O Silvio Santos é coisa nossa – e sempre será

Silvio Santos

Compartilhe:

Como Silvio Santos nos ensinou a ser nerdolas do bem

Por Claudio Dirani

 

Em O Rei da TV – série exibida pelo Star Plus em duas temporadas de 8 episódios entre 2022 e 2023 – o ator Rubens Chachá, que interpreta Silvio Santos em sua fase já consagrada, aos 58 anos de idade – aparece em seu camarim fritando seu tradicional bife, bem fininho, o qual tradicionalmente comia com uma fatia de queijo por cima.

A tradição de cozinhar a própria refeição – ao contrário do que os mais céticos afirmavam – era uma prática real.

A simplicidade do almoço, feito pelo próprio Patrão e dono do Sistema Brasileiro de Televisão e inúmeras empresas, é um exemplo de como ainda adolescente Senor Abravanel decidiu iniciar sua vida pública, desde o sagaz, porém humilde, trabalho como camelô até se tornar o maior comunicador da história do país sem perder sua ligação com o povo.

Sim, a simplicidade foi a resposta dada pelo filho de imigrantes judeus greco-turcos Alberto Abravanel e Rebeca Caro, nascido na boêmia Lapa carioca em 12 de dezembro 1930, e que hoje, oficialmente, ratifica seu papel como uma das maiores personalidades da história brasileira.

Silvio Santos deixou este plano terrestre neste sábado, 17 de agosto de 2024, já sabendo que o passaporte da imortalidade estava carimbado, mesmo antes de partir em tempo de, quem sabe, encontrar com o amigo Lombardi (falecido em 2005) e animar o domingo, em um plano bem mais elevado.

Nosso sempre egocêntrico espírito vai dizer que a morte de Silvio Santos foi “cedo demais”, embora o apresentador/empresário/visionário estivesse perto dos 94 anos, na reta final de seu centenário.

Isso é óbvio e fácil de entender, principalmente para quem tem entre 40 e 50 anos no mínimo.

Para quem tem esta idade, Silvio Santos nunca foi um nome, ou apresentador meramente. Era uma marca-registrada, como Coca Cola. 

 

  • Esse cara é bom, tem tudo para ser um Silvio Santos!

 

Aposto que você já ouviu ou leu uma crítica como essa. 

 

E quantos humoristas ou aspirantes a comediantes (como eu!) não arranharam imitar o Patrão.

 

  • Ma ôeeeeee! 
  • É você Lombardeeee!
  • Ma…vai pra lá!

 

Diga a verdade, esses bordões mereciam até entrar para o dicionário, não é mesmo?

 

Memórias de Silvio Santos 

 

A mitologia que cerca Silvio Santos, certamente, irá se expandir daqui em diante – e muito será especulado, comentado, debatido. É perfeitamente normal, mesmo em um momento em que a família Abravanel só deseja ter seu espaço para velar o seu amado Senor – nome que o apresentador ganhou, em homenagem ao avô materno, mas que nunca era ouvido pelos corredores das emissoras que ele abrilhantou: Tupi, Excelsior, TV Paulista (futura Rede Globo), Record e o seu amado SBT  – oficialmente inaugurado em 1981.

 

Isso é natural. Afinal, Silvio Santos, como falei, é um patrimônio nacional. Amigos e família entenderão que tudo é exagerado, quando falamos dele. É algo que ultrapassa a fronteira da razão.

 

Cada um tem sua memória favorita sobre o Silvio, pode apostar. Eu tenho algumas, claro. Afinal, aos 52 anos, acompanhei o auge de programas como Domingo no Parque, Roletrando, Show de Calouros, Qual é a Música e até o mais recente, Show do Milhão.

 

Nem tudo o que Silvio tocava virava ouro, como bom descendente do grego Midas ele era. No entanto, quando isso acontecia, era sucesso absoluto e retumbante. Até presidente do Brasil ele quase foi. E se não fosse por uma manobra eleitoral em 1989, certamente ele comandaria o país com sua destreza peculiar (melhor que Fernando Collor, não há dúvida).

 

 

É o caso de suas aventuras pela programação do Sistema Brasileiro de Televisão, que vez ou outra, nos pregava algumas peças, quando nossos programas favoritos deixavam a grade, sem aviso!

Não dá para deixar de mencionar a série humorística mexicana Chaves – um dos maiores acertos do Patrão. O programa tomou conta da TV brasileira, desde sua estreia em 1984 até sua última transmissão, num vai e vem frenético,

Muitas crianças, que hoje são pais, cresceram com o personagem de Roberto Bolaños e repassaram essa afinidade para suas crianças. É uma das bolas mais acertadas de nosso Silvio Santos, entre as incontáveis. Foi a lição de Silvio, que nos ensinou a ser nerds. Os nerdolas do bem. Eu confesso. Sou nerd de Chaves por causa do Patrão.

***

Erros?

 

É fato que Silvio errava, mas essa contabilidade irá se apagar – se é que não se apagou.

Com certeza, a história que conto agora poucos sabem. Em janeiro de 2010, minha esposa, Cristiane, o reconheceu em Orlando. E não é que nosso patrão negou ser o Silvio Santos? 

O encontro frustrado entrou para a mitologia de nossa família. Quem nunca fugiu dos fãs?

Silvio pode ter se recusado a tirar uma foto ou duas, mas o que ele nunca fez foi se esquecer de divertir e animar o seu público.

 

  • Quem quer dinheeeeeero? 

E lá vai uma nota de R$ 100 voando pelo auditório mais bonito do Brasil.

 

Despedida é uma coisa sempre difícil

 

Meu pai nos deixou em 13 de setembro de 2024, em um dia ensolarado como hoje. É impossível desconectar o sr. Claudio Olivio de Silvio Santos, já que ele era outro fã incondicional. Nunca perdeu um episódio do Show do Milhão, enquanto o programa existiu sob o comando do Patrão, entre 1999 e 2003, e brevemente em um revival em 2009.

Seria interessante saber se meu pai já sabe que Silvio está a caminho, e quem sabe, pronto para apresentar mais uma atração por lá.

 

Enquanto isso não acontece, precisamos continuar por aqui, ainda que a dura despedida não tenha data para acabar.

Sendo sincero, a verdadeira despedida de Silvio de seu ambiente favorito – a TV – já havia acontecido há quase 2 anos. Em setembro de 2022, foi a última vez que o maior apresentador de todos os tempos fez o que mais gostava de fazer: animar.

 

Ele, portanto, não irá aceitar lágrimas, muito menos depressão.

 

Afinal, o Silvio Santos é coisa nossa – e para sempre será.

Publicidade
Publicidade