Teve direito até a grito de “Sem Anistia”…
Vamos supor que a gente pudesse voltar no tempo. Digamos, uns 35 anos. Só para ver a nossa versão mais jovem conferindo o Oscar colado na TV, apenas com canais abertos. Só que com uma mudança: as cerimônias seriam como as de hoje, composta 90% de discursos com politicagem e pregando virtude e perfeição…
Como comentei com amigos após a 97ª edição do Oscar transmitida para o mundo inteiro neste domingo (2): certamente eu nunca seria um fã de cinema como sou hoje. Em suma, filmes medíocres, atores militantes e resultados turbinados pela força do lobby em Hollywood.
Mas não se engane. A lacração sempre esteve nas entranhas da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas norte-americana. A prova é de que derrubaram quase todos os prêmios de Emilia Perez, que acabou ficando até sem o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira (vencido por Ainda Estou Aqui, para alegria da esquerda brasileira que está tomando para si o mérito).
E por falar em Ainda Estou Aqui, seu diretor, Walter Salles, não pareceu muito surpreso por levar a estatueta para o Brasil, sendo um marco para o cinema nacional.
O bilionário cineasta dedicou à Fernanda Montenegro e à Fernanda Torres – esta última, que acabou perdendo em sua categoria para a protagonista de Anora, Mikey Madison. Anora, aliás, foi o campeão da noite, com mais 5 estatuetas: além de Melhor Atriz, venceu também em Melhor Filme, Melhor Edição, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original.
Ao menos, não podemos negar, a Academia foi coerente, diferentemente de 1999 quando Spielberg foi o melhor diretor e O Resgate do Soldado Ryan foi derrotado pelo medíocre Shakespeare Apaixonado.
Mas a vitória de Ainda Estou Aqui entre os estrangeiros, vamos ser sinceros, pouco teve ligação com a arte. A história é muito básica, um mix de fatos e especulação, sobre o desaparecimento do deputado Rubens Paiva na época do regime militar. Sem falar que Emília Perez – o mais cotado para ganhar a estatueta – só perdeu após as declarações de Karla Sofia Gascón submergirem. Cancelamento realizado com sucesso.
A mídia brasileira em dois tempos:
Primeiro: a reação tresloucada da equipe do TNT/MAX, incluindo o ator Lázaro Ramos, que berraram, choraram e pularam ao anunciar a vitória do longa brasileiro.
O segundo momento foi a patética intervenção militante da Rede Globo, que entrevistou uma “espectadora” que pediu “Sem Anistia”, se referindo aos presos do 8 de Janeiro – a maioria deles, condenada sem provas e sem direito à ampla defesa.
Pode esperar Janja gravando vídeos como se tivesse algum mérito em 3, 2, 1…
A enxurrada de lacrações na edição #97 do Oscar
Como todos os anos (politicagem é coisa antiga na “Hollywood da virtude eterna”), a choradeira sobre imigração e outros temas tomou conta dos discursos dos atores, desde Zoe Saldana (vencedora de Melhor Atriz Coadjuvante por Emilia Perez) até Adrien Brody (Melhor Ator, por O Brutalista), passando por Whoopi Goldberg e Oprah Winfrey, escolhidas para anunciar a homenagem ao talentosíssimo Quincy Jones, falecido em 2024.
Ainda teve o tema “genocídio” com a equipe de produção do documentário No Other Land, sobre a “invasão israelenese” na Palestina. Pena que a câmera não mostrou a israelense Gal Gadot no instante da lacração. Foi um discurso vergonhoso, até mesmo para a festa do Oscar.
Brody falou sobre “racismo”, “homofobia” e “antissemitismo”, enquanto Zoe pouco falou sobre sua atuação premiada, preferindo focar na “imigração”.
O que… mas não teve ninguém falando sobre P.Diddy e seus convidados?
Não dá mais para esperar nada além do óbvio de Hollywood.
Confira a premiação completa do Oscar 2025
Melhor filme
- “Ainda Estou Aqui” (produtores: Maria Carlota Bruno e Rodrigo Teixeira)
- “Anora” (produtores: Alex Coco, Samantha Quan e Sean Baker)
- “O Brutalista” (produtores: Nick Gordon, Brian Young, Andrew Morrison, D.J. Gugenheim e Brady Corbet)
- “Um Completo Desconhecido” (produtores: Fred Berger, James Mangold e Alex Heineman)
- “Conclave” (produtores: Tessa Ross, Juliette Howell e Michael A. Jackman)
- “Duna: Parte 2” (produtores: Mary Parent, Cale Boyter, Tanya Lapointe e Denis Villeneuve)
- “Emilia Pérez” (produtores: Pascal Caucheteux e Jacques Audiard)
- “Nickel Boys” (produtores: Dede Gardner, Jeremy Kleiner e Joslyn Barnes)
- “A Substância” (produtores: Coralie Fargeat e Tim Bevan & Eric Fellner)
- “Wicked” (produtor: Marc Platt)
Melhor Direção
- “Anora” (Sean Baker)
- “O Brutalista” (Brady Corbet)
- “Um Completo Desconhecido” (James Mangold)
- “Emilia Pérez” (Jacques Audiard)
- “A Substância” (Coralie Fargeat)
Melhor Ator
- Adrien Brody (“O Brutalista”)
- Colman Domingo (“Sing Sing”)
- Ralph Fiennes (“Conclave”)
- Sebastian Stan (“O Aprendiz”)
- Timothée Chalamet (“Um Completo Desconhecido”)
Melhor Atriz
- Cynthia Erivo (“Wicked”)
- Demi Moore (“A Substância”)
- Fernanda Torres (“Ainda Estou Aqui”)
- Karla Sofía Gascón (“Emilia Pérez”)
- Mikey Madison (“Anora”)
Melhor Ator Coadjuvante
- Edward Norton (“Um Completo Desconhecido”)
- Guy Pearce (“O Brutalista”)
- Jeremy Strong (“O Aprendiz”)
- Kieran Culkin (“A Verdadeira Dor”)
- Yura Borisov (“Anora”)
Melhor Atriz Coadjuvante
- Ariana Grande (“Wicked”)
- Felicity Jones (“O Brutalista”)
- Isabella Rossellini (“Conclave”)
- Monica Barbaro (“Um Completo Desconhecido”)
- Zoe Saldaña (“Emilia Pérez”)
Melhor Roteiro Original
- “Anora” (Sean Baker)
- “O Brutalista” (Brady Corbet e Mona Fastvold)
- “Setembro 5” (Moritz Binder e Tim Fehlbaum; coescrito por Alex David)
- “A Substância” (Coralie Fargeat)
- “A Verdadeira Dor” (Jesse Eisenberg)
Melhor Roteiro Adaptado
- “Um Completo Desconhecido” (James Mangold e Jay Cocks)
- “Conclave” (Peter Straughan)
- “Emilia Pérez” (roteiro de Jacques Audiard; em colaboração com Thomas Bidegain, Léa Mysius e Nicolas Livecchi)
- “Nickel Boys” (RaMell Ross & Joslyn Barnes)
- “Sing Sing” (roteiro de Clint Bentley, Greg Kwedar; história de Clint Bentley, Greg Kwedar, Clarence Maclin e John “Divine G” Whitfield)
Melhor Filme de Animação
- “Divertida Mente 2” (Kelsey Mann e Mark Nielsen)
- “Flow” (Gints Zilbalodis, Matīss Kaža, Ron Dyens e Gregory Zalcman)
- “Memórias de um Caracol” (Adam Elliot e Liz Kearney)
- “Robô Selvagem” (Chris Sanders e Jeff Hermann)
- “Wallace & Gromit: Avengança” (Nick Park, Merlin Crossingham e Richard Beek)
Melhor Filme Internacional
- “Ainda Estou Aqui” (Brasil), dirigido por Walter Salles
- “Emilia Pérez” (França), dirigido por Jacques Audiard
- “Flow” (Letônia), dirigido por Gints Zilbalodis
- “A Garota da Agulha” (Dinamarca), dirigido por Magnus von Horn
- “A Semente do Fruto Sagrado” (Alemanha), dirigido por Mohammad Rasoulof
Melhor documentário
- “Diários da Caixa Preta” (Shiori Ito, Eric Nyari e Hanna Aqvilin)
- “Guerra da Porcelana” (Brendan Bellomo, Slava Leontyev, Aniela Sidorska e Paula DuPre’ Pesmen)
- “Sem Chão” (Basel Adra, Rachel Szor, Hamdan Ballal e Yuval Abraham)
- “Sugarcane: Sombras de um Colégio Interno” (Julian Brave NoiseCat, Emily Kassie e Kellen Quinn)
- “Trilha Sonora para um Golpe de Estado” (Johan Grimonprez, Daan Milius e Rémi Grellety)
Melhor Curta-Metragem de Documentário
- “Death by Numbers” (Kim A. Snyder e Janique L. Robillard)
- “I Am Ready, Warden” (Smriti Mundhra e Maya Gnyp)
- “Incident” (Bill Morrison e Jamie Kalven)
- “Instruments of a Beating Heart” (Ema Ryan Yamazaki e Eric Nyari)
- “The Only Girl in the Orchestra” (Molly O’Brien e Lisa Remington)
Melhor Curta-Metragem Live Action
- “Anuja” (Adam J. Graves e Suchitra Mattai)
- “I’m Not a Robot” (Victoria Warmerdam e Trent)
- “The Last Ranger” (Cindy Lee e Darwin Shaw)
- “A Lien” (Sam Cutler-Kreutz e David Cutler-Kreutz)
- “The Man Who Could Not Remain Silent” (Nebojša Slijepčević e Danijel Pek)
Melhor Curta-Metragem de Animação
- “Beautiful Men” (Nicolas Keppens e Brecht Van Elslande)
- “In the Shadow of the Cypress” (Shirin Sohani e Hossein Molayemi)
- “Magic Candies” (Daisuke Nishio e Takashi Washio)
- “Wander to Wonder” (Nina Gantz e Stienette Bosklopper)
- “Yuck!” (Loïc Espuche e Juliette Marquet)
Melhor Trilha Sonora
- “O Brutalista” (Daniel Blumberg)
- “Conclave” (Volker Bertelmann)
- “Emilia Pérez” (Clément Ducol e Camille)
- “Robô Selvagem” (Kris Bowers)
- “Wicked” (John Powell e Stephen Schwartz)
Melhor Canção Original
- “El Mal”, de “Emilia Pérez” (música de Clément Ducol e Camille; letra de Clément Ducol, Camille e Jacques Audiard)
- “The Journey”, de “Batalhão 6888” (música e letra de Diane Warren)
- “Like a Bird”, de “Sing Sing” (música e letra de Abraham Alexander e Adrian Quesada)
- “Mi Camino”, de “Emilia Pérez” (música e letra de Camille e Clément Ducol)
- “Never Too Late”, de “Elton John: Never Too Late” (música e letra de Elton John, Brandi Carlile, Andrew Watt e Bernie Taupin)
Melhor Som
- “Um Completo Desconhecido” (Tod A. Maitland, Donald Sylvester, Ted Caplan, Paul Massey e David Giammarco)
- “Duna: Parte 2” (Gareth John, Richard King, Ron Bartlett e Doug Hemphill)
- “Emilia Pérez” (Erwan Kerzanet, Aymeric Devoldère, Maxence Dussère, Cyril Holtz e Niels Barletta)
- “Robô Selvagem” (Randy Thom, Brian Chumney, Gary A. Rizzo e Leff Lefferts)
- “Wicked” (Simon Hayes, Nancy Nugent Title, Jack Dolman, Andy Nelson e John Marquis)
Melhor Design de Produção
- “O Brutalista” (design de produção: Judy Becker; decoração de set: Patricia Cuccia)
- “Conclave” (design de produção: Suzie Davies; decoração de set: Cynthia Sleiter)
- “Duna: Parte 2” (design de produção: Patrice Vermette; decoração de set: Shane Vieau)
- “Nosferatu” (design de produção: Craig Lathrop; decoração de set: Beatrice Brentnerová)
- “Wicked” (design de produção: Nathan Crowley; decoração de set: Lee Sandales)
Melhor Fotografia
- “O Brutalista” (Lol Crawley)
- “Duna: Parte 2” (Greig Fraser)
- “Emilia Pérez” (Paul Guilhaume)
- “Maria” (Ed Lachman)
- “Nosferatu” (Jarin Blaschke)
Melhor Maquiagem e Cabelo
- “Emilia Pérez” (Julia Floch Carbonel, Emmanuel Janvier e Jean-Christophe Spadaccini)
- “Um Homem Diferente” (Mike Marino, David Presto e Crystal Jurado)
- “Nosferatu” (David White, Traci Loader e Suzanne Stokes-Munton)
- “A Substância” (Pierre-Olivier Persin, Stéphanie Guillon e Marilyne Scarselli)
- “Wicked” (Frances Hannon, Laura Blount e Sarah Nuth)
Melhor Figurino
- “Um Completo Desconhecido” (Arianne Phillips)
- “Conclave” (Lisy Christl)
- “Gladiador II” (Janty Yates e Dave Crossman)
- “Nosferatu” (Linda Muir)
- “Wicked” (Paul Tazewell)
Melhor Montagem
- “Anora” (Sean Baker)
- “O Brutalista” (David Jancsó)
- “Conclave” (Nick Emerson)
- “Emilia Pérez” (Juliette Welfling)
- “Wicked” (Myron Kerstein)
Melhores efeitos visuais
- “Alien: Romulus” (Eric Barba, Nelson Sepulveda-Fauser, Daniel Macarin e Shane Mahan)
- “Better Man: A História de Robbie Williams” (Luke Millar, David Clayton, Keith Herft e Peter Stubbs)
- “Duna: Parte 2” (Paul Lambert, Stephen James, Rhys Salcombe e Gerd Nefzer)
- “Planeta dos Macacos: O Reinado” (Erik Winquist, Stephen Unterfranz, Paul Story e Rodney Burke)
- “Wicked” (Pablo Helman, Jonathan Fawkner, David Shirk e Paul Corbould)