Prévia: Starfield, o Astro de 2023

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Data de lançamento: 06/09/2023 (edição padrão) / 31/08/2023 (edição deluxe)
Plataformas: Xbox Series S / Xbox Series X / PC / XCloud
Desenvolvedora: Bethesda Studios
Gênero: Ação / Aventura / RPG / Primeira ou Terceira Pessoa

The Elder Scrolls V: Skyrim foi um fenômeno mundial que fincou a bandeira da Bethesda no mundo inteiro. Até então, sua única franquia relativamente popular no Brasil era Fallout. Infelizmente, não ajuda que os dois títulos subsequentes da Bethesda Studios tenham sido Fallout 4 e Fallout 76 – um recebido de forma morna e o outro um dos maiores desastres da indústria na época de seu lançamento. Para clarificar, quando eu falar sobre Bethesda interprete como Bethesda Studios (a desenvolvedora) e não Bethesda (a produtora dona de vários estúdios).

A maioria dos jogadores brasileiros desconhece, portanto, a tal “magia Bethesda”. Para eles, Elder Scrolls sequer é uma franquia, existe apenas Skyrim e ele foi um evento único e isolado.

Daí realmente pode ficar um tanto difícil de entender o hype em torno de Starfield.

Vamos arrumar isso.


25 Anos em Formação

Amado por muitos e odiado por tantos outros, o protagonista de inúmeros memes Todd Howard é o diretor de Starfield e famoso por descrever seus jogos com frases de impacto que nem sempre se concretizam em mecânicas de fato existentes, ou tão incríveis como ele deixou parecer. “Tell me lies, tell me sweet little lies”. No entanto de maneira alguma é possível negar que seus feitos o colocam ao lado de Miyamotos, John Carmacks e Ed Boons como uma das lendas da indústria. Talvez ele não entregue tudo exatamente do jeito que promete, mas o que entrega geralmente é ouro. Entretando o efeito de promessas não realizadas pode não ser motivo de preocupação desta vez, já que Starfield é seu primeiro projeto sob o teto da Microsoft, que lhe concedeu tempo e orçamento o suficiente para que esses recursos não fossem impeditivos.

Vamos então conhecer o passado para entender o que podemos esperar. O primeiro trabalho de Todd Howard na Bethesda foi como designer em Elder Scrolls II: Daggerfall, um RPG de nicho de sua época mas que recentemente tem crescido em popularidade através do boca a boca na internet: muitos estão descobrindo pela primeira vez o tamanho colossal desse jogo. 161600 quilômetros. Comparativamente, o território do game é maior do que o país da Inglaterra.

Até hoje Daggerfall é o maior mundo aberto já criado. O jogo, meu amigo, foi lançado em 1998. Há 25 anos e ninguém conseguiu superar sua imensidão. Mas muitos questionam: isso é um ponto positivo?

Hoje os jogadores já estão mais acostumados e até cansados de jogos de mundo aberto, então ser cínico com uma vastidão como essa é um sentimento válido. A realidade é que a maior parte do mundo de Daggerfall é criada proceduralmente (ou seja, por computador e não manualmente). O jogo tinha como filosofia ser um “simulador de vida em um mundo de fantasia medieval”. O mapa ser imenso não era uma necessidade, mas ajudava a fortalecer a sensação de ser apenas uma só pessoa em um continente que realmente existe e é enorme, e é vivo. Ainda assim, ele possuía suas quests e tarefas como qualquer outro jogo, uma mescla de objetivos sólidos com o desconhecido.

Afinal com um mundo tão imensurável vem a surpresa, a incerteza. Você nunca sabe o que pode estar te esperando dentro de uma caverna. Um NPC com uma quest nova? Um monstro de nível muito maior que o seu? Quem sabe apenas alguns esqueletos com equipamentos porcaria?

A experiência de cada jogador em Daggerfall é irreplicável.

Fã de ficção científica, Todd Howard viu como inevitável tentar replicar esse feito em um jogo de temática espacial, se aproveitando das sensações inerentemente associadas ao desconhecido estrelado. Vastidão. Solidão. Exploração. Era a expansão óbvia dos maiores pontos positivos de Daggerfall – só o que lhe faltava para a criação de Starfield era tecnologia avançada o suficiente para suportar tal ópera espacial. 25 anos depois, aqui estamos.

Amálgama Bethesdiana

Já conversamos sobre como Daggerfall inspirou a criação de Starfield. Mas quais elementos de outros jogos da Bethesda serão influentes?

Se você perguntar para dez fãs das franquias da empresa qual é o jogo favorito deles, provavelmente não haverá um vencedor disparado. ESIII:Morrowind, ESIV:Oblivion, ESV:Skyrim, Fallout3 e Fallout4 possuem personalidades tão distintas que ao mesmo tempo que é possível compará-los em gênero, todos carregam sua própria personalidade e seus próprios méritos e deméritos.

Morrowind é dono de uma ambientação incrível, mas sua interface é bem confusa. Oblivion graficamente envelheceu como leite fora da geladeira em um dia de Sol em Fortaleza, mas seu sistema de magia é até hoje inigualável.

Nunca tivemos um jogo da Bethesda que unisse as qualidades desses títulos enquanto tentando ajeitar o que era problématico neles. Até agora. Starfield promete ser um mix do melhor das experiências que já apresentaram no passado, além de trazer suas próprias novidades.


A Fronteira Final

“Starfield terá 1000 planetas exploráveis”. Esta foi a frase de Todd Howard sobre o game que se tornou um meme e criou tanto burburinho entre os descrentes, pois de fato abre a margem de interpretação de que Starfield será sobre quantidade e não qualidade. Isso, no entanto, não parece ser verdade.

Dentre esses 1000 planetas, muitos serão gigantes gasosos (como Júpiter e Saturno), ou seja, planetas sem solo físico. Como o jogo lidará com eles? Não sabemos ainda. Outros serão uma simples bolota de formações rochosas e sem atmosfera, incapazes sustentar vida nativa. Apenas cerca de 10% dos planetas caem sob a categoria “goldilock”, ou seja, habitados por seres vivos.

Quando sobrevoar um planeta você poderá escaneá-lo para saber suas características, e então decidir se quer aterrissar ou não. Pode ser que você precise de um certo tipo de material que esteja presente em um desses planetas isolados e solitários. Pode ser que, caso decida pousar para minerá-lo, você acabe encontrando uma mina abandonada cheia de mistérios. Ou não. Como a maioria dos planetas são gerados proceduralmente e exclusivamente para cada jogador, realmente não há como ter a menor ideia do que estará te esperando. E por mais que na maioria das vezes a resposta possa ser “não tinha nada demais aqui”, a incerteza e curiosidade que surgem já são sentimentos que cumprem parte da proposta do game.

É importante ressaltar que essas pequenas decisões que você tomará são isso, decisões. Talvez eu repita mais algumas vezes durante esta prévia, mas é importante sempre evidenciar que neste game você nunca será forçado a participar de uma atividade que lhe pareça chata, complicada ou massante. Caso não tenha interesse nesse tipo de exploração planetária aleatória que acabei de descrever, ora, não faça. Complete missões, ou brinque de engenheiro espacial com as mecânicas de crafting. Que tal invadir um nave-cruzeiro de luxo cheio de ricassos? Existe conteúdo de sobra para você se chatear por não gostar de um aspecto opcional.

Assim como seus antecessores, Starfield será um jogo de inúmeras possibilidades e poucas obrigações.

Como dito uma preocupação legítima levantada pela comunidade é que esse número insano de planetas criados proceduralmente (por IA) pode ser um sinal de preguiça por parte dos desenvolvedores. A Bethesda no entanto insiste em deixar claro que Starfield é o game com mais conteúdo feito de forma “artesanal” que já criaram, de criaturas à cidades à missões à itens. O fato do game ter mais de 250 MIL linhas de diálogo já deixa isso claro.

Guerra nas Estrelas

Starfield se passa 300 anos à nossa frente e tem como cenário um universo “NASA Punk” – uma visão de como seria um futuro no qual a Terra foi destruída (por motivos até o momento não revelados) e o que sobrou da humanidade está espalhado pelas estrelas. Embora seja necessário uma tecnologia extraordinária para conquistar tal nível de migração, a estética é um tanto retrô, quase como se o avanço científico tivesse chegado a um platô e hoje a maioria dos habitantes precisasse se virar com recursos escassos.

Você jogará como um minerador que descobriu um artefato que parece ser de origem extraterrestre – o que é suspeito, pois nessa história nunca existiu contato entre humanos e alienígenas inteligentes. As missões principais portanto parecem ser a caça pelos criadores desse artefato. A busca pela vida inteligente extraterrestre, e quem sabe, o novo passo no avanço da tecnologia.

Mas a maioria das pessoas que vivem nessa galáxia não dá a mínima para isso. A maior parte da sociedade está ocupada lidando com os efeitos de uma guerra civil espacial que ocorreu 30 anos antes de sua jornada começar, a segunda de dois grandes conflitos sangrentos. Desta vez, a organização United Colonies venceu a rebelde Freestar Collective. Mas as tensões entre as duas permanece. Um dos personagens principais que podem se juntar à nossa equipe, o cowboy Sam Coe, é descendente de um dos líderes do primeiro grande conflito espacial. Certamente algo interessante vai surgir daí.

Existem três cidades principais em Starfield.

A United Colonies é representada pela sua capital New Atlantis, no planeta Jemison, a maior cidade já construída pela Bethesda. O local é enorme e parece uma utopia que mistura arquitetura moderna com bases espaciais realistas e um pouco de retrofuturismo americano dos anos 1950. É uma metrópole com riquezas abundantes e uma sociedade próspera – ao menos ao que parece.

Já Akila City é a capital da derrotada United Colonies, com seu bioma desértico e construções muito mais elementares. Um velho-oeste pós-apocaliptico espacial, pode se dizer. Red Dead Astronautas, talvez? Prepare-se para caçar muitas recompensas por aqui, ou se juntar a soldados aposentados amargurados com a derrota.

Por fim, temos Neon City. Originalmente uma enorme plataforma de pesca em um planeta aquático, a empresa XenoFresh descobriu que os peixes desta fauna possuem em seus corpos elementos altamente alucinógenos. O consumo de tal substância foi proibida em toda galáxia, então a solução foi transformar a própria plataforma em uma cidade. Neon City é uma Las Vegas cyberpunk com estética oriental. Sujeira, drogas, traição, luzes fortes, clubes suspeitos e mega-corporações em uma guerra velada – é quase uma São Paulo, mas mais bonita.

Pelo o que parece, estas três cidades serão os grandes hubs da humanidade em Starfield. Provavelmente haverá cidades menores espalhadas por outros planetas, mas estas serão as principais e nas quais você poderá passar dezenas de horas progredindo no game sem sequer sair do planeta. Existe quem acha que três é um número pequeno demais e estão desapontados. Eu digo que eu prefiro três cidades imensas repletas de conteúdo do que pequenos pontos turísticos essencialmente vazios. E aqui fica uma aposta pessoal, algo que eu gostaria de ver: e se em nossa jornada de fato encontrassemos vida alienígena inteligente – mais do que isso – uma cidade inteira dela? Seria um plot twist maravilhoso.

Me Diga com quem Andas

Uma das maiores características dos jogos da Bethesda são as facções. Grupos aos quais você pode se unir ou se aliar, rendendo quests específicas que muitas vezes são mais divertidas do que a própria história principal do jogo. Quem nunca deixou de salvar Skyrim da ameaça dos dragões para se alistar na Guilda dos Guerreiros ou ir caçar vampiros por aí?

Em Starfield teremos cinco facções principais.

Constellation é o grupo de exploradores que dá o pontapé na narrativa inicial. Os Indiana Jones astronautas que tomaram para si a responsabilidade de descobrir os mistérios da galáxia. Esta é a facção que inicia a narrativa principal e na qual você já começará o jogo como membro.

As já comentadas United Colonies e Freestar Collective parecem proporcionar missões militares ao estilo Imperials e Stormcloaks em Skyrim, com a diferença de que neste caso estamos em um período de pós-guerra em vez de guerra declarada. Ou o de uma guerra-fria que se monta diante do sentimento vingativo dos cowboys de Akila City.

 

Se você quiser um estilo de vida mais corporativo, você poderá deixar seu currículum na Ryujin Industries em Neon City. Talvez o equivalente da Arasaka em Cyberpunk? Vai ser interessante acompanhar como essas quests serão apresentadas. Eu apostaria em missões mais burocráticas, mas quem sabe um pouco de ladroagem sorrateira esteja envolvida.

Por último, Crimson Fleet, a sua opção psicopata. O maior bando de piratas da galáxia, temidos pela sua agressividade e crueldade. O pior é que esses caras são idealistas: a facção foi formada por grupos que se mantiveram neutros durante a grande guerra, esperando a poeira baixar para voltar a fazer parte da economia interplanetária. No entanto, o oposto ocorreu, sendo excluídos pela falta de apoio. Hoje então eles proclamam que dois podem jogar esse jogo, se considerando os donos de tudo e todos na galáxia. Ah, e eles adoram usar capacetes espaciais em formato de crânios. E suas naves têm nomes de monstros e fantasmas mitológicos. A ética pode não ser das melhores, mas a estética é 10/10.

Além dessas teremos também grupos de menor impacto na sociedade, incluindo três organizações religiosas diferentes e times de contrabandistas e mercenários. Ou até uma associação de “caminhoneiros espaciais”!

Um local que particularmente me chamou atenção é uma tal de Red Mile. Pelo que conseguimos supor até agora, trata-se de um clube em uma antiga mina abandonada que promove competições de vida ou morte. Imagine algo como o Running Man (O Sobrevivente), aquele filme antigão de Arnold Schwazenegger. Ou as Olimpíadas do Faustão, o que preferir.

Reaja, Diacho!

Existe um ponto negativo histórico no sistema de facções e diálogos da Bethesda, algo que pessoalmente eu diria ser o maior de seus defeitos, especialmente comparado a RPGs como os da Obsidian, Larian Studios ou ao próprio Cyberpunk 2077.

Jogos da Bethesda no geral não lhe concedem o poder de decisão sobre a história. Quando acontecem, são apenas em raríssimos casos aqui ou ali, mas quase nunca mudando o rumo da narrativa.

Não só isso. As histórias e missões por vezes são excelentes, mas há uma falta de contato entre o jogador e os NPCs que torna difícil tratá-los mais do que como marionetes agindo de forma autônoma, com diálogos rasos que tiram o jogador da imersão.

Isso mudará em Starfield, ou pelo menos essa é a promessa.

Recentemente uma desenvolvedora revelou que está testando o game do começo ao fim novamente, e está surpresa com a profundidade narrativa que conseguiram atingir, com personagens muito mais reativos e cativantes, além de tomadas de decisões que interferem sim na história.

Um exemplo é o papel que o personagem dos jogadores tem nas facções. Em Elder Scrolls, é comum a presença de três guildas em todos os títulos: a dos guerreiros, a dos magos e a dos ladrões. Em todas elas e em todos os jogos, a progressão é a mesma. Você se alista, faz algumas missões, progride na hierarquia e termina como o líder. As aventuras podem ser bem interessantes, como a lendária jornada de Gray Fox na Guilda dos Ladrões de Oblivion – mas a progressão era a mesma de sempre. Você sabe onde vai começar e terminar, e que não haverá nada que você poderá fazer para sequer influenciar nem na jornada, nem no destino.

Em Starfield, a promessa é que o jogador de fato se sentirá um membro dessas facções e que nem sempre chegará ao cargo de líder – talvez só se este for seu objetivo pessoal. Você cumprirá seus deveres mas também usará de seu julgamento para alterar o rumo das coisas, convencer pessoas, ou até cometer c*agadas monumentais. Muitas das suas opções podem variar de acordo com as características do próprio personagem, reforçando a ideia de que cada jogador terá sua própria jornada.

Pessoalmente, este é o aspecto do jogo que eu mais quero conferir, já que é o ponto em que Bethesda mais tem à se provar.

Seja Você Mesmo

Starfield possui um nível de personalização invejável. O sistema de criação de personagens é tão impressionante que os próprios NPCs do jogo foram construídos através dele, exatamente o mesmo que você utilizará. Altura, peso, modo de andar, QUALIDADE DOS DENTES, tudo pode ser modificado a seu gosto.

Saindo da estética e indo para as mecânicas, dois pontos de customização importantes são Backgrounds e Traits, que concedem benefícios e malefícios dentro e fora de combate.

Seu background definirá quem você era antes de se meter nessa aventura. Empresário, professor, chef, médico, caçador de feras alienígenas e hacker são alguns exemplos de opções, todas alterando certos diálogos e até mesmo habilitando missões específicas.

os traits decidem quais são as peculiaridades de seu personagem, das quais você pode escolher até três. Dream Home te transforma em um almofadinha que viveu uma vida confortável, lhe dando bônus de carisma e inteligência, mas diminuindo sua capacidade de se adaptar a ambientes hostís. Serpent’s Embrace lhe coloca dentro de uma das religiões do game, “A Grande Serpente” (hehe), garantindo não só um conhecimento profundo em biologia e venenos como a amizade de seus irmãos de fé. O problema é que eles são fanáticos agressivos com uma reputação questionável. As opções são vastas, e foi dito que é possível alterá-las durante sua aventura – sair do grupo religioso talvez seja uma opção, mas pode lhe deixar marcado como um traidor.

Pau Pra Toda Obra

Agora que você decidiu quem você é, é hora de saber o que você consegue fazer. Vamos falar de Skills (habilidades).

Alguns backgrounds e traits já lhe dão habilidades específicas logo de cara, mas assim como Skyrim, quanto mais você se dedicar a algo, melhor naquilo você se torna.

As skills de Starfield são divididas em cinco categorias: Físicas, Sociais, Combate, Científicas, Tecnológicas. Cada uma delas possui várias habilidades específicas. Cada habilidade específica pode ser melhorada até quatro vezes. Quanto mais você se dedicar a uma categoria de skills, mais skills daquela categoria você desbloqueia.

E como você evolui essas skills? Cumprindo desafios! Por exemplo, existe a skill Intimidação na categoria Social. Ela é uma habilidade ativável que faz com que um NPC saia correndo c*gado de medo de você, seja dentro ou fora de combate. Para você sair do nível 2 dessa skill e chegar no nível 3, você precisa utilizá-la com sucesso em 25 NPCs diferentes.

Como fica implícito, as skills não são somente relacionadas à combate. Independente do que você decida fazer no game, você terá habilidades distintas que lhe tornarão melhor naquilo. Tal como na categoria Tech você pode se aperfeiçoar em pilotar sua nave e se tornar o contrabandista mais rápido da galáxia, ou quem sabe o pirata com a maior e mais temida náu espacial a cruzar as estrelas. Ou você pode investir em Ciências e se tornar um excelente geólogo, ou biólogo – aliás, é possível treinar para ser capaz até de controlar bestas alienígenas através de neuro-sei-lá-o-ques! Variedade é o que não falta.

Pé no Chão

Você está visitando um planeta semi habitado no qual não tem nenhuma quest ativa. Você vê um posto de comércio por perto e uma selva alienígena cercando os lados. E agora? Sei lá, cara, você decide.

Por exemplo, você pode sair escaneando e coletando fauna, flora e minerais na busca de conseguir os materiais necessários para construir um rifle laser bacanudo. Ou então vender ditos materiais e aumentar o pé de meia. Ou realmente abraçar sua missão de pesquisador e catalogar todo o bioma para ganhar uma recompensa pelo trabalho bem feito.

Talvez você ache isso tudo muito chato. Em uma conversa no bar da cidadezinha, alguém pode ficar sabendo do seu histórico de caçador e incumbi-lo de derrotar um certo predador de cinco olhos que anda aterrorizando os habitantes, partindo direto para a ação.

 

Ação essa que, assim como todo resto, é bem personalizável. Você pode usar armas de fogo tradicionais, ou mais futuristas. Pode agir como um troglodita e partir para cima dos inimigos com um porrete ou uma katana ou, por que não, usar os próprios punhos. Para uma abordagem mais estratégica, sobrevoar os coitados de seus alvos com seu jetpack e chover granadas na cara deles também é uma opção, assim como derrotar um por um com sua sniper silenciosa favorita a uma distância segura. Ah, e claro, stealth. Ser sorrateiro é um clássico nos jogos da Bethesda e está presente aqui também. Se sua missão é roubar um arquivo importante e bem guardado na fortaleza de um grupo pirata, você pode se esgueirar pelos dutos de ar, roubá-lo e sair sem que nunca saibam que você esteve lá. Mas também pode esfaquear algumas costas pelo caminho se preferir. Em silêncio, é claro.

Só tome cuidado com o ambiente. Existem planetas quentes demais, ou frios demais, nos quais você terá que utilizar o equipamento correto para se proteger das interpéries. Isso sem falar da gravidade, que pode mudar dramaticamente sua movimentação.

Por falar em gravidade, aparentemente você poderá até usar A FORÇA. Em um trecho de alguns segundos de um dos trailers, é possível observar o jogador fazendo um movimento com as mãos que faz os inimigos levitarem, flutuando perdidos como se em gravidade zero. Por enquanto é apenas uma teoria, mas pode ser que isso não seja nenhum equipamento ou habilidade específica mas sim um poderzinho especial que o jogador recebe logo no início do jogo, ao entrar em contato com o tal artefato alienígena – algo como os poderes de Dragonborn em Skyrim. Alguns já estão reclamando da presença de “magia” em um jogo que tenta ter o pé no chão no que tange às possibilidades realistas da ciência, mas eu respondo a essas críticas com “MAGIA É DA HORA DEMAIS”.


Voar, Voar, Subir, Subir

Não é preciso dizer que junto com a temática espacial vem a obrigação de naves espaciais pilotáveis. Há cerca de dois anos, um suposto ex-funcionário da Bethesda postou em um fórum que toda a mecânica espacial de Starfield estava terrível, injogável, sem profundidade ou razão para existir. Se essa história for verdadeira, temos que agradecer pelos adiamentos. A pilotagem espacial parece incrível.

Você entra em sua nave. Uma cutscene ocorre, e logo você está sobrevoando o planeta no qual estava pisando segundos atrás. Você então está livre para explorar o sistema planetário no qual está, ou então utilizar um “jump gravitacional” para atravessar a galáxia mais rápido do que a velocidade da luz e continuar sua jornada em outro lugar – ou não, você pode navegar calmamente por onde está e buscar por segredos e oportunidades, pois elas existem por todo canto. O que ficou claro é que sua nave não é um mero veículo, e o espaço não é apenas um hub de locomoção. O espaço é vivo. Uma segunda camada de gameplay. Inclusive, sua própria nave é um pequeno mundinho, já que você pode andar dentro dela. Criar alguns itens em sua bancada, verificar os estoques ou quem sabe bater um rango com a tripulação e ouvir o que eles tem para falar.

Na órbita de planetas mais populosos você encontrará pessoas em suas jornadas de trabalho, assim como muitos “caminhoneiros” transportando cargas, ou religiosos em peregrinação. No meio deles, um empreendedor astucioso pode estar vendendo comida e água para os itinerantes. Quem sabe até tenha transformado sua própria nave em um restaurante. Caso você tenha escolhido o Trait chamado Kid Stuff, você pode até encontrar sua avó na própria nave dela passando ao lado da sua e te convidando para tomar um chá (isso literalmente foi mostrado no showcase).

Se você tiver optado por realizar trabalhos de legalidade questionável, como contrabando, tome cuidado. Ao chegar perto de planetas mais organizados, fiscais irão escanear sua nave em busca de materiais proibidos – mas não há nada que um criminoso experiente não consiga contornar através de suas maracutaias.

Mas em algum momento, seja contra a polícia, um grupo religioso fanático ou meros bandidos autônomos, o laser vai cantar.

Pelo o que vimos do combate espacial, movimentação e ataque parecem seguir os padrões de jogos de tiro de navinha 3D – porém as possibilidades mudam de acordo com a configuração de sua espaço-nave. As armas disponíveis são as que você instalou, assim como a manobrabilidade depende dos equipamentos disponíveis.

Nas batalhas o mais interessante no entanto é o sistema de energia.

Vamos dizer que você tem 20 pontos de energia, e sua nave possui armas laser, armas balísticas, mísseis, um motorzão, escudos e o driver gravitacional que te faz viajar na velocidade da luz (teleportar). Seus 20 pontos de energia podem ser realocados a qualquer momento para fortalecer qualquer uma dessas funções. Está com o alvo na mira? Aumente 10 pontos de energia nos mísseis (caso ele aguente toda essa carga), tirando a energia dos motor que você não vai utilizar neste momento, e assim garantindo maior precisão. Oh não, uma emboscada te pegou pelas costas! Aja rápido para tirar 5 de energia das armas balísticas e colocá-las no motor, te permitindo manobrar rapidamente para desviar dos ataques! E se o combate parecer já estar perdido, você pode colocar tudo o que tem no drive gravitacional e se escafeder o mais rápido possível para outro canto da galáxia. Covardia não, retirada emergencial estratégica.

Outro ponto importante da batalha é poder mirar exatamente onde você quer acertar. Imagine se deparar com uma daquelas naves iradas da Crimson Fleet – talvez você queira derrotá-los sem sacrificar aquela belezinha. Foque nos propulsores da nave. Tendo sucesso, ela não conseguirá mais se locomover. Talvez exploda seus lançadores de mísseis apenas para se sentir mais seguro. Daí, é hora de embarcar. Tal qual um Jack Sparrow, você pode forçar sua entrada dentro da nave e limpá-la de seus antigos donos, reivindicando o veículo e tudo que está dentro dele para você. Daí só falta falsificar alguns documentos, consertar o que você detonou e pronto, você tem uma nova caranga voadora para colocar na garagem, vender ou personalizar ao seu gosto.

Pimp My Ride… And Outpost

Assim como você pode personalizar minuciosamente seu personagem, o mesmo pode ser dito de suas naves e outposts.

Referenciando um certo YouTuber com formato craniano de Xenomorfo, não se preocupe que você não será OBRIGADO a lidar com nenhum sistema que não sinta vontade – você pode ganhar seu dinheiro da maneira que preferir e simplesmente comprar uma nave espacial que achar mais adequada às suas necessidades ao invés de personalizar ou montar uma. Mas para quem quiser mergulhar na construção e costumização, o negócio é bem profundo.

Você pode pilotar uma nave minúscula designada apenas para a locomoção ligeira e evitar conflitos, assim como cargueiros gigantes para transportar o máximo de muamba que conseguir. Você pode acoplar módulos habitacionais para aumentar o número de viajantes que a nave comporta, módulos de crafting para criar geringonças, refeitórios, containers para levar mais carga, armários secretos para levar produtos ilegais, depósito de armas e equipamentos pessoais, e um tanto mais de coisas que ainda não sabemos. Este modo de construção funciona quase como um LEGO. Você irá juntar e encaixar as partes no layout que preferir. O formato e cor da nave ficam de acordo com sua imaginação.

O mesmo pode ser dito de Outposts, suas bases em outros planetas. Ainda não está 100% claro como elas funcionarão, mas o objetivo é extrair recursos de planetas. Recursos esses que parecem ser minérios, plantas ou até animais – sim, você pode ter sua fazendinha particular. Mas a base não funcionará sozinha, sendo necessário contratar funcionários para realizarem o trabalho duro por você. É um sistema de gerenciamento (OPCIONAL!) que te permitirá brincar de empresário espacial, gerando materiais que você poderá usar para crafting ou vendê-los, como uma fonte de renda extra.

Se você gostar bastante de como um Outpost seu ficou, você pode até transformá-lo em sua casa. Consigo ver muitos jogadores metendo o The Sims perdendo horas escolhendo carpetes, sofás e azulejos.


No Espaço, Muita Gente Pode Ouvir Você Gritar

Mais do que qualquer outro RPG da Bethesda, Starfield dará muita ênfase aos seus companheiros de jornada. Sua equipe, o pessoal leal a você e que te seguirá até os confins do Universo (literalmente neste caso) finalmente terão seu lugar no holofote.

Não está claro quantos companheiros serão no total, mas alguns possuem mais profundidade narrativa do que outros, rendendo até missões especiais que explorarão seus dilemas pessoais. Se gostar muito de algum, é claro que existirá o já esperado sistema de romance.

Algo interessante é que seus amigos também possuem skills. Sendo assim, podemos presumir que eles também passam de nível e evoluem suas habilidades, exatamente como o seu personagem. Isso expandiria ainda mais as perspectivas para estratégias e gerenciamento. Talvez você não queira levar a líder da Constelation, Sarah Morgan, na nave com você pois muitas das habilidades dela você ou outro membro do grupo já possuem. Mas você pode se aproveitar de seus conhecimentos em botânica e pedir para que ela cuide de sua hidroponia em alguma base sua.

Caso você escolha o Trait de ser um herói renomado, logo no início do game você encontrará o Adoring Fan, um personagem fanático por você (que é uma referência direta ao mesmo personagem que existe em Elder Scrolls IV: Oblivion). Ele pode ser muito inconveniente, mas consegue se esgueirar silenciosamente e carregar bastante peso. Por que não usá-lo de burro de carga? No pior dos casos, no showcase os devs até deixam claro que se você se cansar dos constantes comentários elogiosos desse cara, você pode levá-lo em uma aventura até um planeta bem remoto e, bem, acabar com o problema. A crueldade por vezes é necessária.

Mas, olha, ainda temos o Vasco! Um robô utilitário que parece ser o filho de C3PO com o TARS de Interstellar. Não sabemos muito bem o que ele faz de tão especial, mas é um robô gente-fina que carrega uma metralhadora por aí, pessoas de bem sempre o terão em sua equipe.


Vibe Acima de Tudo

Em uma longa entrevista concedida por Todd Howard, ele explica que seu maior foco com o game é o “tom”. Vibe. Atmosfera.

Tanto Elder Scrolls quanto Fallout são jogos que podem parecer genéricos à primeira vista (um mundo de fantasia e um mundo pós-apocalíptico), mas a realidade é que seus universos são riquíssimos.

Elder Scrolls tem uma lore de tamanho e complexidade descomunais, é só dar uma olhada na quantidade de vídeos de lore no YouTube, por vezes vídeos de dezenas de horas detalhando relatos históricos da lore. Vídeos de uma hora falando sobre o deus da loucura Sheogorath. Vídeos de duas horas narrando como a raça Dwemer despareceu. Vídeos de 40mins explicando se é uma contradição as mulheres-lagarto terem seios se elas botam ovos. A liberdade e as regras daquele mundo te fazem sentir imersos, cada livro lido construindo ainda mais um ambiente inconfundível. É incrível saber dos conflitos entre os semi-deuses que rolam por trás dos panos enquanto você é apenas um guerreiro que por vezes apanha de carangueijos. A sensação de finalizar uma missão no Norte de Skyrim, descer de seu cavalo para minerar um pouco de ferro enquanto olha para a Aurora Boreal e aquela trilha sonora aconchegantemente maravilhosa bate na sua cara – ISSO é o tom do qual Todd está falando. Existem inúmeros outros jogos de fantasia medieval, mas Elder Scrolls tem seu próprio tom, assim como Fallout. Uma personalidade convidativa que te prende e te faz sentir parte daquele mundinho.

Um universo rico parece já ter sido construído em Starfield, apesar de propositalmente não divulgarem tantas informações e manter as tramas em segredo. Temos duas guerras interplanetárias cicatrizando a humanidade, empresas poderosas dominando planetas, cultos religiosos. Em certo trailer é possível ver o jogador em Marte, planeta onde ocorre a maior parte de coleta de minérios da galáxia, e andando pelo deserto vermelho ele acaba passando por Curiosity, o rover que a NASA enviou para o planeta vermelho em 2012. Recentemente eles também lançaram três curtas de animação com traços de anime contando histórias pessoais de três habitantes das três principais cidades do game. Já deu para perceber que eles estão tratando sua nova franquia com o mesmo carinho e nível de detalhes das clássicas.

Trilha sonora é uma peça fundamental na construção da atmosfera. No momento temos na íntegra apenas o tema épico principal de Starfield, mas durante o longo showcase que fizeram há dois meses, podemos escutar algumas músicas diferentes. Incompletas e com pessoas falando no fundo, mas cara, tem uma ali em especial que já consigo prever sendo infinitamente utilizada como música de fundo de vídeos de YouTube. Relaxante demais, ainda assim misterioso, com o “tic toc” de um grande pêndulo trazendo seu ritmo ao passo que sintetizadores crescentes te mergulham na vibe do desconhecido.

Há ainda o environmental storytelling, termo complicado que se refere à narrativas construídas exclusivamente através da ambientação. Pode ser algo simples como uma casa campestre claramente abandonada às pressas e repleta de marcas de garras, implicando que existem feras ameaçadoras na região. Dicas de um mistério a ser desvendendo em um lago, na beira do qual se encontra equipamentos de pesquisa. Ou algo engraçado como o famoso esqueleto em Fallout de alguém que faleceu enquanto segurava um ventilador contra seu próprio membro peniano. Talvez ele tenha cedido à curiosidade humana nos seus último momentos ao ver a explosão nuclear chegando cada vez mais perto. “Por que não?”, ele deve ter pensando.

Todos esses pequenos detalhes se unem para criar algo inesquecível. Unido à todos os grandes fatores de gameplay que já discutimos, bem, esta é a tão famosa magia da Bethesda.

See You, Space Cowboy

Ufa. Quatro dias de pesquisa, escrita e edição. Espero que tenha concluído minha quest pessoal de levantar todos os aspectos de Starfield que fazem com que fãs da Bethesda estejam tão hypados com este lançamento.

Existem sim reclamações oportunas. A limitação gráfica de 30 quadros por segundo no consoles não é legal, apesar de achar o chororô bastante exagerado. Os gráficos de ambiente estão espetaculares, mas a movimentação facial poderia ser bem melhor. Ou o histórico negativo da Bethesda em lançar jogos com a física bugada – algo que os vários de meses de adiamento podem ter prevenido. Mas fique atento, pois muitos do que estão reclamando são apenas sonistas invejosos por conta da exclusividade deste game para os consoles Xbox.

É realidade é que nada é tão problemático para sequer arranhar a expectativa daqueles que sabem o potencial que Starfield tem. Pode me chamar de emocionado, mas digo que podemos estar há semanas da chegada de um dos melhores jogos de todos os tempos.

Seja como for, o game estará no GamePass, e o XCloud é uma realidade. É a primeira vez que um jogo histórico estará tão facilmente acessível à todos que tiverem interesse.

Será que Starfield conseguirá se provar digno de tanta expectativa?

Espere pela minha análise.

Ou melhor ainda, jogue Starfield e assim poderemos discutir juntos o quão bom ele realmente é.

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