Atuação impecável em Batman: O Retorno
Por Claudio Dirani
Quando o talentoso Michael Keaton assumiu a capa e máscara do Homem-Morcego em 1989, muita gente questionou o porte físico e o carisma do ator, tamanha era a responsabilidade para agradar os fãs no primeiro filme sobre o herói desde os anos 1960.
No final das contas, apesar dos movimentos do Cavaleiro das Trevas terem ficado um tanto prejudicados pelo pesado figurino, Batman cumpriu sua missão de abrir espaço os super-heróis da DC Comics no cinema – e ainda, com o privilégio de curtir o “bônus” da elogiada atuação de Jack Nicholson como seu arqui inimigo, o Coringa.
Em 1992, Tim Burton voltaria a comandar uma nova aventura do alter-ego de Bruce Wayne. Em Batman: O Retorno, Pinguim e Mulher Gato – personagens interpretados respectivamente por Danny DeVito e Michelle Pfeiffer – tomaram o lugar de Nicholson, repetindo, muitas vezes, o “roubo” do protagonismo da trama.
E por falar em vilão, o tema central de nosso recap de Batman: O Retorno, é justamente a atuação exemplar de DeVitto, em meio ao cenário gótico criado por Burton para o filme da Warner, 32 anos atrás.
Então, apanhe a cartola e o fraque, abra uma lata de sardinha para imitar o bandidão de Gotham e vamos nessa!
Batman vs Pinguim: duelo sinistro comandado por Tim Burton
Batman – O Retorno arrecadou mais de US$ 266 milhões – quase a metade faturada por Batman (1989). Apesar da baixa, o longa de Tim Burton apresentou melhores efeitos especiais e temas mais adultos, em comparação ao longa original.
Na esteira da performance do Coringa de Jack Nicholson, a performance de Danny DeVitto ofuscou indiscutivelmente o desempenho do protagonista – fator que podemos colocar na conta do roteirista Daniel Waters.
As escolhas dos criadores de Batman: O Retorno são vistas logo nos primeiros segundos do filme, onde vemos a origem do Pinguim: um bebê abandonado em plena noite de Natal, sob forte neve, que vai parar nos esgotos de Gotham City.
O resultado é cruel: o recém-nascido vira uma cria de pinguins que vivem no subterrâneo da cidade. O exílio do jovem só viria à tona 33 anos depois, novamente em meio às celebrações do aniversário de Cristo.
Quando o sombrio “Homem-Pinguim” (é desta forma que os jornais de Gotham descrevem o vilão) é visto em público pela primeira vez, o susto é grande. Danny DeVitto está irreconhecível, com feições geneticamente alteradas, como se fosse um mutante. A aparência do Pinguim, aliás, foge do arco original das HQs e se encaixa perfeitamente no universo de Tim Burton: sombrio, surreal e gótico, como os anteriores Os Fantasmas Se Divertem (1988) e Edward, Mãos de Tesoura (1990).
As múltiplas faces do Pinguim
No momento em que revisito Batman: O Retorno para descrever o incrível personagem interpretado por Danny DeVitto, temos no streaming mais “dois Pinguins”. Ou melhor: a lacradora “Pinguina” da nova animação da Prime Video e o mafioso Pinguim interpretado por Colin Farrell na série da Max.
Desconsiderando imediatamente a bizarra figura do novo desenho animado, até que o vilão vivido por Farrell tem seu mérito. Mas ele não chega aos pés da performance de DeVitto no longa de 1992.
É válido dizer que sua interação com Christopher Walken – mais um craque em interpretar vilões – dá ao ator de baixa estatura um gigantismo na tela. Seus maneirismos são impressionantes, além de sua técnica impecável de atuação.
Logo, após descobrir que ele virou órfão após ser abandonado pelos pais no esgoto, um novo plot twist é colocado aos olhos dos espectadores . Ao notar que ele passa a ser “admirado” pela população de Gotham, o Pinguim não quer ser mais chamado como uma figura bizarra. Agora ele é Oswald Cobblepot, prestes a entrar na política da forma mais corrupta possível
Pinguim e a corrupção da alma
O personagem – e antagonista – de Batman: O Retorno sofre mais uma mutação. Isso ocorre da metade para frente do filme, quando o abominável industrial Max Schreck (Walken) o convence que ele pode colocar o Pinguim na prefeitura, se conseguir o impeachment do atual governante.
Tudo faz parte de um plano para que o Pinguim não denuncie que as indústrias de Schreck estão poluindo a cidade com lixo tóxico.
É a partir desse estágio que temos o conflito do Pinguim com Batman. O final da história é ainda mais absurdo, mas ele perde importância no contexto.
Batman: O Retorno é um filme gótico e dark, onde o Pinguim ganha importância e entra na história mais pela excelência da interpretação impecável de DeVitto do que seu papel no arco de Batman.