Em um movimento surpreendente que poderia ser retirado diretamente de um roteiro de Hollywood (ou talvez de um videogame), o governo dos Estados Unidos está investindo milhões de dólares na indústria de videogames da Ucrânia. Mas não se trata apenas de diversão e jogos; o objetivo é combater a “desinformação e propaganda russa”. Será que a Casa Branca está trocando Hollywood pela Ucrânia como o novo epicentro da guerra cultural?
Guerra cultural 2.0: o campo de batalha agora é digital
Em uma revelação digna de um “easter egg” em um jogo, o jornalista Nathan Grayson, do site Aftermath, descobriu que o Departamento de Estado dos EUA abriu, em 9 de abril, inscrições para duas bolsas inéditas relacionadas a “desinformação em videogames”. A primeira, a bolsa “Designing for Democratic Resilience and Renewal”, oferece um milhão de dólares para o desenvolvimento de um jogo que “aumente o ceticismo dos jogadores em relação à propaganda e desinformação estrangeira, aumentando a alfabetização midiática e a segurança digital dos jogadores”. A segunda, com um valor mais modesto de 250 mil dólares, visa criar equipes e torneios ucranianos de eSports para combater a desinformação.
eSports e jogos: as novas armas da diplomacia?
De acordo com o Departamento de Estado, a ideia é “aproveitar a popularidade e penetração dos videogames na Europa Oriental” para treinar atletas de eSports na Ucrânia. Além do treinamento tradicional, esses atletas receberão treinamento em combate à desinformação e resolução de conflitos, para enfrentar a propaganda estrangeira em espaços competitivos de jogos online.
“United with Ukraine Game Jam”: a união faz a força (e o jogo)
Duas semanas após a abertura das primeiras bolsas, o Departamento de Estado lançou uma terceira iniciativa, oferecendo 800 mil dólares para a criação de um “United with Ukraine Game Jam”. A ideia é usar a “ciência do prebunking” (desmascarar informações falsas antes que elas se espalhem) e a popularidade dos videogames para criar jogos que aumentem o ceticismo dos jogadores em relação à propaganda e desinformação.
Jogos e desinformação: uma relação complexa
Em resposta às perguntas de Grayson, um funcionário do Departamento de Estado afirmou que a Rússia já usa jogos para espalhar propaganda e desinformação. As bolsas, portanto, visam capacitar “contadores de histórias, desenvolvedores e jogadores ucranianos a reconhecer a propaganda e a desinformação que são comumente espalhadas por meio de jogos e a usar suas habilidades de design e jogo para combatê-la”.
O futuro dos jogos na Ucrânia: diversão e resistência
O funcionário também destacou a importância dos videogames na Ucrânia, especialmente para as crianças, que muitas vezes não podem brincar ao ar livre devido à guerra. “A capacidade de se comunicar em jogos e espaços adjacentes a jogos é um vetor importante para engajar públicos difíceis de alcançar, visados por narrativas de desinformação, especialmente jovens russos, para avançar nossos esforços para combater a desinformação e propaganda russa”.
Um investimento sem precedentes em jogos e alfabetização midiática
Embora não sejam as primeiras iniciativas do tipo, as três bolsas representam o “maior investimento até o momento em jogos e alfabetização midiática” do governo dos EUA, segundo o funcionário. As inscrições para as duas primeiras bolsas já se encerraram em 22 de maio, mas a bolsa para o “United with Ukraine Game Jam” ainda está aberta até 12 de junho.
O futuro dos jogos: mais do que entretenimento
Essa iniciativa levanta questões interessantes sobre o papel dos videogames na sociedade. Será que eles podem ser mais do que apenas entretenimento? Será que podem ser usados para promover a democracia, combater a desinformação e até mesmo influenciar o curso de uma guerra? Só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: o governo dos EUA está apostando alto na indústria de games ucraniana, e o mundo está de olho no resultado dessa partida.