Parece que a onda de “reinvenções” em Hollywood não conhece freio — e agora a mira está na clássica franquia A Pantera Cor-de-Rosa. O atrapalhado inspetor francês Jacques Clouseau, imortalizado por Peter Sellers nos anos 60 e mais tarde por Steve Martin, vai ganhar uma nova versão… desta vez com Eddie Murphy no papel. E sim, como o próprio fez questão de sublinhar em entrevista: “Ele é negro. Com certeza.”
Murphy revelou o projeto no The Today Show, deixando escapar que já está em meio às gravações de Shrek 5 e que assumirá o posto de Clouseau. Questionado se o personagem será francês, o ator brincou dizendo que pode até ser haitiano, mas não deixou dúvidas sobre a cor da pele. O detalhe é que, nesse “novo normal” de Hollywood, o debate sobre roteiro, humor ou respeito ao material original parece secundário — o foco é o carimbo identitário.
Criado por Blake Edwards e eternizado por Sellers, Clouseau era um desastre ambulante com sotaque francês carregado, capaz de transformar investigações em um caos hilariante. Depois da morte de Sellers em 1980, a MGM tentou ressuscitar o personagem com Steve Martin nos anos 2000, em filmes que dividiram a crítica. Agora, a fórmula passa pelo filtro contemporâneo, em que o chamado race swap (troca de etnia de personagens já estabelecidos) virou quase obrigação contratual.
Não é a primeira vez que Murphy encara uma reinvenção de clássicos. Ele já estrelou remakes de Dr. Dolittle e O Professor Aloprado — ambos sucessos comerciais —, mas também já vimos tentativas desastrosas de “reviver” marcas queridas (alguém se lembra do fiasco Dolittle com Robert Downey Jr.?). A diferença é que, hoje, qualquer mudança vem acompanhada de uma narrativa política e cultural que coloca a representatividade acima da essência da obra.
Entre Shrek, um filme biográfico sobre George Clinton e a comédia de ação The Pickup, Murphy segue onipresente. Mas para os fãs que cresceram com Clouseau, resta a pergunta: será que o espírito original sobreviverá… ou este será só mais um caso de Hollywood riscando “fidelidade” e “coerência” da lista, em troca de mais um aplauso no tapete vermelho da virtude?