THE LAST OF US 2×1 PERDE SUA ESSÊNCIA NA BUSCA POR AGRADAR O PÚBLICO MODERNO

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A HBO acaba de lançar o primeiro episódio da segunda temporada de The Last of Us, e já é possível notar diferenças consideráveis em relação ao jogo que inspirou a série. A produção continua impressionante visualmente, mas algumas decisões narrativas levantam questões sobre o equilíbrio entre inovação e fidelidade ao material original.

Uma das alterações mais notáveis é a forma como a personagem Abby é introduzida. No jogo, sua identidade e motivações eram reveladas gradualmente, criando camadas de complexidade moral que desafiavam o jogador. Na série, optou-se por revelar quem ela é e o que pretende logo de início, um atalho narrativo que, infelizmente, sacrifica parte da riqueza da história original.

Outro aspecto que não passou despercebido é a caracterização física de Abby. No jogo, ela possuía uma musculatura impressionante que refletia sua determinação e preparação para a vingança que planejava. A atriz Caitlyn Dever, embora talentosa, não apresenta essa característica marcante, o que representa uma mudança significativa na construção visual da personagem. Seria interessante entender as razões por trás dessa escolha – talvez uma decisão que privilegiou outros aspectos da interpretação em detrimento da semelhança física com a versão do jogo.

PERSONAGENS ADAPTADOS AOS NOVOS TEMPOS

O comportamento de Ellie e Dina também passa por transformações sutis, mas perceptíveis. Na cena em que entram na casa infestada por “clickers”, as personagens demonstram uma despreocupação que parece deslocada do perigo constante que define aquele universo. Elas fazem piadas e agem com uma leveza que contrasta com a tensão e o medo que normalmente acompanham situações similares no jogo, diluindo o elemento de horror que era tão característico da franquia.

Joel, interpretado por Pedro Pascal, aparece como uma versão mais suavizada do personagem original. O sobrevivente durão do jogo agora frequenta terapia e demonstra um lado mais vulnerável e acessível. Embora esta abordagem possa ressoar melhor com as expectativas contemporâneas sobre masculinidade e paternidade, é inegável que ela representa uma mudança significativa na essência do personagem.

Isabela Merced emerge como um ponto alto do episódio interpretando Dina, trazendo autenticidade e química genuína com Bella Ramsey (Ellie). Katherine O’Hara também brilha como a psicóloga Gale, adicionando uma dimensão emocional interessante à história.

Tecnicamente, a série continua impecável. Cenários, figurinos e fotografia capturam perfeitamente a estética do jogo, demonstrando o cuidado da produção com os detalhes visuais. Algumas sequências são reproduzidas quase quadro a quadro, para deleite dos fãs mais exigentes.

No entanto, fica a reflexão sobre como as adaptações modernas frequentemente reinterpretam seus materiais de origem para se alinhar com as sensibilidades atuais. Enquanto algumas dessas mudanças podem tornar a história mais acessível a novos públicos, outras arriscam diluir justamente os elementos que fizeram o original conquistar tantos admiradores.

Para os fãs que esperavam uma adaptação absolutamente fiel, talvez seja necessário ajustar as expectativas e apreciar esta nova versão como uma reinterpretação contemporânea de uma história já conhecida – com seus méritos e limitações próprios.

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