“O Juramento Esquecido dos Imagineers da Disney”

Compartilhe:

Se você clicar no player mencionado, encontrará uma restauração completa de 1 hora e 25 minutos das trilhas sonoras e dos efeitos de áudio originais do World of Motion, atração que abriu suas portas junto com o EPCOT em 1º de outubro de 1982. Esse material inclui todo o repertório musical — desde arranjos divertidos tocados na entrada até a narração inconfundível de Gary Owens, além de jingles e efeitos sonoros hilários que representavam a evolução dos meios de transporte.

Ao ouvir essas faixas, não senti apenas aquele toque de nostalgia pelos anos 80 (uma era que muitos visitantes da Disney hoje talvez nem tenham vivido), mas também veio à tona uma pergunta fundamental: será que os grandes atrativos “modernizados” da Disney na Era Bob Iger teriam a mesma dedicação musical? Pense bem, estamos falando de 90 minutos de áudio finalizado, sem contar todo o investimento em ensaios, adaptações, gravações e criações originais que deram vida ao World of Motion.

Quando a Música Faz Parte da Magia

A variedade musical na atração era impressionante: banjos, kazoos, trilhas sinfônicas, jazz, pop, rock e até corais. Isso nos lembra de como existem músicos e arranjadores incrivelmente versáteis — algo que, no passado, víamos em grupos como a orquestra do Tonight Show com Johnny Carson ou, hoje em dia, na banda da Grand Ole Opry em Nashville. Esses profissionais se adaptam a qualquer estilo em um piscar de olhos e contribuem para criar experiências memoráveis.

World of Motion não era apenas uma “viagem na história dos transportes” — era um festival sensorial, repleto de humor, emoção e educação, uma combinação que se tornou a marca registrada do EPCOT original. Para se ter ideia, a atração fechou em 1996 para dar lugar ao Test Track, levando embora não só cenários e animatrônicos, mas toda uma ambientação única que unia trilhas sonoras criadas especificamente para o enredo.

O Dilema do “Novo” vs. “Clássico”

Com a evolução do parque ao longo dos anos, muitos fãs passaram a questionar as mudanças. Se os Imagineers (os famosos criadores das atrações da Disney) acham que algo está “datado” ou não agrada ao público atual, tudo bem — a Disney tem o direito de atualizar seus parques e atrativos. Mas, antes de substituir algo clássico, há um princípio que poderia ser adaptado do juramento médico: “Primeiro, não faça mal”.

Para fazer jus a uma substituição, não basta apresentar uma experiência “ok” ou minimamente interessante. É preciso, no mínimo, igualar a qualidade do que havia antes em contar histórias, emocionar, divertir e criar uma atmosfera envolvente. Idealmente, você deveria superar o original em todos esses quesitos.

Quando se trata do EPCOT e de sua proposta inicial — a de ser um lugar de inovações, educação e entretenimento —, essas substituições merecem uma reflexão ainda mais cuidadosa. Afinal, muitas dessas atrações icônicas foram resultados de investimentos consideráveis em composições, narrações, recursos tecnológicos e talento criativo. Tirar algo que funcionava, sem oferecer uma experiência à altura ou melhor, acaba soando como um retrocesso, mesmo que a intenção seja “modernizar” o parque.

Uma Visão para o Futuro

A Disney continua sendo um gigante do entretenimento mundial, recebendo em torno de 12 milhões de visitantes anuais no EPCOT (dados pré-pandemia), e está sempre em busca de inovações que possam surpreender o público. Porém, essa sede pelo novo não pode ignorar a profundidade e a qualidade de trabalhos passados, especialmente aqueles que marcaram gerações de fãs.

A lição que fica é:

  1. Respeitar o Legado: Se uma atração antiga conquistou um lugar especial no coração do público, entenda o que a fez tão marcante.
  2. Igualar (ou Superar) o Passado: Ao criar algo novo, garanta que a narrativa, a música e a experiência imersiva não sejam apenas boas, mas inesquecíveis.
  3. Manter a Essência: Modernizar não significa abandonar os valores que tornaram o EPCOT único: educação, inovação, inspiração e entretenimento de alta qualidade.

Afinal, se houver uma nova atração com 1 hora e 25 minutos de trilhas meticulosamente orquestradas, efeitos de áudio e narrações que fiquem gravadas na memória coletiva, então talvez estejamos no caminho certo para honrar o espírito que transformou um simples “parque experimental” num lugar de sonho, capaz de inspirar gerações inteiras.

John Williams: o gênio das trilhas sonoras que não pensa em aposentadoria

Publicidade
Publicidade