Em um exemplo cristalino do que muitos consideram obsessão da mídia com Donald Trump, o San Francisco Chronicle desenterrou uma controvérsia de três décadas atrás sobre sete segundos de filme como se fosse notícia urgente. O alvo: o breve cameo do ex-presidente em “Esqueceram de Mim 2: Perdido em Nova York”, filme natalino de 1992 que continua popular nas festas de fim de ano — mas estamos em abril.
Guerra de narrativas: diretor e Trump apresentam versões opostas
A suposta “notícia” gira em torno de declarações recicladas do diretor Chris Columbus, que descreveu a participação de Trump como um “pesadelo” e uma “maldição” que ele desejaria apagar da história. Columbus reiterou uma alegação feita originalmente em 2020: que o então empresário teria “intimidado” sua entrada no filme, estabelecendo como condição para filmagens no Plaza Hotel (de sua propriedade na época) a inclusão de sua aparição na produção.
A versão de Trump, no entanto, contradiz frontalmente essa narrativa. Em resposta incisiva, o ex-presidente afirmou: “Eu estava muito ocupado e não queria fazer isso. Eles foram muito simpáticos, mas, acima de tudo, persistentes. Eu concordei e o resto é história!” Trump acusa Columbus de distorcer os fatos três décadas depois: “Nada poderia estar mais longe da verdade. Esse cameo ajudou a tornar o filme um sucesso… É só mais um cara de Hollywood do passado procurando um rápido golpe de publicidade de Trump para si mesmo!”
Jornalismo ou teatro político? A mídia tradicional e a fórmula Trump
O timing da reportagem levanta sérias questões sobre motivações editoriais. Não estamos na temporada natalina, não há aniversário relevante do filme sendo celebrado, nenhum relançamento está programado, e Columbus não está em turnê promocional de novos projetos. A única explicação plausível para ressuscitar essa história parece ser a menção ao nome de Trump.
Para veículos como Variety, Washington Post e Rolling Stone, que rapidamente repercutiram a “notícia”, o padrão tornou-se evidente: desenterrar qualquer anedota histórica envolvendo Trump, independentemente de sua relevância atual, e transformá-la em manchete. A fórmula é simples e previsível: encontre uma conexão com Trump (por mais tênue que seja), adicione uma conotação negativa e deixe que a máquina de engajamento das redes sociais faça o resto.
Esta reciclagem de uma história já contada sobre sete segundos de filme infantil gravados há três décadas expõe o que críticos consideram uma estratégia desesperada de mídia tradicional em declínio de audiência. Para os apoiadores do ex-presidente, representa mais um exemplo de cobertura tendenciosa; para seus críticos, uma distração de questões substantivas; e para observadores neutros, um questionamento sobre o que realmente constitui notícia no ambiente midiático atual.
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