O renomado mangaká George Morikawa, criador de “Hajime no Ippo”, criticou recentemente adaptações de animes e peças teatrais baseadas em sua obra que fizeram alterações significativas em relação ao material original.
Seu desabafo veio na esteira da morte da mangaká Hinako Ashihara, que se suicidou após manifestar publicamente sua frustração com as mudanças feitas pelos produtores na adaptação live-action de seu mangá “Sexy Tanaka-san” para a TV japonesa.
Promessas quebradas e ameaças
Morikawa revelou que, assim como a falecida mangaká Hinako Ashihara, também sofreu com o desrespeito dos estúdios em adaptações de seu icônico mangá de boxe.
Ele contou que, pouco tempo após começar a serialização da obra, recebeu diversas propostas para adaptação em anime ou filme, mas não se interessou e recusou todas. Anos depois, cedeu aos apelos de uma produtora, mas impôs uma condição: Que não decepcionassem os leitores que acompanhavam os 40 volumes já publicados do mangá.
No entanto, ao ver que o segundo episódio do anime introduzia enredos completamente dissociados de sua visão original para a história, Morikawa confrontou duramente a equipe:
“Isso não é o que vocês prometeram, parem agora. Se não pararem, eu pararei a serialização”, afirmou.
Ele lembra que todos entraram em pânico, mas mesmo assim se manteve irredutível em sua posição.
Sua ameaça de cancelar o mangá surtiu efeito. Os produtores prometeram melhorar a qualidade e a fidelidade da adaptação. Com o tempo, a relação de confiança se restabeleceu e Morikawa deixou o roteiro integralmente nas mãos da equipe, que correspondia sempre reportando suas decisões.
Autor como protetor da obra
Para Morikawa, apenas o autor original realmente conhece o futuro da história. Qualquer mudança feita por adaptadores que só conhecem o passado pode prejudicar o presente e futuro da obra.
“O autor é absoluto na proteção de seu trabalho e leitores”, enfatizou. “É preciso respeito, gratidão e coragem, não uma atitude arrogante dos adaptadores.”
Ele cita outros exemplos de mangakás que processaram e até suspenderam adaptações por fazerem alterações consideradas drásticas demais. Reforça, porém, que não defende uma postura de superioridade dos autores originais, que também erram e devem saber ouvir opiniões.
Diferenças entre mídias
Morikawa reconhece que existem adaptações bem sucedidas e que mudanças são inevitáveis na transposição entre mídias tão distintas.
“Há uma grande diferença no método de produção entre mangá e vídeo, é extremamente difícil manter a obra original intacta”, analisou.
Para ele, o caminho é envolver todos, inclusive o autor original, com respeito e gratidão mútuos. E mesmo que seja impossível consultar o criador sobre todas as decisões, o espírito de seu trabalho deve ser preservado.
Autor desamparado?
Diante de pedidos de fãs para que a Associação de Mangakás tome providências contra adaptações infiéis, Morikawa explicou que o grupo não pode pressionar diretamente as empresas envolvidas.
“A associação não é um grupo de pressão. É difícil saber como e onde abordar esses grandes players, que são lentos em sua resposta”, analisou.
Porém, garantiu que diretores discutem internamente formas de lidar com tais situações abusivas.
Tragédia como alerta
Morikawa concluiu seu desabafo esperando que seu relato sirva de alerta e evite tragédias como a que levou a mangaká Hinako Ashihara ao suicídio após ver seu trabalho desrespeitado.
“Espero que narrar minha experiência ajude a evitar casos futuros como o da Ashihara. Não me deixem lutar sozinho!”, apelou aos fãs.
Seu grito por mais respeito aos mangakás expõe os abusos que autores originais ainda sofrem ao verem suas criações adaptadas. O apelo de Morikawa é para que estudios e plataformas de streaming não tratem obras originais como mera propriedade descartável em nome dos lucros.
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