Sabe aquele momento em que você percebe que a Pixar não faz filmes para crianças, mas sim sobre a infância? Elio, recém-chegado aos cinemas brasileiros, é mais uma prova de que o estúdio continua sendo mestre em disfarçar terapia como entretenimento.
A história é aparentemente simples: um garoto órfão, acolhido pela tia após perder os pais, se refugia na astronomia para lidar com o luto. Mas quando Elio intercepta uma mensagem extraterrestre e é abduzido para o “Comuniverso”, descobrimos que fugir para as estrelas às vezes é a única maneira de encontrar nosso lugar na Terra.
A Fórmula Secreta da Pixar: Trauma + Fantasia = Catarse
Desde Toy Story (1995), a Pixar perfeccionou uma receita emocional que deveria vir com aviso: “Este filme pode causar reflexões profundas sobre sua própria vida”. Elio segue essa tradição, mas com uma twist intergaláctica que faria Carl Sagan chorar de alegria.
O protagonista não é só mais um garoto deslocado – ele é toda criança que já se sentiu alienígena no próprio planeta. A NASA vira refúgio, o espaço vira lar, e de repente estamos todos questionando onde realmente pertencemos.
Como disse Juliana Paiva, que estreia na dublagem brasileira como tia Olga: “É uma aventura infantil, mas é um filme de gente grande. A Disney/Pixar faz isso com a gente.”
Quando Diplomacia Intergaláctica Encontra Drama Familiar
A verdadeira genialidade de Elio não está na espetacular animação (que, aliás, Juliana Paiva recomenda assistir em 3D) ou nos aliens politicamente complexos. Está em como o filme usa conflito cósmico para falar de conflitos domésticos.
Elio é confundido com o líder da Terra e precisa mediar uma guerra alienígena – basicamente, um garoto que mal consegue processar a própria perda familiar agora tem que salvar planetas inteiros. É metáfora pura: quantas vezes crianças são forçadas a carregar responsabilidades adultas depois de traumas?
A tia Olga, dublada por Juliana Paiva, representa algo revolucionário para a Pixar: diferentes configurações familiares. Não é a mãe biológica nem a figura paterna forte – é uma mulher da NASA que de repente se vê criando um sobrinho enlutado. É maternidade não-planejada, é família reconstruída, é realidade brasileira em 2025.
A Dublagem Brasileira Que Merece Aplausos
A escolha dos dubladores brasileiros foi cirúrgica. Juliana Paiva, conhecida pelas novelas da Globo, traz uma naturalidade maternal que foge do estereótipo da “tia substituta”. Júlia Ribas e Márcio Marconato completam um elenco que entende a responsabilidade do que estão fazendo.
Como observou Márcio Marconato: “A Pixar traz sempre histórias muito humanas, divertidas… você sabe que vai fazer um filme envolvente, com muita ação e mensagens de amizades.”
E ele está certo. A Pixar não faz filmes – faz time capsules emocionais. Décadas depois, você ainda lembra da primeira vez que assistiu Procurando Nemo ou Divertida Mente. Elio promete ser mais uma dessas memórias afetivas que durarão gerações.
Por Que Elio Chega na Hora Certa
Em 2025, quando discutimos saúde mental infantil, representatividade familiar e lugar no mundo, Elio não é apenas entretenimento – é ferramenta de autoconhecimento.
O filme sugere que às vezes precisamos ir para o espaço (literal ou metaforicamente) para entender nossa própria órbita. Que famílias se formam de maneiras inesperadas. Que crianças órfãs não precisam de pena, mas de espaço para crescer – e talvez contato alienígena ajude no processo.
Como definiu perfeitamente Juliana Paiva: “A gente descobre que o filme é uma sessão de terapia em grupo, porque tem o encantamento da infância… mas também por entender que é uma aventura sobre encontrar seu lugar no mundo, ressignificar fatos quando a vida te dá uma rasteira.”
O Veredicto Cósmico
Elio prova que a Pixar continua sendo o estúdio que mais entende a infância – incluindo suas partes mais dolorosas. É um filme que funciona como nave espacial: te leva para longe da realidade para, paradoxalmente, te fazer entender melhor o planeta Terra.
Recomendação especial: Assistam em 3D, como sugeriu Juliana Paiva. Às vezes, para processar emoções terrestres, precisamos de uma perspectiva verdadeiramente extraterrestre.
E se você sair do cinema com vontade de olhar para o céu e mandar um “oi” para qualquer vida que exista lá fora, bem… a missão da Pixar foi cumprida mais uma vez.
Elio está em cartaz nos cinemas brasileiros.