“Mickey 17” chegou com a promessa de ser a grande aventura sci-fi de Bong Joon-ho, o diretor sul-coreano que conquistou o Oscar por “Parasita” (2019, fonte: Academy of Motion Picture Arts and Sciences). Além de contar com Robert Pattinson – considerado um dos atores mais interessantes da atualidade (fonte: Variety) –, o projeto tinha tudo para ser uma daquelas superproduções de ficção científica que lotam salas de cinema. Mas, surpreendentemente, a estreia foi mais minguada do que se esperava.
Não faltam teorias para explicar por que o filme não decolou: divulgação confusa, público ainda preso a franquias consolidadas ou até desinteresse pelo tema. Fato é que, quando um diretor tão aclamado se arrisca em algo diferente, a gente cria expectativa. E como a expectativa pode ser traiçoeira, muitos saíram do cinema achando que Bong Joon-ho voou alto demais – e sem o combustível necessário para aterrissar em segurança.
2. Enredo Ambicioso, Mas Um Pouco Desencontrado
A história gira em torno de Mickey Barnes, um azarado que, para fugir de uma dívida com um mafioso excêntrico, topa integrar uma missão espacial como “descartável”. Ele é clonado a cada morte, o que abre espaço para dilemas morais e umas reflexões sci-fi interessantes. Robert Pattinson interpreta Mickey 17 e Mickey 18, conseguindo diferenciar bem cada versão do personagem (apesar de serem geneticamente idênticos).
O problema é o ritmo: são 137 minutos que às vezes parecem intermináveis. Há momentos em que Bong Joon-ho entrega cenas extremamente criativas, mas em outras dá a sensação de que o filme está patinando. Mark Ruffalo entra como Kenneth Marshall, o vilão, numa caricatura com toques de político egocêntrico – e é impossível não notar a semelhança com certas figuras públicas (se você pensou em Trump, não está sozinho). Fica aquela impressão de que o diretor quis inserir críticas políticas de forma meio escancarada, o que pode afastar quem não gosta de sentir que está vendo panfletagem.
3. Entre Altos, Baixos e Conexão com o Público
Quando uma produção chega recheada de nomes reconhecidos, é natural que a expectativa seja altíssima. Mas “Mickey 17” dá a entender que Bong Joon-ho tentou abarcar o mundo com as pernas. O filme possui elementos de humor, terror, drama e, claro, ficção científica – tudo ao mesmo tempo. Isso pode ter deixado o público confuso, especialmente aquele que só queria uma boa história sci-fi sem grandes discursos políticos entre as cenas de ação.
Não chega a ser um desastre total: a direção de arte é caprichadíssima, a fotografia impressiona e, pra quem curte algo mais conceitual, há boas reflexões sobre identidade. Mas dá pra dizer que foi um tropeço de um diretor supertalentoso, que talvez tenha exagerado na dose de crítica (inspirada ou não em pautas da moda) onde não precisava tanto.
É aquele tipo de filme que vale uma conferida se você gosta de Bong Joon-ho e de Robert Pattinson ou quer discutir as escolhas do diretor com os amigos depois da sessão. Só não vá esperando um novo “Parasita”. Se a intenção era fazer um épico espacial que agradasse todo mundo, faltou ajustar umas engrenagens aqui e ali. O público quer uma experiência que seja envolvente, e não uma maratona de ideias desconexas e duradouras – por melhor que seja a proposta.