Quarenta variantes. Quarenta.
Para dois quadrinhos.
Se você quisesse uma metáfora perfeita para o estado terminal da indústria de quadrinhos americanos, não conseguiria inventar nada melhor. É como assistir ao Titanic afundando enquanto a orquestra toca não uma, mas quarenta versões diferentes de “Nearer My God to Thee”.
Marvel e DC finalmente se unem depois de duas décadas. O evento do século, dizem eles. O momento histórico que os fãs esperavam. E como celebram? Transformando o que deveria ser uma celebração criativa em um esquema de pirâmide disfarçado de nostalgia.
Lembro quando Action Comics #1 valia fortuna porque era raro, não porque foi lançado em quarenta sabores diferentes como sorvete de boutique.

O cinismo é tão descarado que chega a ser admirável. Dan Buckley, presidente da Marvel, admite sem pudor: “Nosso grande objetivo é trazer leitores que abandonaram a indústria de volta”. Tradução: estamos tão desesperados que vamos ressuscitar o cadáver dos crossovers dos anos 90 e cobrar cinquenta vezes por ele.
Grant Morrison, outrora o enfant terrible dos quadrinhos, agora escreve sobre “quebra da quarta parede” e “horror cósmico metaficcional”. É como ver Picasso nos seus últimos anos pintando retratos de turistas por cinco euros na Place du Tertre. A genialidade domesticada pela necessidade corporativa.
Enquanto isso, o mangá devora o mercado como Pac-Man em esteroides.
Sabe por quê? Porque quando você compra um volume de “Chainsaw Man”, você recebe uma história. Uma capa. Um produto. Não precisa escolher entre a variante de Jim Lee, a de Frank Miller ou a holográfica com cheiro de bacon. Você simplesmente lê a maldita história.
Mas não. A indústria americana prefere ordenhar os últimos gotas de leite de uma vaca moribunda. Cada variante é um atestado de óbito parcial. Cada capa exclusiva, uma pá de terra no caixão de uma arte que já foi revolucionária.

O mais tragicômico? Eles chamam isso de “elevar” o meio. Como se multiplicar capas fosse alquimia artística. Como se a quantidade pudesse substituir qualidade. É a lógica do buffet livre aplicada à arte sequencial: não importa o sabor, desde que você pague pelo prato.
Os colecionadores compulsivos — os últimos mohicanos dessa indústria — vão gastar o salário tentando completar a coleção. As lojas vão apostar suas economias em variantes que ninguém quer. E daqui a seis meses, quando os números de venda chegarem, todos vão fingir surpresa.

“Por que os jovens não leem mais quadrinhos americanos?”, perguntarão os executivos, enquanto contam as notas manchadas de desespero.
A resposta está nas prateleiras das livrarias. De um lado, quarenta versões da mesma coisa. Do outro, histórias que respeitam o leitor e seu dinheiro. Não é rocket science. É apenas business básico que a indústria se recusa a aprender.
Este crossover não é uma celebração. É um velório.
E as quarenta capas? São as flores no funeral.
Descanse em paz, indústria de quadrinhos americana. Você já foi grande. Agora é apenas um meme caro demais para ser engraçado.
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