A cena de John Constantine beijando Satanás nos quadrinhos da DC Comics é um exemplo do excesso de experimentalismo e subversão gratuita que vem dominando parte da indústria.
Não se trata de condenar a bissexualidade do personagem, revelada de forma orgânica anos atrás. O problema é a incoerência de ter o bruxo beijando justamente seu maior inimigo no universo ficcional. Parece buscar o choque pela chocante, sem agregar em termos de enredo ou construção dos personagens.
Essa distorção desnecessária da mitologia dos quadrinhos para provocar polêmica reflete a arrogância criativa de autores que não respeitam o legado das obras. É o oposto da abordagem de grandes autores, que souberam trazer complexidade a esses heróis e vilões clássicos com sensibilidade.
Felizmente, ainda existem alternativas aos quadrinhos que abusam do experimentalismo vazio. Graphic novels que exploram com maturidade temas adultos, sem precisar deturpar icônicos personagens. E também surgem novas editoras focadas em simply contar boas histórias, em vez de polemizar.
O público mais conservador, e mesmo moderado, se sente cada vez mais órfão nessa indústria que prioriza a inovação rasa e o sensacionalismo. Por isso, o caminho é investir nas opções que respeitem a inteligência e os valores dos leitores. E assim o mercado de quadrinhos poderá se renovar com criatividade, mas sem cair no vale-tudo ou no proselitismo ideológico.