Existe algo profundamente patético em assistir um estúdio tentando disfarçar um funeral como uma festa de aniversário. É exatamente isso que presenciamos com o Superman de James Gunn fazendo sua aterrissagem forçada nas plataformas digitais apenas 35 dias após estrear nos cinemas — um recorde que nem os filmes mais execráveis da Asylum conseguem bater.
A desculpa oficial? Peacemaker.
Sim, você leu certo. O destino do Homem de Aço agora depende de um personagem que John Cena interpreta com a mesma sutileza de um trator passando por cima de uma loja de cristais. Gunn, em sua infinita sabedoria, decidiu que o público precisava assistir Superman em casa antes que a segunda temporada de seu bebê favorito estreasse. É como queimar a casa para assar um marshmallow.
“É muito complicado”, balbuciou Gunn para a Screen Rant, numa performance digna de político pego com a boca na botija. A verdade é simples como um soco do Doomsday: o filme está sangrando dinheiro nos cinemas e alguém na Warner Bros. Discovery decidiu estancar a hemorragia migrando para o digital, onde pelo menos podem cobrar 19,99 dólares de otários esperançosos.

O que temos aqui é um caso clássico de dissonância corporativa elevada ao cubo.
De um lado, Superman foi vendido como o grande recomeço do DCU, a redenção após anos de Snyderverso mal compreendido. Do outro, Peacemaker continua sendo aquele primo inconveniente que aparece bêbado no casamento e começa a contar piadas de mau gosto. São produtos para públicos completamente diferentes sendo amarrados juntos como se fossem gêmeos siameses.
A matemática da Warner é fascinante em sua estupidez: vamos usar um filme que está afundando para promover uma série que ninguém pediu segunda temporada, enquanto fingimos que isso faz parte de um plano mestre. É o equivalente cinematográfico de tapar o sol com a peneira usando um guardanapo furado.
O mais hilário é Gunn tentando vender essa salada de continuidade como algo coerente. Creature Commandos começou o DCU, mas Superman é o início oficial, exceto que Peacemaker já existia antes mas agora é canon, menos as partes que não são. Entendeu? Nem eles.
Enquanto isso, o público — aquele que ainda se importa — assiste perplexo essa dança macabra entre produtos que não conversam entre si.
Superman deveria ser o símbolo da esperança. Ao invés disso, tornou-se o símbolo perfeito da esquizofrenia criativa que domina Hollywood: queremos fazer filmes para todos, mas também queremos nosso nicho adulto violento. Queremos respeitar o legado, mas também subvertê-lo. Queremos lucro, mas também pontos de virtude.
O resultado? Um Superman que voa direto para o streaming porque nem a gravidade dos cinemas consegue mais segurá-lo.