Simon Green, mais conhecido como Bonobo, revelou detalhes fascinantes sobre sua colaboração com o renomado diretor de anime Shinichirō Watanabe para a trilha sonora da nova série “Lazarus”. A parceria começou no início de 2023, quando Watanabe, fã do trabalho de Bonobo, convidou o músico para contribuir com o projeto. “Ele me enviou um PDF com a descrição de todos os personagens, quem eles eram e suas histórias de fundo no universo que ele estava construindo”, contou Bonobo em entrevista recente.
Fã declarado de trabalhos anteriores de Watanabe como “Cowboy Bebop” e “Samurai Champloo”, Bonobo reconhece a influência que trilhas sonoras de animes clássicos como “Akira” e “Ghost in the Shell” tiveram em sua carreira. Sua música “Otomo”, do álbum “Fragments”, é uma homenagem direta ao diretor de “Akira”, demonstrando como a percussão japonesa e as vozes corais desses animes o inspiraram profundamente. “As trilhas sonoras, especialmente em anime, são realmente inspiradoras para mim”, afirmou o produtor.
O PACTO COM O DIABO QUE CONECTA O INÍCIO E O FIM DA SÉRIE
Um dos momentos mais significativos da entrevista foi quando Bonobo revelou os bastidores da criação de “Dark Will Fall”, música que abre o primeiro episódio de “Lazarus”. Durante um encontro em Tóquio, Watanabe enfatizou a importância desta composição específica, descrevendo-a como tendo “a vibe de um homem que vendeu sua alma ao diabo”, em referência direta à clássica música de blues “Me and the Devil” de Robert Johnson.
“É sobre esses pactos com o diabo. É uma ideia clássica do Delta blues”, explicou Bonobo sobre a inspiração para a música. O que torna essa composição ainda mais especial é seu papel estrutural na narrativa da série: “A música real termina na cena final, no final do show. Então, meio que tem esse momento de círculo completo; esta música está na primeira cena e está na última cena. Você não ouve o final da música até o final do show.”
Apesar do desafio de criar uma música inspirada no blues, gênero com o qual não está familiarizado, Bonobo colaborou com o vocalista Jacob Lusk para desenvolver uma versão contemporânea que capturasse a essência da referência original. Além disso, o produtor incorporou elementos de música mundial em sua trilha sonora, destacando o uso de uma harpa ugandesa chamada dongo na faixa “Hearts” – instrumento semelhante à kora africana que ele conheceu durante um acampamento de composição com o Gorillaz.
Ao lado de Kamasi Washington e Floating Points, Bonobo ajudou a criar a paisagem sonora do que pode ser considerada a obra mais ambiciosa de Watanabe até hoje, mantendo-se fiel ao seu próprio estilo musical enquanto homenageia as tradições que influenciaram tanto o diretor quanto sua própria carreira.