapsula tudo que está errado. O poço dos desejos foi de belamente animado para… algo genérico. A cena do trabalho dos anões foi de… icônica para… esquecível. O final da Rainha Má foi de… impactante para… sem graça. E a Branca de Neve foi de… um ícone para… Rachel Zegler sendo Rachel Zegler.

Eu nem teria visto este filme se não fosse pelo desastre de RP que o transformou num saco de pancadas cultural merecido. Sim, o filme talvez teria se saído um pouco melhor na bilheteria se Rachel Zegler tivesse conseguido ficar de boca fechada e não alienar metade do público potencial. Teria ido muito melhor se a Disney tivesse respeito pelo próprio material e feito algo autêntico. Mas não. Após assistir a esta Branca de Neve para uma “audiência moderna”, uma coisa fica abundantemente clara: a Disney parece odiar a Disney e seu próprio legado.

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Branca de Neve: Disney não lançou, trailer oficial do live action VAZOU! (RESUMO)

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