É impressionante ver como, em pleno século XXI, a indústria de quadrinhos corporativa continua a abocanhar os direitos de criação dos seus principais talentos, tudo em nome de uma suposta “inovação” que, na prática, parece mais interessada em agradar as métricas de ESG e DEI do que em dar liberdade artística. Rick Remender, ex-roteirista de Punisher, resolveu sacudir a poeira desse circo e gritar aos quatro ventos que não está satisfeito com o status quo. O homem, que não tem papas na língua, vem há quase 30 anos escrevendo para todo tipo de editora gigante – Marvel Comics, IDW, Dynamite e DC Comics –, mas agora decidiu que basta de entregar ouro à “cultura woke” disfarçada de grande corporação.
A TRAJETÓRIA E OS PRINCIPAIS FATOS
Remender, para quem não ligou o nome à pessoa, é responsável por trabalhos em Captain America Vol. 7, The Punisher Vol. 8, Uncanny X-Force Vol. 1 e ainda achou tempo para criar obras independentes como Captain Dingleberry e Black Heart Billy. Em 2017, resolveu dar um passo arrojado: fundou o estúdio Giant Generator com a proposta de criar propriedades intelectuais de forma colaborativa, dividindo 50% dos direitos com os artistas. Numa época em que Hollywood e as grandes editoras parecem mais preocupadas em financiar pautas da “lacração” do que em produzir boas histórias, essa abordagem soa como um verdadeiro grito de liberdade criativa.
A CRÍTICA AO “CARTEL CORPORATIVO” E AO MUNDO ESG
Foi exatamente no meio de uma dessas ações para promover os próximos lançamentos do Giant Generator no Instagram que Remender deixou escancarado seu protesto contra as megacorporações dos quadrinhos. Reclamou que empresas focadas exclusivamente em lucro não estão nem aí para os criadores. Em tom quase profético, disparou: “QUADRINHOS SÃO MELHORES QUANDO SÃO PRODUZIDOS PELAS PESSOAS QUE OS CRIAM. EMPRESAS SEM CORAÇÃO E DIRIGIDAS PELO LUCRO NÃO AMAM VOCÊ. PERMITIR QUE ELAS CONTROLEM O FRUTO DO SEU TRABALHO É UM JOGO DE CURTO PRAZO QUE DEIXA VOCÊ COM NADA NO FINAL.” Em tempos em que grandes conglomerados e CEOs desfilam virtudes “woke” e metas de ESG para sair bonito na foto, pode parecer um paradoxo que justamente as vozes artísticas se vejam mais sufocadas do que nunca. O homem não está errado: de que adianta falar em diversidade e equidade se o criador, no fim do dia, sai de mãos abanando?
O FUTURO INDEPENDENTE E A LUTA CONTRA A “LACRAÇÃO” SEM FIM
Remender garante que manterá o Giant Generator no rumo da independência, produzindo quadrinhos em parceria com a Image Comics e prometendo conteúdo de alta qualidade. Nomes como Steve Epting, Daniel Acuña e Yannick Paquette estão a bordo, o que significa que o projeto não é apenas teoria: há gente talentosa disposta a criar sem o jugo das corporações que adoram pregar discursos inclusivos enquanto abocanham royalties e direitos autorais. Se há algo de admirável em Remender, é essa disposição de bater de frente com o establishment – num universo pop onde todo mundo parece com medo de ferir suscetibilidades, ele escolheu ser a ovelha negra. E, ao que tudo indica, seus próximos trabalhos vão entregar histórias sem rabo preso, livres da preocupação de agradar meia dúzia de executivos que acham que “lacração” é o novo nome da arte. Resta saber se o público, cansado de tanta imposição ideológica, vai abraçar com gosto esse retorno aos quadrinhos genuinamente independentes. Pelo menos, se depender de Remender, a mensagem está clara: a arte não precisa da bênção dos gigantes corporativos – ainda mais desses que dizem defender a diversidade enquanto engolem os criadores na surdina.