Nos primórdios do Universo Expandido de Star Wars, antes de a Lucasfilm ser vendida para a Disney em 2012, o próprio George Lucas aparentemente pretendia levar a saga por um caminho mais sombrio e, ouso dizer, autêntico. Muitos fãs, naquela época, já sentiam que algo grande estava prestes a ocorrer. Enquanto a série animada The Clone Wars seguia firme na Cartoon Network, a vertente editorial se calava de forma suspeita após o fim de Legacy of the Force. Na Dark Horse, editora responsável pelos quadrinhos, vimos títulos explorando desde as origens dos Jedi em Dawn of the Jedi até a distopia futurista de Legacy II.

Uma pausa estranha no Universo Expandido
No campo literário, em vez das grandes sagas a que estávamos acostumados, recebemos apenas alguns romances avulsos, cada qual focado em um personagem e numa época bem anterior à saga principal. Parecia um contraste gritante se comparado às tramas de várias fases que exploravam a fundo a galáxia muito, muito distante. Na Dark Horse, houve até uma padronização visual dos títulos mensais, sugerindo que algo significativo estava para acontecer — talvez a empresa quisesse preparar o terreno para um novo e grandioso capítulo.
Star Wars: Underworld e 1313 — O futuro que não chegou
Enquanto isso, a LucasArts lidava com mudanças constantes na liderança, adiando prazos de lançamento e cancelando projetos ambiciosos. Foi nesse contexto que surgiram boatos de Star Wars: Underworld, série que mergulharia no submundo criminoso da galáxia. Anunciada no Celebration III em 2005, prometia um tom bem mais sombrio, mostrando a face marginal de Star Wars que raramente víamos. George Lucas chegou a falar abertamente sobre roteiros inovadores que poderiam revolucionar a TV — ele mesmo previa que a audiência televisiva, no futuro, superaria o público dos cinemas.

Para realizar essa visão, Lucas experimentou tecnologias que mais tarde serviriam de base para o chamado “Volume” (hoje usado em séries como The Mandalorian), tentando viabilizar essa narrativa adulta e repleta de ação sem explodir o orçamento. Em sete anos, cinquenta roteiros foram elaborados, muitos deles escritos por Ronald D. Moore (Battlestar Galactica, Star Trek), trazendo uma proposta sem dúvida mais madura para a saga.
Em paralelo, outro projeto seguia em desenvolvimento: Star Wars: 1313. O jogo se passaria nos becos mais escusos de Coruscant, acompanhando a ascensão de um jovem caçador de recompensas — depois revelado como o próprio Boba Fett. Essa narrativa exploraria a zona cinzenta entre Império e Rebelião, mostrando mercenários e criminosos que lutavam não por ideais, mas pela sobrevivência e lucro.
A “compra que mudou tudo”
Então, em 2012, veio a notícia que sacudiu o fandom: a Disney compraria a Lucasfilm. E, com isso, muita coisa se perdeu ou foi engavetada em nome de uma reformulação corporativa que, como todos vimos depois, focaria mais na pasteurização e no marketing abrangente, cada vez mais subserviente a uma lógica “woke” e aos ditames de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão), tão defendidos no meio corporativo atual. Projetos com tons mais sombrios deram lugar a produções que tentavam agradar a todos, muitas vezes atropelando nuances e histórias que deixaram saudade.
Claro, sempre há quem argumente que essas mudanças “tornaram Star Wars mais inclusivo”. Mas é inegável que o tom adulto e realista das ideias originais de Lucas foi deixado de lado para dar lugar a uma versão mais branda, onde a narrativa politicamente correta muitas vezes sobrepõe-se à criatividade original que marcou a saga.
O que teríamos visto se Star Wars: Underworld e 1313 tivessem chegado às telas e consoles? Talvez uma era ousada, capaz de apresentar a galáxia em um nível de profundidade até então inexplorado. Infelizmente, esse futuro ficou apenas nos rascunhos — e muitos fãs, especialmente os que apreciavam o lado menos iluminado da Força, sentem a perda até hoje.
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