Produção de 1937 nunca saiu de moda e ainda quebra recordes
Branca de Neve e os Sete Anões não é apenas um marco na história dos estúdios Disney. A animação de 1937 – detonada pela própria protagonista do reboot em live action que estreia neste mês – entrou para o hall da fama do cinema por ser o primeiro longa-metragem do gênero, arrebatando a quantia estimada de US$ 1.5 bilhão (valor corrigido pela inflação em 2025).
Quando Rachel Zegler abriu sua imensa boca para criticar o conto de fadas, o rotulando como “velho por ser de 1937”, obviamente a atriz que (tragicamente) assumiu o papel principal do novo filme ignorava que a história era ainda mais clássica.
Isso porque a adaptação dirigida por David Hand na década de 1930 foi baseada no conto publicado pelos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm em 1812. Sim, a publicação do século 19 – esculhambada pela militante Zegler – também foi um monstruoso hit comercial, chegando ao segundo lugar na Alemanha em vendas, somente atrás da Bíblia Sagrada.
O texto – vale recordar – não apenas salvou os estúdios Disney em 1937. A animação, aliás, foi a terceira produção cinematográfica baseada no conto dos Irmãos Grimm a virar filme, antecedida por duas versões para o cinema mudo lançadas respectivamente em 1902 e 1916.
Lançado em 21 de dezembro de 1937, Branca de Neve e os Sete Anões foi recebido por uma plateia entusiasmada, que lotou o Carthay Circle Theater, localizado à San Vicente Boulevard em Los Angeles.
Estavam lá para prestigiar nomes de peso da indústria cinematográfica que viriam a se tornar lendas da sétima arte. Entre eles, as estrelas Judy Garland (Mágico de Oz) e Marlene Dietrich. Em poucos dias, a animação já estava na capa da Time – considerada uma das mais influentes no século XX (bem antes de seu processo de esquerdização).
Embora o Final Feliz tenha chegado rapidamente para o filme, os altos custos para rodar Branca de Neve chegaram a assustar o visionário Walt Disney, que temeu pelo sucesso nas bilheterias. Mas os temores caíram por terra bem antes do primeiro ingresso ser vendido.
Isso porque a força do marketing empregado para promover o conto de fadas turbinou a arrecadação dos estúdios semanas antes de sua premiére global. A empresa Seiberling Latex Products foi a que mais se destacou nesse quesito, com a venda recorde de brinquedos baseados nos personagens – incluindo os amados anões, que acabaram vítimas da cultura woke patrocinada pela “nova Disney”.
O que a mídia especializada falou sobre o primeiro clássico da Disney
Confira o que a Life Magazine escreveu sobre o lançamento de Branca de Neve e os Sete Anões em 1937:
“Branca de Neve custou US$ 1.500.000 (mais de US$ 23 milhões em 2025) e levou três anos para ser feita. Usando personagens humanos extensivamente pela primeira vez…Vinte e cinco artistas pintaram os cenários da produção em tons pastéis. Enquanto isso, 300 animadores desenharam os personagens em movimento em folhas de celulóide (…)”.
“(…) Branca de Neve foi destinada ao comércio de Natal, mas foi um trabalho tão gigantesco que apenas Los Angeles o verá antes de meados de janeiro. Enquanto isso, sua publicidade antecipada atingiu tais proporções que o Sr. Disney pode muito bem se preocupar com o fato de seu público esperar demais”, reportou a Life Magazine na edição de 13 de dezembro de 1937.
Dois anos mais tarde, o The Hollywood Reporter mostrava como Branca de Neve e os Sete Anões tinha se transformado em um sucesso internacional sem parâmetros para a época.
“Branca de Neve e os Sete Anões” foi o único filme não francês a ser votado entre os dez melhores filmes de 1938-39, de acordo com os resultados do sétimo Referendo Anual de Cinema publicados pelo Toulouse Despatch”, escreveu o tablóide especializado. “A pesquisa recebeu retornos de 23.000 eleitores, alcançando 33 províncias, incluindo áreas tão distantes quanto Túnis e Marrocos”, completou.
O que Walt Disney disse sobre Branca de Neve?
A ideia para transformar em realidade o sonho de levar Branca de Neve aos cinemas surgiu em 1934. Deste então, Walt Disney não mediu esforços para que seu primeiro longa animado se tornasse realidade.
A edição do Harrisburg Telegraph de 19 de agosto de 1938 trouxe uma entrevista conduzida pelo repórter Ed Sullivan, destacando a crescente popularidade de Walt Disney como empresário, produtor e mago do entretenimento.
“É a primeira vez que o nativo de Chicago de 36 anos senta-se comigo para uma entrevista, que acontece (em Hollywood) duas semanas antes das férias de verão”, adianta o jornalista, descrevendo o especial momento.
HARRISBURG TELEGRAPH: Pergunto a ele como se sente – e o que ele aprendeu com o sucesso arrebatador de Branca de Neve e os Sete Anões. Seus olhos castanhos começaram a brilhar após a pergunta (…)”.
WALT DISNEY: Vou dizer o que aprendi: um profundo respeito pela audiência infanto-juvenil, como nunca tive no passado. Antes disso, eu achava tolo produzir algo apenas para as crianças. Do ponto de vista comercial, notei que os pais pagariam ainda mais para levar seus filhos ao cinema (…).
HARRISBURG TELEGRAPH: É verdade que você destinou 20% do total arrecadado para quem produziu o filme?
WALT DISNEY – Claro! Eles merecem…e tornaram o filme possível, não é verdade? Sempre foi assim por aqui (na Walt Disney Company). Alguns colaboradores ainda recebem ganhos de Os Três Porquinhos até hoje…
HARRISBURG TELEGRAPH – Em retrospecto geral, como você avalia o sucesso de Branca de Neve?
WALT DISNEY – Representa mais que um filme para mim…foi um verdadeiro salvador. Os financiadores já estavam ficando nervosos. Eles injetaram US$ 1.5 milhão nele, e tudo o que eu tinha em mãos na época eram desenhos… Vou te contar uma história. Um deles – o Sr. Rosenberger, que é um dos homens mais sensacionais que já conheci – me pediu para ver um corte inicial de Branca de Neve para ver como andava a produção. Eu sentei ao seu lado e comecei a suar sangue… Aí, eu explicava para ele: “esse fundo vai ter uma cor muito mais brilhante na versão final”, sr. Rosenberg…
Quando a sessão terminou ele confessou ter gostado e melhor: garantiu que falaria com o banco para me dar o montante final para eu completar o filme…