Quando o capitão abandona o navio, é porque sabe que o iceberg já foi avistado. Neil Druckmann, co-criador de The Last of Us e figura central por trás da adaptação da HBO, anunciou sua saída da série antes mesmo do início da produção da terceira temporada. A justificativa oficial? “Agenda cheia” no Naughty Dog. A realidade? Os números não mentem, e eles contam uma história bem diferente.
Os Dados Não Perdoam
A segunda temporada de The Last of Us na HBO é um estudo de caso perfeito sobre como alienar sua audiência em tempo recorde. Enquanto o final da primeira temporada conquistou impressionantes 8,2 milhões de espectadores nos EUA, o encerramento da segunda temporada despencou para meros 3,7 milhões – uma queda catastrófica de 55%. Para colocar isso em perspectiva: a série perdeu mais da metade de seu público em uma única temporada.
Mais revelador ainda é o declínio interno da própria segunda temporada. Estreando com 5,3 milhões de espectadores, a temporada sangrou aproximadamente 30% de sua audiência ao longo dos episódios. Em uma era onde o streaming deveria facilitar o engajamento contínuo, conseguir que os espectadores desistam de uma série no meio do caminho é quase uma proeza.
O Abismo Entre Crítica e Público
Aqui chegamos ao ponto mais interessante – e sintomático – de toda essa situação. No Rotten Tomatoes, The Last of Us mantém respeitáveis 92% de aprovação da crítica especializada. O público? Apenas 37%. Essa divergência de 55 pontos percentuais não é apenas um número; é um manifesto sobre o estado atual da indústria do entretenimento.
Quando jornalistas e críticos vivem em uma bolha completamente desconectada do que o público realmente quer consumir, temos um problema sistêmico. A crítica especializada, muitas vezes mais preocupada em agradar certas correntes ideológicas do que em avaliar genuinamente a qualidade narrativa, tornou-se um termômetro quebrado para o sucesso real de uma produção.
A Herança Controversa de The Last of Us Parte II
A segunda temporada da série adapta fielmente o controverso The Last of Us Parte II, jogo que dividiu violentamente a base de fãs quando foi lançado em 2020. O problema não foi apenas a morte chocante de Joel – personagem querido pelos jogadores – mas a forma como a narrativa foi estruturada para justificar e romantizar essa escolha.
Druckmann, conhecido por suas posições progressistas bem documentadas, construiu uma narrativa que prioriza mensagens sobre revanche e violência em detrimento do desenvolvimento orgânico dos personagens que os fãs aprenderam a amar. O resultado? Uma história tecnicamente competente, mas emocionalmente desconectada de sua audiência core.
A Fuga Estratégica
A saída de Druckmann neste momento específico é, no mínimo, suspeita. Não é coincidência que ele decida “focar no Naughty Dog” justamente quando os números da série despencam e as críticas do público se intensificam. É uma manobra clássica de Hollywood: quando o projeto começa a cheirar mal, os criativos originais encontram rapidamente outras “prioridades”.
A HBO, claro, tentará vender a narrativa de que “a audiência cresce com o tempo” através de visualizações tardias. É o mesmo discurso usado por todos os streamings quando suas produções fracassam em tempo real. A verdade é que uma queda de 55% na audiência é um sinal vermelho que nenhuma visualização “delayed” consegue mascarar.
O Futuro Incerto
Com Druckmann fora de cena, a terceira temporada de The Last of Us se encontra em uma posição peculiar. Por um lado, sua saída pode permitir que novos showrunners corrijam alguns dos problemas narrativos que alienaram o público. Por outro, a série pode ter cavado um buraco tão profundo que nem mesmo uma mudança criativa conseguirá salvá-la.
O caso The Last of Us serve como um lembrete brutal de que, no final das contas, é o público que decide o destino de qualquer produção. Críticos podem escrever resenhas elogiosas e executivos podem manipular narrativas, mas quando os espectadores simplesmente param de assistir, não há spin que sustente.
Neil Druckmann pode ter abandonado o navio, mas deixou para trás uma lição valiosa: na era do streaming, onde cada view é contabilizada e cada abandono é mensurado, a desconexão entre criadores e audiência tem consequências imediatas e mensuráveis. E os números, diferentemente das críticas especializadas, não mentem.
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