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Desafios Morais Sombream a Nova Jornada do Zorro no Prime Video

A ficção desempenha um papel significativo na nossa compreensão do mundo, seja desvendando complexidades histórico-sociais ou proporcionando uma escapada para a retribuição fantasiosa de injustiças passadas. Zorro, por décadas, foi o herói do escapismo, enfrentando autoridades malévolas em cenários latino-americanos e entregando catarse anticolonialista e antiautoritária. Contudo, a mais recente incursão do personagem no Prime Video busca complicar sua narrativa, inserindo dilemas morais complexos e sistemas sociais intricados.

Diferentemente das narrativas anteriores, a nova série posiciona Zorro, interpretado por Miguel Bernardeau, em uma Califórnia dividida, onde várias facções lutam por suas visões do futuro e da justiça. O Governador, vilão tradicional, persiste, mas a trama se desenrola entre grupos que buscam separar ou unir a Califórnia aos EUA, devolvê-la aos nativo-americanos, e até mesmo imigrantes chineses e russos entram na equação.

O roteirista Carlos Portela mergulha Zorro em dilemas morais e questionamentos sobre justiça, tornando-o um agente da lei ambíguo. A série, no entanto, vacila ao esvaziar o papel do herói como símbolo de justiça, deixando o espectador se perguntando: justiça para quem? A tentativa de explorar complexidades morais acaba por comprometer a narrativa, sem proporcionar a catarse esperada do Zorro justiceiro da classe oprimida ou uma análise política coesa.

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Apesar disso, a produção apresenta virtudes estéticas notáveis. O diretor Javier Quintas destaca-se ao evidenciar o orçamento generoso, criando uma Los Angeles convincente e visualmente atraente. As escolhas visuais, como os horizontes pintados em papelão e os becos iluminados em neon rosa, oferecem uma abordagem refrescante e estilizada.

Quando se trata de ação, Zorro é apresentado como uma figura das sombras, com efeitos sonoros exagerados, em uma abordagem que lembra Batman. As cenas de romance, principalmente entre Don Diego e Lolita, são tratadas com uma sensibilidade folhetinesca, destacando-se como momentos emocionantes da trama.

No entanto, a série perde a oportunidade de aprofundar a complexidade moral de Zorro, optando por um meio-termo insatisfatório. A trama se distancia do potencial de explorar as consequências do vigilantismo em um contexto histórico-político mais realista. A frustração é evidente em episódios como “El Mito“, onde a série se destaca ao abordar exageros literários sobre os feitos heroicos de Zorro.

Em última análise, a nova jornada de Zorro parece condenada a inadequações, tentando martelar um parafuso solto. O esforço para complicar a moralidade do herói resulta em uma narrativa que, apesar de suas virtudes estéticas, perde o equilíbrio entre a fantasia escapista e uma exploração mais profunda das complexidades morais e sociais. Resta aos espectadores decidir se preferem o Zorro clássico ou estão dispostos a abraçar essa nova e sombria iteração. O que você acha?

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