Respire fundo, leitor, porque a caravana woke aportou em Coruscant. O artigo da Entertainment Weekly anuncia, com a empolgação de quem descobre a cura do câncer, que “finalmente” tivemos a primeira tentativa de estupro explícita no cânone de Star Wars. Trata-se do terceiro episódio da 2ª temporada de Andor, em que o tenente imperial Krole (Alex Waldmann) tenta coagir Bix Caleen (Adria Arjona) a “negociar” sexo para não ser entregue ao Império. Fato é fato — mas a repórter Maureen Lee Lenker transforma esse detalhe mórbido num troféu de relevância progressista, repetindo quinze vezes palavras como importância histórica, peso simbólico e espelho da sociedade. O leitor atento percebe rapidinho: a moça não está preocupada em informar; ela quer carimbar selo de “denúncia social” em qualquer coisa, seja sabre de luz, seja lata de lixo galáctica.
Prepare-se para o tom de seminário acadêmico: a jornalista afirma que a cena “cruza um Rubicão” e “transporta traumas femininos do mundo real para uma galáxia muito, muito distante”. Engraçado — a mesma saga já mostrou escravidão em massa, genocídio de planeta inteiro e um hutt babão escravizando a Leia em biquíni, mas nada parecia “sério” o bastante até alguém ameaçar sexo forçado em prime time. Isso diz mais sobre a obsessão contemporânea da imprensa com pauta identitária do que sobre ousadia narrativa de Tony Gilroy. Enquanto o fandom debate roteiro, a redação vibra porque ganhou um pretexto para lacrar nos Trending Topics.
Ah, claro: não poderia faltar a lição de moral. A autora enfileira termos como culpa imperial, patriarcado galáctico e lugar de fala sideral, sugerindo que só agora Star Wars amadureceu de verdade. Curioso como a mesma turma que critica “violência gratuita” faz festa quando a violência serve de palanque ideológico. Tudo vira cartilha: se é pra empilhar clique indignado, vale até trocar o sabre de luz por régua de estudos de gênero.
Drama hollywoodiano elevado a tese de mestrado—com assinatura premium no rodapé
A atriz Adria Arjona descreve a gravação como “Olimpíadas de atuação” e afirma ter mergulhado em relatos de vítimas reais de estupro e tortura para compor Bix. Trabalho artístico digno — nada contra. O problema começa quando o texto converte cada fala da atriz numa aula de sociologia fast-food: “espelhamento da realidade”, “responsabilidade coletiva”, “processo de cura”. Soa bonito, vende bem, mas é basicamente um merchandising de virtude. E não se iluda: no fim da página vem o convite para assinar newsletter “exclusiva” por módicos dólares mensais. A rebeldia é revolucionária, mas o boleto é capitalista.
Enquanto isso, a jornalista faz piruetas semânticas para justificar a escolha do termo “marido” na boca de Bix, explicando que é “estratégia de poder” — quase uma tese linguística que faria Foucault pit-stop em Dagobah. Entre hype progressista e marketing de streaming, ninguém lembra que Andor ainda é um thriller político recheado de espionagem, ação e complexidade que se sustenta sozinho. Mas por que falar de roteiro, arcos ou ritmo, se dá muito mais curtida proclamar que a Disney, no alto de seu orçamento bilionário, finalmente combate a cultura do estupro?
Resultado: o espectador comum recebe informação distorcida (“Star Wars agora é sério!”), o jornalista posa de paladino do oprimido e a corporação embolsa assinatura extra. Todos felizes — menos quem ainda acredita que jornalismo deveria relatar fatos sem virar panfleto pós-moderno. No final, a verdadeira Força continua sendo o cliques-midiclorianos que alimentam esse ciclo de moralismo pop-progressista. Se Yoda visse, largava o sabre e pedia aposentadoria antecipada.
Como funciona um sabre de luz: A Ciência por trás dos duelos de Star Wars