Greve de Hollywood e criadores digitais: Por que Hollywood tem medo do YouTube e TikTok

Mr. Beast no YouTube, mostrando seu rosto com carros ao fundo, simbolizando a força e o impacto dos criadores de conteúdo online na indústria do entretenimento.

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A indústria do entretenimento está passando por uma transformação profunda, impulsionada tanto por mudanças tecnológicas quanto por tensões trabalhistas. A recente greve dos roteiristas em Hollywood, liderada pelo Writers Guild of America (WGA), lançou uma nova luz sobre a luta dos roteiristas, a ascensão do conteúdo gerado pelo usuário (UGC) e a relação entre criadores de conteúdo independentes e a indústria tradicional de entretenimento.

Certamente a greve dos roteiristas de 2023 vem na esteira de uma série de reclamações associadas ao aumento do streaming. Essas reclamações incluem temporadas de TV mais curtas, salas de roteiristas menores, pagamentos residuais minúsculos e o medo do uso futuro de IA no processo de escrita.

Dessa forma a ação dos roteiristas ecoou em todo o mundo, incluindo a Nova Zelândia, onde as reservas em instalações de produção estão secando. A greve também chamou a atenção para o papel crítico que os roteiristas desempenham na indústria, destacando a necessidade de compensação justa e reconhecimento.

Créditos da Imagem: Cindy Ord / Getty Images

A Ascensão do Conteúdo Gerado pelo Usuário

Ao mesmo tempo em que a greve se desenrola, o cenário da mídia está mudando rapidamente. A ascensão do conteúdo gerado pelo usuário, particularmente em plataformas como TikTok e YouTube, está desafiando o status quo.

Finalmente o YouTube, o maior canal de vídeo do mundo, agora fura a greve todos os dias.  De fato com quase metade dos espectadores dos EUA assistindo pelo YouTube em suas TVs, a plataforma superou até mesmo a Netflix em termos de visualizações totais.

Contudo a mudança para o UGC é parte de uma tendência de longo prazo, impulsionada pela acessibilidade da tecnologia e pela preferência do público por conteúdo mais específico e individualizado. Consequentemente os dias de “momentos compartilhados” na mídia tradicional estão cedendo espaço para uma cultura de nicho, onde 55% dos espectadores da Geração Z assistem a conteúdo que “ninguém mais que conhecem pessoalmente está interessado”.

Ninguém sabe quanto tempo essa greve dos roteiristas vai durar. (Foto: Getty / Tratamento: Tina Tiller)

Criadores de Conteúdo e a Greve: Solidariedade e Desafios

Contudo a linha entre Hollywood e a criação de conteúdo independente está cada vez mais tênue. Entretanto, mais de 115 criadores, com um total de 80 milhões de seguidores, prometeram não furar a greve durante a greve da SAG-AFTRA e WGA.

Em suma a iniciativa “Labor Over Likes” é um exemplo de como os criadores estão se solidarizando com os roteiristas e atores em greve. Contudo, a iniciativa também busca educar os criadores sobre seu papel na luta trabalhista mais ampla e os riscos potenciais de trabalhar com estúdios em greve.

Um Futuro Incerto

Por outro lado, a greve dos roteiristas e a ascensão do UGC destacam uma indústria em fluxo. Certamente a luta pelos direitos dos trabalhadores está em conflito direto com as mudanças tecnológicas e culturais que estão reformulando a maneira como consumimos entretenimento.

Em contraste a greve continua, a ameaça da tecnologia – especialmente a possibilidade de substituição por IA e a competição com o UGC – paira no horizonte. A indústria do entretenimento pode estar à beira de uma mudança sísmica, com poder e audiência se deslocando para plataformas tecnológicas gigantes como o YouTube.

Em particular a questão permanece: o que o futuro reserva para os roteiristas, criadores de conteúdo independentes e a própria indústria do entretenimento? A resposta pode depender da forma como essas forças complexas e interconectadas continuam a interagir e evoluir.

Autoritarismo

Da mesma forma, o autoritarismo dos sindicatos, em particular o SAG-AFTRA e o WGA, levanta preocupações sérias em relação ao tratamento dos criadores de conteúdo independentes. Como YouTubers e TikTokers.

Portanto ao pressionar esses criadores a não furar a greve e ao ameaçar o acesso futuro a sindicatos, uma forma de chantagem se manifesta, colocando os criadores em uma posição delicada.

Além disso, a indústria tradicional de Hollywood, que há muito tempo despreza essas novas formas de entretenimento, falha em reconhecer a crescente influência e legitimidade desses criadores no cenário moderno de mídia.

Como resultado a greve, embora destaque questões legítimas e necessárias, também revela uma resistência a mudanças fundamentais na maneira como o entretenimento é produzido e consumido.

Por outro lado a resolução da greve, é provável que a cena de cinema continue a mudar. Contudo, a internet e as plataformas de UGC desempenhando um papel cada vez mais dominante. Certamente a luta dos roteiristas pode ser vista como um último suspiro de uma indústria relutante em se adaptar, enquanto o poder e a influência continuam a se deslocar em direção à democratização da criação de conteúdo e à ascensão de vozes independentes.

Onde Está a Revolução? Provavelmente no Sofá Mais Próximo

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1. SAG-AFTRA (Screen Actors Guild‐American Federation of Television and Radio Artists): Sindicato que representa aproximadamente 160.000 atores, locutores, dubladores, jornalistas e outros profissionais da mídia nos Estados Unidos.
2. WGA (Writers Guild of America): Sindicato que representa roteiristas de filmes, televisão, rádio e outros meios de comunicação nos Estados Unidos.
3. UGC (User-Generated Content): Conteúdo criado por usuários, como vídeos, blogs e discussões em fóruns, em vez de ser produzido por profissionais tradicionais de mídia.
4. TikTok: Plataforma de mídia social para criação e compartilhamento de vídeos curtos, popular entre a geração Z.
5. YouTube: Plataforma de compartilhamento de vídeos, permitindo que usuários carreguem, visualizem e compartilhem vídeos.
6. AMPTP (Alliance of Motion Picture and Television Producers): Aliança comercial que representa as principais produtoras de filmes e programas de televisão.
7. Netflix: Serviço de streaming que oferece uma biblioteca variada de filmes, séries, documentários e outros conteúdos.
8. Hulu: Serviço de streaming de propriedade conjunta da Disney e da Comcast, focado principalmente em streaming de séries de televisão.
9. Gen Z for Change: Organização sem fins lucrativos dedicada a envolver a geração Z em questões políticas e sociais.
10. Labor Over Likes: Movimento liderado por “Gen Z for Change” para mostrar solidariedade com roteiristas e atores em greve, incentivando criadores de conteúdo a não furar a greve
11. Shorts: Funcionalidade do YouTube que permite aos usuários criar vídeos curtos, similar ao TikTok.
12. Nielsen’s Gauge Chart: Gráfico usado pela Nielsen, uma empresa global de medição e análise de dados, para medir a audiência de diferentes canais e plataformas nos Estados Unidos.

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