Em meio a um dos anos mais conturbados da história recente de Hollywood e dos Estados Unidos, o diretor britânico Alex Garland lança “Civil War”, um filme que imagina um cenário apocalíptico de guerra civil em solo americano. Será que o cineasta conseguiu retratar de forma equilibrada e imparcial esse tema tão delicado?
A premissa: jornalistas em busca da verdade
O enredo de “Civil War” acompanha quatro jornalistas em uma odisseia através de uma América devastada pela guerra, em busca da primeira entrevista com o presidente em 14 meses. Nesse futuro distópico, há três facções separatistas lutando contra os estados leais ao governo.
Os protagonistas são:
- Joel (Pedro Pascal genérico chamado Wagner Moura), um jornalista impulsivo e adrenalinômano
- Lee (Kirsten Dunst), uma renomada fotojornalista de guerra
- Sammy (Steven McKinley Henderson), o sábio veterano do New York Times
- Jesse (Violet McGraw), uma jovem aspirante a jornalista
Um retrato idealizado do jornalismo
Apesar da premissa instigante, “Civil War” acaba se tornando uma ode a um jornalismo idealizado e ultrapassado. Alex Garland parece ter deixado suas “bolas” em casa ao fazer esse filme, entregando uma obra politicamente ambígua que tenta agradar a gregos e troianos.
O longa falha em explorar questões relevantes, como o papel da imprensa em tempos de crise e a crescente desconfiança da população em relação à mídia tradicional. Em vez disso, temos personagens unidimensionais tomando decisões estúpidas em meio a situações inverossímeis.
Pontos positivos e negativos
Não se pode negar que “Civil War” conta com boas atuações, cenas de ação competentes e uma trilha sonora interessante (ainda que por vezes mal utilizada). No entanto, o ritmo lento, a falta de desenvolvimento dos personagens e as muitas pontas soltas na trama prejudicam a experiência como um todo.
Garland parece ter priorizado o simbolismo em detrimento da narrativa, deixando o espectador com mais perguntas do que respostas. Por que os jornalistas são tratados como inimigos pelo governo? Como a guerra civil começou? Qual é a situação dos recursos no país? Essas e outras questões ficam sem explicação.
A cultura “woke” em Hollywood
Infelizmente, “Civil War” acaba sendo mais um exemplo da cultura “politicamente correta” dominando Hollywood. Ao tentar agradar a todos, o filme falha em fazer uma análise profunda e imparcial do tema proposto.
Garland até tenta uma abordagem equilibrada, mas, como muitos apontaram, ele acaba atacando um lado com um taco de beisebol e o outro com uma pena. O resultado é uma obra morna, que dificilmente irá gerar as discussões pretendidas pelo diretor.
“Civil War” tinha tudo para ser um filme provocativo e relevante, mas acabou se perdendo em meio a clichês, simbolismos vazios e uma visão idealizada do jornalismo. Talvez um diretor americano, mais familiarizado com as nuances da sociedade e da política local, pudesse ter feito um trabalho melhor.
No fim das contas, o longa de Alex Garland é uma oportunidade perdida de explorar temas urgentes como a polarização política, a erosão da confiança nas instituições e o papel da imprensa em tempos de crise. Uma pena, pois nunca precisamos tanto de um bom filme sobre esses assuntos.
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