Com o lançamento de Assassin’s Creed Shadows a apenas três dias, a Ubisoft parece ter atingido um nível de desespero que expõe suas fragilidades. Relatórios apontam que a empresa montou uma equipe especial dedicada a proteger os desenvolvedores do que chama de “assédio online”. Contudo, a definição vaga e subjetiva do que a Ubisoft classifica como “assédio” levanta suspeitas inquietantes. Há quem questione se essa medida não passa de uma estratégia para calar críticos e manipular a narrativa sobre seu mais recente jogo, que já nasce envolto em controvérsias. A Ubisoft, conhecida por títulos como Assassin’s Creed Valhalla e Far Cry 6, tem enfrentado uma onda de desaprovação por decisões criativas questionáveis e pela qualidade inconsistente de seus lançamentos recentes, o que torna o timing dessa iniciativa ainda mais suspeito.
A controvérsia em torno de Assassin’s Creed Shadows não é novidade para a empresa, que já foi acusada de inserir agendas políticas em suas histórias e de desrespeitar a precisão histórica — algo que irritou fãs de longa data. Diante disso, a Ubisoft parece menos interessada em dialogar com a comunidade e mais focada em abafar qualquer crítica que possa prejudicar sua imagem ou os lucros. Essa postura reflete uma tendência preocupante: a priorização da narrativa corporativa sobre a liberdade de expressão dos jogadores.
O Risco de Censura e Silenciamento
Um funcionário anônimo da Ubisoft, em entrevista à emissora francesa BFMTV, revelou que a empresa lançou um amplo “plano anti-assédio online” às vésperas do lançamento de Assassin’s Creed Shadows. Esse plano envolve equipes monitorando plataformas como X, YouTube e Reddit, além de advogados prontos para abrir processos contra quem a Ubisoft julgar ter “ultrapassado os limites”. A empresa foi além, orientando seus desenvolvedores a ocultar sua associação com a Ubisoft nas redes sociais, uma medida que sugere medo de retaliação pública — ou, talvez, uma tentativa de blindar a marca de críticas legítimas.
Embora ninguém defenda ameaças pessoais contra funcionários, o problema está na falta de transparência sobre o que a Ubisoft considera “assédio”. Será que memes satirizando o jogo, críticas à jogabilidade ou questionamentos sobre a representação do protagonista Yasuke — um samurai de origem africana em um Japão feudal — podem ser enquadrados como ofensas? A empresa não esclarece, e essa ambiguidade abre espaço para abusos. Pior ainda: há indícios de que a Ubisoft firmou uma parceria com a Agência de Segurança de Comunicações do Canadá (CSE), uma entidade governamental voltada à cibersegurança, para monitorar o discurso online. Essa colaboração é alarmante. Por que uma corporação de videogames precisa de ferramentas de vigilância estatal para policiar comentários sobre um produto comercial? Isso cheira a censura disfarçada de proteção, um precedente perigoso que ameaça a liberdade de expressão em um setor que sempre prosperou graças ao debate aberto.
A CSE, com seu histórico de monitoramento de comunicações, não deveria estar envolvida em questões de relações públicas de uma empresa privada. Essa aliança sugere que a Ubisoft está disposta a usar o poder do Estado para silenciar vozes dissidentes, algo que vai além da proteção de seus funcionários e entra no território da repressão autoritária. A empresa, pressionada por investidores após anos de lançamentos mornos e quedas nas vendas, parece mais interessada em salvar sua reputação do que em resolver os problemas apontados pelos jogadores.
A Preocupação com a Liberdade de Expressão

A possibilidade de um órgão governamental ser usado para sufocar críticas — não crimes, mas opiniões — é um ataque direto à liberdade de expressão, valor essencial em qualquer sociedade livre. A Ubisoft, ao invés de encarar as críticas como uma oportunidade de melhoria, escolhe o caminho da intimidação. Criadores de conteúdo, jornalistas e jogadores comuns agora temem que uma análise negativa de Assassin’s Creed Shadows ou um comentário irônico seja rotulado como “assédio”, resultando em remoção de conteúdo ou até processos judiciais. Sem uma definição clara do que é ou não permitido, a Ubisoft cria um ambiente de autocensura, onde ninguém se arrisca a falar a verdade por medo de represálias.
Esse não é um caso isolado. A Ubisoft já foi criticada por tentar manipular a percepção pública de seus jogos, como no lançamento de Watch Dogs: Legion, quando pressionou influenciadores a suavizarem suas avaliações. Agora, com Assassin’s Creed Shadows, a empresa eleva o jogo ao recrutar apoio estatal para sua cruzada contra os detratores. Isso não é proteção aos desenvolvedores; é uma tentativa descarada de preservar lucros e abafar o descontentamento dos fãs. A mensagem é clara: critique a Ubisoft e enfrente as consequências.
A indústria dos jogos sempre foi um espaço de criatividade e liberdade, onde os jogadores tinham voz ativa. A postura da Ubisoft ameaça esse legado, substituindo o diálogo por controle e a crítica por silêncio forçado. É hora de a empresa abandonar essas táticas autoritárias, oferecer transparência sobre suas políticas e respeitar o direito dos fãs de expressarem suas opiniões — sejam elas positivas ou negativas. A comunidade gamer deve se unir contra essa ofensiva à liberdade de expressão, exigindo que a Ubisoft priorize a qualidade de seus jogos em vez de apostar na censura para salvar sua reputação em declínio.