BLEFE DE PEQUIM? POR QUE A AMEAÇA CHINESA DE BANIR FILMES AMERICANOS PODE SER UM TIRO PELA CULATRA

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Em meio às crescentes tensões comerciais entre Estados Unidos e China, o presidente Donald Trump elevou significativamente a pressão ao impor tarifas de 125% sobre importações chinesas. Como era esperado, Pequim não demorou a anunciar suas medidas de retaliação, com a ameaça de proibir a exibição de filmes americanos em todo seu território sendo uma das respostas mais visíveis.

À primeira vista, tal medida parece um golpe certeiro contra os interesses econômicos americanos – afinal, a China representa o segundo maior mercado cinematográfico do mundo. No entanto, uma análise mais detalhada dos números recentes revela que esta ameaça pode ser muito menos impactante do que os líderes chineses imaginam, e talvez até mesmo contraproducente.

O timing desta ameaça é particularmente curioso, pois ocorre justamente quando a dependência de Hollywood do mercado chinês está em seu ponto mais baixo em anos. Se tal medida tivesse sido implementada há uma década, quando os estúdios americanos adaptavam ativamente seus conteúdos para agradar aos censores chineses e viam o país como o novo El Dorado, o impacto teria sido devastador. Hoje, contudo, a realidade é bem diferente.

OS NÚMEROS QUE DESMASCARAM O MITO DA DEPENDÊNCIA

Dados compilados por Alan Ng, editor-chefe do Film Threat, demonstram conclusivamente o declínio da relevância financeira da China para os grandes lançamentos de Hollywood. A tabela de desempenho de filmes americanos no mercado chinês em 2025 revela um padrão claro: mesmo os maiores sucessos estão gerando uma proporção cada vez menor de sua receita global na China.

“Godzilla vs. Kong” representa uma das poucas exceções recentes, tendo arrecadado US$ 134 milhões na China. No entanto, mesmo esse valor impressionante corresponde a apenas 23% do faturamento global do filme – uma porcentagem significativa, mas longe de ser determinante para seu sucesso comercial.

Outros blockbusters demonstram ainda mais claramente esta tendência. “Deadpool & Wolverine”, um dos maiores sucessos globais recentes, teve desempenho consideravelmente abaixo das expectativas no mercado chinês. O mesmo ocorreu com “Moana 2” e “Dune Part 2”, que geraram proporções cada vez menores de sua receita total na China quando comparados com seus predecessores ou com filmes semelhantes de anos anteriores.

Esta mudança reflete tanto a evolução das políticas de censura chinesas, que se tornaram mais restritivas, quanto o crescimento da indústria cinematográfica local chinesa, que agora produz seus próprios blockbusters capazes de competir diretamente com as produções americanas. Adicionalmente, o público chinês demonstra crescente preferência por conteúdo local que reflete sua própria cultura e valores.

O paradoxo da situação atual é que, enquanto os números mostram claramente a diminuição da importância financeira da China, muitos estúdios de Hollywood ainda operam com uma mentalidade ultrapassada, continuando a alterar conteúdos e promover materiais específicos para satisfazer os censores chineses. Esta abordagem, baseada mais no medo e inércia do que em estratégia comercial efetiva, sugere que a indústria pode estar demorando a se adaptar à nova realidade.

Se a ameaça chinesa se concretizar, os estúdios americanos poderão finalmente ser forçados a abandonar esta postura conciliatória e focar em mercados mais lucrativos e menos problemáticos, potencialmente libertando suas narrativas das restrições impostas pela tentativa de agradar simultaneamente audiências ocidentais e os censores chineses.

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