Feminismo x Star Wars: quem vencerá o duelo?
Por Claudio Dirani
Em tempos de The Acolyte e suas lacradas intergalácticas, um ponto em comum é capaz de unir guerreiros Jedi e discípulos do Sith: os questionamentos sobre a obscura e indecifrável gestão da presidente da Lucasfilm, Kathleen Kennedy.
A transformação sofrida pela executiva – que começou sua carreira como uma promissora figura dos bastidores ao lado de George Lucas e Steven Spielberg – passou quase despercebida pelos fãs.
Contudo, ao longo da produção da última trilogia de Star Wars, a ameaça fantasma não pôde ser mais ignorada.
Em outras palavras, há mais ou menos 7 anos, a própria Kathleen Kennedy deu a letra de que o futuro da saga seria mais sombrio do que o imaginado pelo imperador Palpatine.
Em abril de 2017, na reta final de Os Últimos Jedi – o segundo capítulo da mais recente trilogia – Kathleen Kennedy assumiu em seu discurso que os caminhos da Lucasfilm não seguiram mais os princípios da Força, mas sim, do antigo, arcaico e desnecessário feminismo.
Afinal, Star Wars e seu inigualável sucesso, sempre defenderam valores comuns para todos – sem mergulhar na guerra ideológica.
Durante a sexta edição do Archer Film Festival, em Los Angeles, Kennedy abriu seu coração para os presentes no auditório do Writers Guild Theater com palavras ininteligíveis para a garotada – e veteranos – mais interessados em combates de lightsabers do que palestras.
“A melhor maneira de começar a falar sobre os temas deste festival seria começar com uma citação de Yoda: ‘Faça ou não, não há tentativa.’
Esse é o objetivo da igualdade de género. Não há tentativa, só há fazer. Neste momento, as mulheres representam menos de um quarto de todos os cargos na indústria cinematográfica e menos de um terço de todos os cargos de fala.
A mídia tende a se concentrar na disparidade entre diretores e atores, mas eu gostaria de ver mais discussão em torno de todos os cargos na indústria. Sem uma força de trabalho mais equilibrada, o progresso isolado continuará a ser uma anomalia e não a mudança sísmica que é necessária”, desabafou Kennedy.
Sim, ela avisou. Não dá para dizer que os acontecimentos, a partir desse discurso, foram surpreendentes.
Marcia Lucas detona Kennedy
Ex-exposa do “criador de tudo”, Marcia Lucas foi uma das responsáveis diretas pelo sucesso da franquia. Em 1978, a especialista em dar dinâmica aos longas recebeu o Oscar de Melhor Edição por seu trabalho em Star Wars – Uma Nova Esperança.
Nada mais natural que a mídia fosse investigar suas opiniões sobre a execução da trilogia iniciada em 2015 com O Despertar da Força.
Quem procura, acha. Marcia Lucas foi uma das entrevistadas pelo autor do livro Howard Kazanjian: A Producer’s Life, do especialista em Star Wars, J. W. Rinzler.
Em meio aos comentários sobre o produtor de O Império Contra-Ataca, Lucas deu sua visão sobre o trabalho de Kathleen Kennedy à frente da Lucasfilm. E a cineasta soltou a bomba, sem qualquer filtro:
“Eu gosto de Kathleen. Sempre gostei dela. Ela era muito inteligente e muito brilhante. Mulher realmente maravilhosa (…) Agora que ela dirige a Lucasfilm me parece que Kathy Kennedy e J.J. Abrams não têm a menor ideia sobre Star Wars. E JJ Abrams está escrevendo essas histórias – quando vi aquele filme em que matam Han Solo, fiquei furioso. Fiquei furioso quando mataram Han Solo. Absolutamente, positivamente, não havia rima ou razão para isso. Eu pensei: você não entende a história dos Jedi. Você não entende a magia de Star Wars”, detonou.
A ácida crítica de Marcia Lucas, de forma irônica, coincide com a auto-análise feita por Kennedy, ao relembrar de seu começo ao lado dos criadores das maiores sagas de aventura de todos os tempos.
“Eu jamais imaginaria que, 35 anos atrás, quando eu estava no meio do deserto fazendo Caçadores da Arca Perdida com Steven (Spielberg) e George (Lucas), que um dia eu seria a gestora dessa empresa”, relembrou a ex-mulher de Frank Marshall, outro pioneiro do time Lucasfilm.
A verdade é dura mesmo, caros fãs…
Se criticar, é “racis” ou “machitos”
Sem pensar muito, responda: os fãs de Star Wars são chatos ou exigem respeito à saga? As respostas, claro, virão das mais diferentes formas. Entretanto, se observarmos neste exato momento, 27 de junho de 2024, logo após a exibição do 5º episódio de Star Wars – The Acolyte pelo Disney +, o site avaliador Rotten Tomatoes irá oferecer um retrato fiel da opinião do público sobre a série: apenas 14% de aprovação – um disparate em relação aos 83% dos votos favoráveis da mídia cheirosa.
Para se defender da avalanche dos descontentes, tanto Kathleen como a protagonista, Amandla Stenberg, já tiraram da cartola uma série de desculpas. Enquanto a atriz até já fez um rap para chamar os fãs de racistas (sem apresentar qualquer print), a presidente da Lucasfilm preferiu usar o discurso do machismo estrutural.
De fato, a declaração a seguir de Kathleen aconteceu uma semana antes da estreia de The Acolyte, mas continua atual quase 1 mês depois:
“Acho que Leslye (Headland, a diretora) tem lutado um pouco com isso. Acho que muitas das mulheres que entram em Star Wars lutam um pouco mais com isso. Por causa da base de fãs ser tão dominada por homens, elas às vezes são atacadas de maneiras que podem ser bastante pessoais”, apontou Kennedy.
A politização de Star Wars tem sido tão evidente que até Elon Musk voltou a bombardear a poderosa executiva com uma “doce” postagem na rede X:
“Ela é mais letal que a Estrela da Morte”