Gene Hackman: a misteriosa despedida de “Lex Luthor”

Gene Hackman

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O que sabemos até o momento sobre a morte do ator

Quando alguém como Gene Hackman nos deixa, ele não morre de verdade. Principalmente, quando a causa de sua partida ainda permanece um mistério. 

Ao ser anunciada a morte do ator, aos 95 anos, após ser encontrado já sem vida ao lado da mulher, a pianista Betsy Arakawa, de apenas 63 anos, em sua residência na cidade de Santa Fé, Novo México, as atenções se voltam agora para as investigações que apontaram a possível causa de ambos falecimentos.

As primeiras reportagens sobre o caso não dão quaisquer pistas. Segundo o xerife Adan Mendoza, os corpos do casal foram encontrados ao lado de seu cachorro na quarta-feira (26).


“Tudo que posso dizer é que estamos ainda nas investigações preliminares, aguardando uma decisão judicial para revistar o local. O que garantimos à comunidade de Santa Fé é que não há qualquer sinal de perigo”, informou Mendoza, se referindo a um possível vazamento de gás proveniente da residência dos Heckman na região de Old Sunset Trail.

 

O primeiro ilustre personagem do cinema a se manifestar sobre a morte de Gene Hackman foi o não menos lendário Francis Ford Coppola. 

 

“A perda de um grande artista, sempre causa tanto de luto quanto de celebração: Gene Hackman, um grande ator, inspirador e magnífico em seu trabalho e complexidade. Lamento sua perda e celebro sua existência e contribuição”, escreveu o diretor de O Poderoso Chefão e A Conversação – este último, vencedor do Grand Prix de Cannes em 1975, graças à impecável atuação de Hackman como o protagonista de um longa que influenciou milhares de outras produções do gênero de espionagem.

 

Gene Hackman: as atuações que marcaram gerações

Em sua longa carreira iniciada nos anos 60, Eugene Allen Hackman – um nativo da cidade californiana de San Bernardino em 30 de janeiro de 1930 – Gene colecionou inúmeros prêmios por suas brilhantes interpretações, incluindo duas estatuetas da Academia em Operação França (Oscar de Melhor Ator recebido na cerimônia de 1975)  e Os Imperdoáveis (Melhor Ator Coadjuvante – Oscar de 1993).

A lista de trabalhos memoráveis é bem longa, mas não se resume aos que deram a Hackman seus merecidos prêmios ou nomeações, como os clássicos Mississipi em Chamas (1989), Bonnie & Clyde (1968), De Volta Para o Inferno (1983) e Uma Ponte Longe Demais (1977). 

 

Lex Luthor: o grande vilão de Hackman

Gene Hackman conquistou seu lugar no Olimpo da cultura pop ao aceitar o convite para interpretar talvez o vilão mais famoso das HQs ao lado de Coringa: o maquiavélico Lex Luthor. 

Sua incrível performance – em Superman: o Filme (1978) foi uma escolha pessoal do lendário diretor Richard Donner, que teve a missão de convencer Hackman a se livrar de um de seus grandes “amores”. 

Muito mais do que raspar a cabeça para se espelhar no mentecapto inimigo de Kal-El, foi uma tarefa árdua para o ator dar adeus a seu indefectível bigode, uma marca registrada de Gene Hackman em quase todas suas performances.

Em 2021, ele relembrou seu trabalho em Superman, ao se despedir de Richard Donner logo após o falecimento do amigo, aos 91 anos.

 

“Eu apareci para o primeiro dia de testes de maquiagem para o Superman com um belo bigode de Lex Luthor que eu deixei crescer para o papel…mas ele (Donner) me disse sorrindo: “o seu bigode tem de ir embora”. Após negociar comigo, ele comemorou o último golpe de navalha em meu bigode, cortando o dele em troca. Dick tornou tudo muito divertido – e por isso que os filmes ficaram ótimos”, recordou Hackman.

 

O entusiasmo de Hackman sobre Luthor em Superman – O Filme não se repetiu na sequência, lançada em 1980, quando Richard Lester assumiu o lugar de Donner na direção. O longa também enfrentou diversos problemas durante a produção. Ao contrário de Richard Donner, Dick Lester quis fazer Superman II de uma forma mais rápida, com menos efeitos visuais. 

 

Hackman não aprovou a substituição do amigo (demitido após desentendimentos com executivos da Warner), o que levou a equipe a usar imagens de arquivos registradas no filme de 1978. 

Os problemas de Superman II – que já havia sido quase finalizado ante da saída do diretor original – seriam resolvidos apenas décadas mais tarde, quando Richard Donner foi convocado para produzir sua própria versão da sequência, disponível atualmente na plataforma de streaming MAX.

 

Gene Hackman: a despedida das telas

Em 2004, Hackman decidiu sair de cena. Seu último filme de destaque foi a comédia Os Excêntricos Tenenbaums, rodado três anos antes, ao lado de Owen Wilson, Ben Stiller, Bill Murray. Gwyneth Paltrow e Luke Wilson.

Em uma entrevista concedida à revista britânica Empire, em 2009, Hackman justificou seu aposentadoria, em tom dramático:

“A gota d’água foi, na verdade, um exame cardiológico que fiz em Nova York. O médico me avisou que meu coração não estava no tipo de condição que eu deveria colocá-lo sob qualquer estresse”, ressaltou,

“Não dei uma entrevista coletiva para anunciar a aposentadoria, mas sim, não vou mais atuar. Disseram-me para não dizer isso nos últimos anos, caso surgisse algum papel realmente maravilhoso, mas realmente não quero mais fazer isso”, declarou o ator, em seu adeus à Hollywood.

 

Apesar de abandonar a arte que mais amava, Gene Hackman trocou as atuações para se dedicar aos livros. 

 

Não me vejo como um grande escritor, mas realmente gosto do processo, especialmente neste livro. Tivemos que fazer muita pesquisa sobre ele para acertar alguns fatos”, ao divulgar o best seller sobre a Guerra Civil Americana Escape From Andersonville, em 2009.

“É estressante até certo ponto, mas é um tipo diferente de estresse. É um que você meio que consegue administrar, porque você está sentado ali sozinho, em vez de ter noventa pessoas sentadas esperando você entretê-las!”, completou.

Ao todo, Hackman produziu três livros em parceria com o arqueólogo Daniel Lenihan: Justice For No One (2006), Escape From Andersonville (2009) e Wake of the Perdido Star (2011), além de duas obras solo: Payback at Morning Peak (2011) e Pursuit (2013).

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