China rejeita Branca de Neve após anos de complacência da Disney

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Ah, a Disney. Aquela gigante do entretenimento familiar, bastião da magia e… mestre da ginástica moral e contorcionismo corporativo para agradar diferentes mestres. Que jornada profundamente humana temos testemunhado: uma década inteira dedicada a cortejar o mercado chinês, esse pote de ouro no fim do arco-íris autoritário. Vimos a Casa do Mickey Mouse dançar conforme a música dos censores de Pequim, aparando arestas ideológicas aqui, trocando personagens ali, reescrevendo histórias acolá, tudo num esforço digno de um atleta olímpico para não ofender sensibilidades locais e, claro, garantir acesso àquela bilheteria monumental. Uma verdadeira lição de “valores universais”… desde que sejam lucrativos e aprovados pelo Partido.

Eis que surge Branca de Neve. Não a animação clássica que definiu gerações (essa, aparentemente, era problemática demais para os padrões modernos), mas a sua versão live-action, repaginada, “empoderada” e estrelada por Rachel Zegler. Ah, Rachel! A jovem atriz que, com um candor quase comovente (ou seria apenas falta de filtro?), decidiu nos brindar com suas opiniões sinceras sobre o quão “esquisito” e “stalker” era o príncipe do conto original e como a nova Branca de Neve não precisa de um homem para salvá-la, pois ela será a líder que o pai lhe ensinou a ser. Que tapa na cara do patriarcado de 1937! E que timing perfeito para expressar desdém pela obra que, ironicamente, lhe deu o maior papel da carreira até agora. Uma demonstração de independência? Ou talvez um exemplo clássico daquela humaníssima característica de morder a mão que alimenta, enquanto se tenta vender o produto dessa mesma mão?

Disney Made in China

O mais delicioso dessa saga toda é a possível reviravolta: depois de anos se curvando para Pequim, alterando conteúdo para não melindrar censores que veem fantasmas subversivos em ursinhos de pelúcia, a Disney pode ter que assistir ao seu novo e melhorado Branca de Neve naufragar justamente na China. Que ironia cósmica! Será que o público chinês, após anos sendo alimentado com blockbusters locais e propaganda nacionalista, simplesmente não está mais interessado na versão “desconstruída” de um conto de fadas ocidental? Ou será que, oh doce paradoxo, as mudanças feitas para agradar a sensibilidade ocidental progressista são justamente o que aliena o público chinês (ou qualquer público que só queria ver uma boa história)?

A sugestão de que a Disney “pode ser forçada a reavaliar sua abordagem” é quase fofa. Pode? Depois de transformar personagens icônicos em veículos para mensagens corporativas e agendas sociopolíticas flutuantes, enquanto simultaneamente tentava aplacar um regime autoritário por dinheiro, talvez a “reavaliação” devesse ser um pouco mais profunda do que apenas “criar conteúdo mais localizado”. Talvez, quem sabe, a humanidade do público – seja ele chinês, americano ou brasileiro – esteja um pouco cansada de ser tratada como um algoritmo a ser decifrado ou uma massa a ser doutrinada. Talvez as pessoas só queiram… boas histórias? Contadas com paixão e respeito, e não com o cálculo cínico de quem tenta agradar a todos e acaba não agradando ninguém de verdade.

Mas não se preocupem. A Disney, em sua infinita sabedoria corporativa e profundamente humana busca por lucro, certamente encontrará outra maneira de nos surpreender. Talvez um Mulan live-action que agrade ainda mais Pequim? Ou quem sabe Branca de Neve ganhe uma sequência onde ela lidera uma startup de tecnologia sustentável? As possibilidades são tão infinitas quanto a capacidade humana de assistir a um império tropeçar em seus próprios pés ambiciosos, com uma pipoca na mão e um sorriso ácido no rosto. É… humano. Profundamente humano.

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