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Clint Eastwood: o ator mais raiz de Hollywood – e um dos primeiros a destruir a cultura woke

O eterno cowboy politicamente incorreto

Por Claudio Dirani

O eterno cowboy politicamente incorreto

Já deu para perceber que Denzel Washington é um dos atores preferidos do Se Liga Nerd. As matérias mais recentes sobre o astro nascido em Mount Vernon, Nova York, trouxeram comentários interessantíssimos sobre alguns dos ótimos longas estrelado por ele, além de uma completa análise de como o ator nunca se curvou para as campanhas da esquerda em Hollywood, e que hoje são condensadas na (decadente) cultura woke.

Outra figura proeminente do showbiz que sempre manteve sua integridade e procurou evitar campanhas políticas e teses de vitimismo é o lendário Clint Eastwood.

 

No final de agosto, apresentamos uma novidade que combina boas e más notícias: a aproximação de mais um filme sob sua direção, e sua inevitável aposentadoria aos 94 anos de idade – embora ainda exale vitalidade, disposição e talento.

Enquanto isso não acontece, vale repetir a experiência que fizemos com Denzel. Isto é: comprovar que Clint sempre foi e continuará sendo alérgico à lacradora Hollywood. 

 

Acompanhe!

 

Clint puxa o gatilho: “em homenagem aos cowboys mortos”

Astro de incontáveis clássicos do velho oeste, em especial os inesquecíveis Por um Punhado de Dólares (1964), O Estranho Sem Nome (1973) e Três Homens em Conflito (1968), Clint Eastwood se tornou um especialista (e amante do gênero). A celebração deste passado aparece em Os Imperdoáveis – produção de 1992 indicada a 9 Oscar pela Academia, sendo 1 deles vencido pelo próprio Clint como Melhor Diretor.

Dito isso, mais ou menos 50 anos atrás, o ator foi convidado a participar da cerimônia do Oscar de 1973, após Charlton Heston cancelar sua presença. Antes dele, entretanto, quem esteve no auditório Dorothy Chandler Pavilion, em Los Angeles, experienciou um momento severamente desconcertante.

Foi quando a nativa Sacheen Littlefeather subiu ao palco no lugar de Marlon Brando para explicar o motivo de sua recusa da estatueta de Melhor Ator por seu trabalho em O Poderoso Chefão: o desrespeito de Hollywood com indígenas como ela.

 

Mais tarde, foi a vez de Clint entrar em cena e quebrar o politicamente correto. Com um sorriso irônico, o já tarimbado ator não perdeu a piada:

 

“Hmmm não tenho certeza se devo entregar esse prêmio, em razão de todos os cowboys mortos nos filmes de John Ford ao longo dos anos”, declarou Eastwood, transpirando sarcasmo.

 

Clint Eastwood: “É um momento triste para os EUA”

Clint e Reagan em 1988

Clint Eastwood já foi um republicano ferrenho. Porém, com a idade avançando, o militar reservista optou por deixar as campanhas de lado, mesmo tendo, um dia, assumido a cadeira de prefeito. Sim. 

Logo após contracenar com a filha Alison em Agente da Corda Bamba (1984) e brilhar nos épicos Cavaleiro Solitário (1985) e O Destemido Senhor da Guerra (1986), o hoje libertário Clint East ganhou 60% do total de votos para assumir a prefeitura da pequenina Carmel. 

A vitória nas urnas (pelo partido Republicano), rendeu a Clint um inesperado telefonema do então presidente, Ronald Reagan, assim relatado pelo ator anos depois:

 

“O presidente me ligou e usou uma das minhas falas (em Três Homens Em Conflito) – ‘Faça o meu dia’. Eu devolvi o agradecimento com um trecho de seus discursos sobre ‘tirar o estado de nossas costas’”, recordou.

 

Décadas mais tarde, exatamente em 2016, Clint Eastwood foi parar nas garras da jovem legião de wokes que costumava a formar a mídia tradicional. Mesmo sem apoiar Donald Trump – e até criticá-lo – o cineasta não perdoou a campanha massiva da esquerda contra o futuro presidente dos Estados Unidos:

 

Sim, ele (Trump), já disse um monte de tolices. Só que todo mundo, incluindo a imprensa, está tentando fazer disso uma grande maldição, como se ele fosse racista. Bem eu digo…pare com isso. Tente superar. É um momento muito triste para os Estados Unidos!”, retalhou.

 

Gran Torino atropela a cultura woke

Nem parece, mas o excelente Gran Torino – estrelado e dirigido por Eastwood – chegou às telas em 2008. Ou seja: alguns anos antes do auge da cultura woke nos Estados Unidos e resto do planeta.

 

Com relativo baixo orçamento (US$ 25 milhões), a produção da Warner Bros. foi um sucesso de crítica e público, assinalando mais de US$ 270 milhões nas bilheterias domésticas e internacionais. Além disso, o drama roteirizado por Nick Schenk que expõe as idiossincrasias do veterano de guerra Walt Kowalski (Eastwood), chegou a entrar na lista dos 10 melhores filmes do ano – apesar de ser sumariamente ignorado pela Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de Hollywood.

 

Os motivos são fáceis de entender. A história é repleta de diálogos politicamente incorretos e traz um Clint raiz, sem frescura, mostrando as possibilidades de convivência do americano com os imigrantes – mas sem palestrinhas e mi mi mi.

 

Preste atenção em algumas das frases do protagonista em Gran Torino:

 

“Acho que você é um virgem de 27 anos, super educado, que gosta de segurar a mão de velhinhas supersticiosas e prometer a elas vida eterna” (ao se referir ao jovem padre da região periférica de Detroit, Janovich.

 

“Eu faço um buraco na sua cara e então entro em casa… e durmo como um bebê. Pode contar com isso. Costumávamos empilhar idiotas como você a cinco pés de altura na Coreia... usamos você como sacos de areia” (ao encarar um membro da máfia local, Smokie).

 

Ou, por fim, uma das falas mais emocionantes, que criticam os assassinatos (uma prova de que Clint Eastwood tem sua própria independência ideológica):

 

“Quer saber como é matar um homem? Bem, é horrível pra caramba, é isso. A única coisa pior é ganhar uma medalha… por matar um pobre garoto que queria desistir, só isso. É, um pequeno idiota assustado como você. Eu atirei no rosto dele com aquele rifle que você estava segurando aí há um tempo. Não passa um dia que eu não pense nisso, e você não quer isso na sua alma”.

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