O RPG é um jogo de mesa/tabuleiro e de interpretação de personagens e imersão. Segundo levantamentos de 2020, constatou-se que Dungeons & Dragons, o sistema de RPG mais popular, conta com aproximadamente 50 milhões de jogadores ao redor do mundo, e esse número vem crescendo cada dia mais. Mas como tudo isso começou? Neste artigo nós iremos mergulhar na história e na origem do jogo de mesa mais conhecido e mais popular do mundo, o Role Playing Game.
A história da origem RPG está intimamente ligada à própria história do Dungeons & Dragons, que foi o primeiro sistema de RPG. E tudo começa em 1971, quando Gary Gygax e Dave Arneson criam um jogo de tabuleiro no estilo WarGame de miniaturas chamado “Chainmail”, lançado pela Editora TSR, Inc.
Chainmain é um jogo de mesa que consiste em simulação de combates massivos e guerras medievais utilizando miniaturas, sejam elas miniaturas de soldados de infantaria, cavalaria leve, pesada, castelos e carros de combate. As resoluções do confronto eram decididas por meio de rolagens de dados de seis faces.
Com o sucesso de Chainmail, Gary Gygax e Dave Arneson começaram a trabalhar em um “spin off”, ou uma ”expansão” do Chainmail, que receberia o nome de “Dungeons & Dragons”. D&D, nesse contexto, surge como nada mais do que um game que consistia em uma mera variação do Chainmail, adaptado para combates individuais ao invés de combates massivos. A temática saiu do medieval puro e simples, e passou para um jogo de fantasia. É falado que o nome “Dungeons & Dragons” teria sido escolhido pela filha de Gary Gygax, Cindy, que à época tinha 2 anos de idade. Gary teria apresentado algumas opções de nomes, e sua filhinha falou “Oh papai, eu gosto mais de Dungeons & Dragons”.
A Primeira Edição
A primeira edição de Dungeons & Dragons, conhecida como OD&D ou “Original Dungeons & Dragons”, foi lançada em 1974 pela Editora TSR, Inc., em formato de livro de regras. Posteriormente naquele ano, também foram lançados os suplementos “Greyhawk” (o primeiro cenário oficial) e a aventura “Blackmoor” (primeira aventura oficial de Dungeons & Dragons, que se passava em um castelo no estilo horror gótico). Estima-se que o orçamento total de produção do game tenha ficado em torno de apenas 2.000 dólares, com o custo de apenas 100 dólares pelas artes do manual básico. O livro básico vendeu em seu primeiro ano aproximadamente mil cópias, seguido de mais três mil cópias em 1975.
As influências de Tolkien
Dungeons & Dragons (e consequentemente, o RPG como um todo), foi fortemente influenciado por mitologias (especialmente a mitologia nórdica, mas também mitologia grega e diversas outras), pela própria história medieval, mas a inegável influência de Tolkien é controversa. É fato que o jogo não surgiu como uma ramificação direta das obras literárias de Tolkien (conforme foi explicado acima), porém, elementos como elfos, anões (que já constavam na primeira edição do OD&D), halflings, e até mesmo a construção de grupos de aventureiros, lembrando bastante a constituição da chamada “Sociedade do Anel” rendeu a Gygax ameaças de processos pela Tolkien Enterprises por questões de violação de propriedade intelectual.
Por outro lado, em uma análise cuidadosa da construção geopolítica do cenário de Greyhawk, pensado por Gary Gygax, percebemos a enorme quantidade de reinos humanos (e raríssima menção a cidades élficas ou anãs), com diferentes interesses políticos e traços culturais, evidenciando que o objetivo do game, num primeiro momento, seria fomentar tensões entre reinos (o que evidencia a sua herança mais direta com o Chainmain, um wargame medieval).
O Surgimento de Outros Sistemas
O surgimento de Dungeons & Dragons teve imensa importância na criação não apenas da criação de mais um jogo de mesa como tantos outros, mas de todo um sistema de jogos que surgiu a partir daí. Todo um ecossistema de mecânicas novas de RPG inspirados direta ou indiretamente do Dungeons & Dragons. Ao longo dos anos 80 e 90 surgiram uma infinidade de novos sistemas, cenários e aventuras de RPG dos mais diversos. Em um primeiro momento com a prevalência da temática de fantasia medieval, as posteriormente sendo ramificado para outros gêneros, como noir, terror psicológico, terror lovecraftiano, cyberpunk, super-heróis, super sentais, wuxia, e muito mais. Cabe aqui mencionarmos alguns sistemas de RPG que tiveram crucial importância nesse processo: Paranóia, Cyberpunk 2020, Call of Chtullu, Arsmagika/World of Darkness, entre outros.
O surgimento de novos sistemas e novas mecânicas das mais variadas permitiu, com o passar do tempo, que surgisse a separação entre sistema de regras, cenário e aventura. Dessa forma, foi possível a criação de novos sistemas de RPG genéricos, sem vinculação com um gênero de fantasia em específico ou um cenário. Nesse contexto, surge o primeiro sistema genérico de RPG, lançado pela “Steve Jackson Games”, o “Generic Universal Role Playing System” (GURPS), traz um sistema poderoso, com regras robustas, nas quais é possível calibrar o grau de complexidade do sistema, o nível de poder dos personagens envolvidos, dezenas de suplementos aprofundando mecânicas para situações específicas conforme as necessidades específicas das mesas, sendo também adequado para qualquer gênero de ficção/fantasia, e qualquer estilo de aventura. A partir desse ponto, vários outros sistemas de RPG surgiram com propostas semelhantes.
O RPG Enquanto Jogo de Interpretação
Muito embora o nome “Role Playing System”, o RPG/D&D num primeiro momento foi pensado como um jogo primariamente de mesa/tabuleiro e miniaturas, com elementos de interpretação. Porém tudo mudou com o surgimento do Sistema Storytelling, na Gen Con de 1990, com o famoso livro “Vampiro A Máscara”.
Esse foi o primeiro sistema a popularizar uma mecânica de RPG chamada de “Teatro da Mente”, que vinha como contraponto ao sistema de tabuleiros/grids e miniaturas de combate. Foi um sistema cujas mecânicas priorizavam muito mais as habilidades teatrais de interação e atuação enquanto jogadores “incorporam” os personagens, do que mecânicas de combates épicos e exploração de masmorras, que são herança clássica do Dungeons & Dragons. As mecânicas de “teatro da mente” revolucionaram as mesas de RPG a partir daí, permitindo uma maior imersão nas estórias e nas cenas descritas, com uma maior interação social e aprofundamento das características dos personagens trama.
O sistema storyteller trouxe grandes mudanças ao próprio conceito do que é jogar RPG, fazendo contraponto a cada pequeno elemento já conhecido e influenciando fortemente o mercado. Esse sistema trazia em seu cerne a figura do “storyteller” ou “contador de estórias” enquanto figura central. Termos clássicos foram mudados. Enquanto nos RPGs clássicos falava-se “Mestre” (ou Dungeon Master), no novo sistema falava-se “Narrador” (ou storyteller). Enquanto nos RPGs clássicos falava-se campanha/aventura, no sistema novo usava-se o termo “Crônica” (ou Chronicle), dessa forma, colocando o narrador e jogadores com pessoas que se reúnem e dão continuidade à milenar tradição de contar históriaas ao redor de uma fogueira (ou uma mesa).
O Sistema Storyteller influenciou profundamente todos os sistemas que já existiam à época. As atuais edições de todos os sistemas de RPG ainda hoje trazem elementos de storyteller, inclusive a atual Quinta Edição de Dungeons & Dragons.
50 Anos de RPG/D&D
Em 2024, aWizards of the Coast/Hasbro estará comemmorando os 50 anos de Dungeons & Dragons. Mas muito mais do que uma data comemorativa referente a um produto de uma corporação, são 50 anos desse hobby amado por tantas pessoas, e que influenciou tantas pessoas, atou laços de amizade para para toda a vida.
Cumpre aqui noticiar mais uma vez que o ator americano Joe Manganiello, juntamente com John Peterson e Kyle Newman, está produzindo um documentário acerca da história de Dungeons & Dragons, que está previsto para ser lançado lançado em 2024, no aniversário de 50 anos do jogo.
Conclusão:
O RPG hoje é o sistema de jogo de mesa mais consolidado do mundo, influenciando outras mídias, como videogames, animes, mangás e até mesmo a literatura. Mas quando olhamos para trás, na história, tudo começou com dois amigos que gostavam de se reunir, sentar ao redor de uma mesa e rolar dados. Eram dois entusiastas. Dois nerdolas, como eu e vocês.