A cultura pop norte-americana é fascinante. Filmes e séries de TV como Matrix, Clube da Luta e American Psycho são aclamados pela crítica, mas também abraçados por um grupo particular: os auto-intitulados “sigma males”.
Esses jovens se identificam com personagens masculinos frios, poderosos e em conflito com a sociedade. Enxergam neles a representação do “homem ideal” – independente, destemido e indiferente às convenções sociais.
Mas será que interpretam corretamente essas obras?
Em American Psycho, Patrick Bateman encarna o executivo narcisista, obcecado por status, dinheiro e aparências. Sua frieza e comportamento psicopático são, na verdade, uma crítica mordaz ao capitalismo selvagem e à competição extrema do mundo corporativo.
Já Tyler Durden, de Clube da Luta, é a personificação da masculinidade tóxica. Sua rebelião violenta é um sintoma da repressão emocional imposta aos homens pela sociedade. A mensagem é clara: essa raiva precisa ser canalizada de forma positiva.
Até Neo, de Matrix, acaba sendo deturpado. Seu despertar e transformação representam a jornada transgênero rumo à autoaceitação. Mas os “red pills” ignoram essas alegorias e só enxergam teorias conspiratórias.
Em comum, esses personagens refletem o descontentamento masculino com as amarras sociais e a carência de propósito. Por isso adquirem status de ídolos. Mas não são exemplos a seguir.
Felizmente, há personagens mais inspiradores, como o policial K de Blade Runner 2049. Solitário e sem esperança, ele descobre um sentido maior para sua existência através de pequenos atos de compaixão.
Que o cinema nos ajude a refletir e buscar versões melhores de nós mesmos. Mas, para isso, é preciso ir além da superfície e interpretar com sensibilidade a mensagem que cada obra tenta passar.