Minecraft: O Filme SURPREENDE com diversão para todas as idades, mas o roteiro…

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“Minecraft: O Filme” chega aos cinemas carregado de expectativas tão grandes quanto o fenômeno global que lhe deu origem. Desde o anúncio do projeto em meados de 2014, a curiosidade em torno de como o diretor Jared Hess — conhecido pelo humor estranho e despretensioso de “Napoleon Dynamite” — adaptaria o jogo de mundo aberto mais famoso do planeta só aumentou. Agora, após vários atrasos e reformulações, temos finalmente a oportunidade de conferir o resultado, que pode ser descrito como uma aventura familiar cheia de altos e baixos, rica em referências ao game, mas que, ao mesmo tempo, se perde em tramas paralelas e um excesso de personagens.

A história começa com a descoberta de uma velha mina real, guardada por um idoso aparentemente insano, mas que esconde um dos segredos mais impressionantes: um portal para o misterioso Overworld, o universo pixelado e vibrante onde tudo pode ser criado, derrubado e reconstruído a partir de blocos. É através desse portal que Steve (interpretado pelo carismático Jack Black) cruza os limites de nossa realidade, acompanhado de seu fiel companheiro canino-quadrado, Dennis. Lá, eles se deparam com paisagens cubiformes, criaturas icônicas — incluindo porcos, zumbis e toda a sorte de mobs famosos do jogo — e desafios que remetem diretamente à experiência de quem já passou horas a fio explorando cavernas virtuais em busca de minérios.

No entanto, a aparente liberdade criativa do Overworld carrega sombras: existe uma perigosa dimensão paralela, o Nether, habitada por seres suínos e governada pela enigmática e feroz Malgosha (papel de Rachel House), que deseja obter a todo custo dois artefatos mágicos: a Esfera de Domínio e o Cristal da Terra. Juntos, eles concedem poderes imensuráveis sobre o Overworld e abrem brechas para alcançar até mesmo nosso próprio mundo. É nesse ponto que o filme revela sua veia de fantasia clássica, repleta de objetos místicos e disputas pelo poder, ainda que opte por uma abordagem mais leve e cômica em muitas cenas.

Enquanto isso, no mundo real, somos apresentados a um conjunto de personagens que parece ter saído de universos diferentes e se reunido casualmente numa cidadezinha de Idaho. Um desses eixos narrativos envolve Garrett Garrison (o musculoso e surpreendentemente cômico Jason Momoa), ex-campeão de fliperama nos anos 1980, que vive um momento turbulento e financeiro nada promissor. Em outro núcleo, estão os irmãos Natalie (interpretada pela promissora Emma Myers) e Henry (o jovem Sebastian Hansen), que acabam de se mudar para a mesma localidade, carregando as dificuldades típicas de uma família buscando recomeços. É Henry, fascinado por experimentos científicos, quem dispara acidentalmente uma sucessão de eventos que o levam a explorar a misteriosa mina, dando continuidade à jornada que Steve iniciou anos atrás.

Há, sem dúvida, muito o que admirar na realização visual do filme. O trabalho de cenografia e efeitos especiais que recria os biomas do Overworld se destaca pela fidelidade: desde a paisagem bucólica de campos verdejantes até o ambiente ardente e sufocante do Nether, tudo transmite aquela sensação quadrada e estilizada que os fãs reconhecem instantaneamente. Texturas, cores vibrantes e a maneira como cada bloco é representado na tela dão uma aparência única ao universo do filme, tornando-se, sem dúvida, um de seus méritos. Os easter eggs dispostos ao longo da trama (o som clássico de um baú abrindo, a maneira de “craftar” itens e até a aparição inesperada de monstros icônicos) são um presente para quem já passou incontáveis horas no game.

Contudo, o roteiro — fruto da colaboração de diversos escritores — parece pecar ao espalhar sua narrativa em diferentes direções. Temos, ao mesmo tempo, a saga de Steve e Dennis no Overworld, o enigma de Malgosha em busca de poder, as peripécias de Garrett na Terra (tentando reaver sua popularidade perdida) e o drama dos irmãos Natalie e Henry, cada qual enfrentando seus conflitos pessoais. Essa grande mistura, embora compreensível na tentativa de agradar um público diverso, pode fazer o filme parecer desconexo. A aventura infantojuvenil, a comédia pastelão e os momentos mais sombrios de fantasia ficam se alternando de forma irregular, sem encontrar um tom plenamente harmonioso.

Outro ponto que gera controvérsia entre críticos e fãs é o humor. Enquanto o talento cômico de Jack Black consegue arrancar risadas genuínas em algumas sequências — como a já comentada cena que relembra o espírito caótico das comédias ao estilo “Naked Gun” —, em outras o humor soa forçado, baseado em piadas internas ou referências que podem não dialogar bem com quem não está familiarizado com o universo gamer ou com as tiradas típicas do diretor Jared Hess. Já Jason Momoa, embora esforçado, entrega um Garrett por vezes caricato, que se sustenta em um estereótipo de “herói decadente” dos anos 80. É um arco que poderia render discussões interessantes sobre como o passado glorioso de alguém pode se tornar uma prisão, mas não há aprofundamento suficiente: seu personagem segue uma trajetória bastante previsível.

No que diz respeito à vilã, Malgosha, interpretada por Rachel House, vemos uma oportunidade desperdiçada. A atriz, que costuma brilhar em papéis de antagonistas com nuances (como em “Thor: Ragnarok”, na pele de Topaz, assistente de Grandmaster), aparece aqui empunhando expressões faciais marcantes e uma imponência que claramente poderia ser melhor explorada. A motivação de Malgosha em dominar reinos e obter o artefato mágico se resume a discursos grandiloquentes, sem vermos camadas mais profundas ou razões pessoais que a levem a enfrentar Steve e seus aliados. Ela se mantém como um clichê da fantasia, a vilã determinada a conquistar tudo por puro desejo de poder.

Ainda assim, seria injusto ignorar o quanto a produção serve como uma carta de amor aos fãs de “Minecraft”. Há uma genuína vontade de transportar o espectador para dentro do universo do jogo, enfatizando a essência de liberdade e criação ilimitada que definiu o sucesso do título da Mojang. É como se, a qualquer momento, pudéssemos ver um dos protagonistas empilhando blocos de maneira artesanal para construir uma ponte improvisada ou cavando até encontrar diamantes preciosos. Essa sensação de descoberta constante funciona bem nas sequências que envolvem exploração e construção, conferindo ao longa um brilho especial que justifica a empolgação dos aficionados pelo game.

Por outro lado, a tentativa de tornar o filme em um “blockbuster” que agrade a todas as idades e públicos — desde crianças que só conhecem “Minecraft” pelas transmissões de YouTubers famosos, até adultos que se apaixonaram pelo título há mais de uma década — faz com que a narrativa seja, ao mesmo tempo, corrida e arrastada. Corrida, porque a ação precisa ser frenética para segurar a atenção dos mais novos. Arrastada, pois há um acúmulo de situações e personagens que, em vez de se entrelaçarem de forma orgânica, acabam diluindo o foco principal.

Em termos de espetáculo visual e potencial para entretenimento, “Minecraft: O Filme” cumpre o que promete: há sequências de batalha contra criaturas quadradas, momentos de humor físico, referências que arrancam sorrisos de quem conhece os “mobs” de cor e salteado, e uma trilha sonora que alterna entre faixas orquestrais e arranjos que evocam os temas minimalistas do jogo. Em contrapartida, o caráter amontoado de histórias paralelas e a falta de coesão do roteiro impedem que o filme alcance a grandiosidade que seu tema poderia oferecer.

Em resumo, o longa de Jared Hess fica em um meio-termo peculiar: não é uma decepção total, pois traz a magia do Overworld em sequências cativantes e respeita várias referências aguardadas pelos jogadores; mas também não se firma como a superprodução definitiva da Warner Bros., aquela que parecia almejar rivalizar com o domínio da Disney e alcançar o cobiçado bilhão de dólares em bilheteria. Para os fãs de “Minecraft”, a mera existência de uma adaptação tão grande e visualmente fiel pode ser motivo de celebração e nostalgia. Para os espectadores que chegarem sem bagagem prévia, há um universo colorido a ser explorado, mas que pode parecer excessivamente fragmentado e, em certos momentos, sem a fluidez narrativa de outros blockbusters de fantasia.

Mesmo assim, há mérito em ver gigantes do cinema tentando dialogar com o público gamer de forma aberta, explorando a cultura pop digital que continua a crescer. “Minecraft: O Filme” representa um esforço inegável para unir dois mundos: o da tela grande e o dos pixels. Se esse esforço não é tão lapidado quanto um diamante recém-encontrado em uma caverna do jogo, ainda deixa claro o valor do material original e a força de uma comunidade que segue alimentando o imaginário de construções infinitas, monstros surpreendentes e a capacidade de transformar qualquer bloco em uma história única.

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