1. A “Guerra Civil Nerdola” em Ebulição
A certa altura, era inevitável que o público nerd fosse arrastado para uma briga interna, quase um duelo de cavalaria medieval, em torno de um único ponto: a Marvel estaria mesmo forçando pautas progressistas ao substituir seus heróis clássicos por versões “lacradoras”? De um lado, criadores de conteúdo apontando uma mega conspiração “woke” dos quadrinhos; de outro, vozes como a de Peter Jordan, garantindo que não há nada de errado em Sam Wilson virar Capitão América, Jane Foster se tornar a Poderosa Thor e por aí vai. A explosão veio justamente quando a “liga nerdola” respondeu diretamente a Peter, acusando-o de passar pano para substituições políticas. E aí o ambiente ficou ainda mais tóxico do que qualquer cartaz do Barão Zemo.
2. Substituições em Massa: “Diversidade” ou Check-List Ideológico?

Antes de qualquer coisa, vamos tirar uma questão do caminho: ninguém quer ver heróis só de uma cor ou gênero. Representatividade é uma pauta legítima. O problema é quando a Marvel decide, de uma hora para outra, engavetar Tony Stark para enfiar Riri Williams (uma adolescente negra e hiperinteligente), encostar Bruce Banner para dar holofote a Amadeus Cho, tornar Thor indigno para Jane Foster brandir o martelo e, cereja do bolo, deixar Steve Rogers velho ou fora de cena para Sam Wilson adotar o escudo de Capitão. Tudo praticamente ao mesmo tempo. Isso soa natural, claro, se você acredita em unicórnios e contos de fadas editoriais. Só que o timing gritava: a Casa das Ideias queria conferir um ar “engajado” ao seu panteão. Foi como criar um “check-list de minorias” e substituí-las em sequência, esperando aplausos imediatos.
3. O Caso Sam Wilson: do Lado do Escudo ou do Panfleto?

Sam Wilson, o eterno Falcão, é um personagem querido, sidekick fiel de Steve Rogers e com história sólida. Logo, não há nada de intrinsicamente errado em vê-lo assumir o manto. Mas o demônio mora nos detalhes — ou melhor, nos roteiros repletos de discursos políticos engatilhados. De repente, Sam encarava grupos supremacistas que queriam erguer muros para barrar imigrantes (uma metáfora sutil como um rinoceronte), sofria rejeição até de “tiozões reaças” que discutem “politicamente correto” nas esquinas e, de brinde, virava o alvo de caricaturas explícitas da ala conservadora. A HQ praticamente gritava: “Se você não curtir esse novo Capitão, é óbvio que está no time racista”. A questão era abordar o racismo de forma complexa ou deixar tudo parecendo panfleto eleitoral? Infelizmente, essa fase pendia mais para o segundo caso.
4. Peter Jordan e suas Justificativas “Inocentes”

Quando Peter Jordan garante que não há substituições forçadas, ou que não se trata de lacração, ele parece ignorar que a Marvel lançou essas mudanças em efeito dominó, com roteiristas celebrando no Twitter seu repúdio a Trump e aos republicanos. Peter ressalta que Sam Wilson já era um herói estabelecido e que “isso prova” como não tem agenda. Claro, se você fingir que não existiram vilões xenófobos brotando a cada edição e roteiristas tirando sarro de quem simpatizava com o pensamento conservador. E, acredite, se fosse só Sam Wilson — mas aconteceu com quase todos os Vingadores originais, que foram sendo escanteados na mesma época. A Marvel vendia a ideia de: “Temos heróis novos, variados e empoderados; os fãs antigos que se adaptem”. Depois, quando as vendas começaram a desabar, a editora rapidamente lembrou que Steve, Tony e Thor clássico ainda pagavam as contas. O que faz Peter Jordan? Passa pano, dizendo que “é normal a Marvel experimentar”. Sem dúvida — experimentar em bloco, com panfleto político, em plena onda anti-Trump… que coincidência adorável.
5. Nick Spencer, Rick Remender e a Agenda Escancarada


A cereja do bolo veio quando Nick Spencer transformou Steve Rogers num agente da Hidra, ofendendo quem tivesse dois neurônios ou algum respeito pelo patriota das HQs. Foi a fase “Hail Hydra” — que, ao contrário do que alguns dizem, não foi universalmente aclamada, mas sim detestada por muita gente que considerou Steve Rogers “nazista” um ultraje. Por outro lado, Spencer defendia no Twitter que isso era “espelho da América atual”, brincando com a ideia de que os EUA estavam fascistas. E Rick Remender, antes dele, também tinha deixado claro que, se você é conservador, suas HQs não eram para você. Um show de imparcialidade, né? Diante disso, negar a agenda soa tão crível quanto dizer que a água não molha.
6. O Retorno dos Heróis Clássicos (Porque as Vendas “Acontecem”)
Para além de espernear ideologicamente, a Marvel também curte dinheiro. E quando notaram que as HQs desses “novos heróis” patinavam após o hype inicial, correram para trazer de volta os originais. Viu-se Tony Stark retomando espaço, Thor recuperando seu martelo, Bruce Banner reaparecendo de alguma forma. Steve Rogers, esse, até sobrou de velho e de nazista, mas, depois do baque e da gritaria, voltou ao feijão com arroz clássico. A lição foi simples: dá para militar bastante, mas não dá para matar a galinha dos ovos de ouro. E o que houve com Sam Wilson, Riri Williams, Jane Foster e cia.? Viraram coadjuvantes, heróis substitutos eventuais, aparecendo aqui ou ali. Logo, se fosse tão natural e orgânico quanto Jordan insiste, por que a Marvel recuou tão rápido?
7. Reflexões Finais: Respeitar Personagens, Admitir a Realidade

Ninguém está negando a importância de Sam Wilson ou a possibilidade de heróis diversos. Representatividade é ótimo, contanto que não pareça um discurso marqueteiro que empurra para escanteio todos os personagens brancos porque “precisa cumprir cota”. A fase All-New, All-Different Marvel pecou pelo excesso: tudo junto, de maneira brusca, com roteiristas militantes e vilões saídos de uma militância oposta. É quase uma receita de bolo para criar guerra cultural. Peter Jordan, apesar de ser excelente comunicador, aparentemente prefere explicar que tudo foi “bem intencionado” e que não era agenda. Talvez ele simplesmente ame HQs a ponto de não querer ver o estrago que a Marvel fez na época. E tudo bem. Mas os fatos não dão trégua: quando você substitui todo mundo ao mesmo tempo, com roteiristas engajados no Twitter, criando tramas maniqueístas, não é coincidência. É lacração. E das grandes.
No fim das contas, Sam Wilson permanece um personagem querido, com ou sem escudo, e quem quiser bancar o “lacrador” que defenda essa fase. Entretanto, fingir que não foi um movimento calculado para agradar certa militância e capitalizar um discurso de minoria é tão inocente quanto achar que Nick Spencer só quis dar um passeio narrativo, sem segundas intenções. Que cada um tire suas próprias conclusões — mas não sem antes analisar as páginas repletas de “muradas anti-imigração” e a horda de roteiristas celebrando cada lacrada. Aí fica difícil manter a ingenuidade.
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