Vanity Fair tenta explicar escolha de Bombadil para a 2ª temporada de Anéis de Poder que estreia em 29/8
Por Claudio Dirani
Ao contrário do que os produtores – e os fãs mais extremistas da primeira temporada de Anéis de Poder – tentaram emplacar, o que mais faltou na série da Amazon Prime Video foi aquilo que os verdadeiros adoradores do professor Tolkien mais reclamaram: fidelidade à história e às tradições do criador do universo de O Senhor dos Anéis.
A prova de que os showrunners também sentiram que o trabalho de contar o passado de Galadriel, Sauron e outros personagens centrais não foi tão positivo assim está escancarada na mais recente matéria da tradicional Vanity Fair.
A revista norte-americana – especializada em cobrir os bastidores do entretenimento em Hollywood – traz nesta semana uma longa peça dedicada a um nome extremamente significativo nas páginas escritas por J.R.R Tolkien: Tom Bombadil – e com direito a imagens exclusivas das filmagens
No texto assinado pelo jornalista Anthony Breznican, a revista oferece a versão dos produtores J.D. Payne e Patrick McKay, sobre a entrada em cena do bonachão “Velho Tom”, que terá a dura missão de acrescentar valor e conteúdo à segunda temporada da atração, que deixou muito, mas muito a desejar em sua estreia no streaming.
Ao comentar em sua entrevista exclusiva para a Vanity Fair, os encarregados de mudar a imagem de Anéis de Poder oferecem uma opinião sobre a ausência de Tom Bombadil de A Sociedade do Anel dirigida pelo genial Peter Jackson.
“Há uma razão pela qual ele não apareceu nas adaptações anteriores, porque de certa forma ele é um personagem anti-dramático”, afirma Payne. “Ele não é um personagem que tenha uma agenda particularmente forte. Ele observa o drama, mas em grande parte não participa dele. Em A Sociedade do Anel, os personagens simplesmente vão lá e passam um tempo e Tom deixa um pouco de seus conhecimentos a eles.”
Por sua vez, McKay acrescenta: “Conhecimento que não é particularmente relevante para nada que eles estejam fazendo ou prestes a fazer”, opina.
Antes de abordar os motivos que realmente levaram ao resgate do personagem da Floresta Antiga, Payne e McKay afirmam ter buscado a opinião em escritos do próprio Tolkien, que justificassem uma suposta “menor importância” de Bombadil nas páginas de seus livros.
Em uma carta de 1954, os produtores destacam um comentário feito por J.R.R. Tolkien a seu revisor, onde ele diz que Tom Bombadil não seria “importante para a narrativa em si”, mas, certamente, importante “para um sentimento particular” do autor.
“Ele pode ser uma força para o bem, mas é um desafio integrar-se dramaticamente porque não tem uma agenda”, comenta Payne à Vanity Fair. “Ele (Tom) não age para pressionar as pessoas a chegarem a um objetivo específico”, reitera.
Depois de tantos questionamentos sobre o valor que Bombadil poderia acrescentar à segunda temporada de Anéis de Poder, os showrunners pensaram que o ser pacífico poderia ser útil como uma espécie de conselheiro. A má notícia aqui, contudo, é que McKay e Payne já adiantaram que o personagem fará coisas que não estão nos escritos de Tolkien.
“Começamos a pensar: com o que ele se importa? Sabemos que ele se preocupa com o mundo natural (…) Ele não vai te pressionar, mas vai te ajudar. E então, tradicionalmente, ele mora neste lugar chamado Withywindle, que é uma espécie de floresta quase encantada”, pontuou Payne, que admite ter usado da licença criativa para ampliar o escopo de Bombadil
“Em nossa história, ele segue para as terras de Rhûn, que costumavam ser uma espécie de Edênico, verde e bonito, mas que agora é uma espécie de deserto morto”,explica Payne. “Tom foi lá para ver o que aconteceu enquanto ele fazia suas várias andanças”, conclui.
Rory Kinnear, o “Velho Tom”
A segunda parte da reportagem de Vanity Fair é dedicada ao inglês Rory Kinnear – o escolhido pelos estúdios para “dar à luz” a Tom Bombadil. Em seu currículo, Kinnear traz participações como Bill Tanner em quatro filmes de 007, além de atuar em séries como Penny Dreadful e Black Mirror.
Logo de cara, Kinnear é bastante sincero: nunca foi um leitor de Tolkien, muito menos conhecedor do personagem que ele incorporou em Anéis do Poder.
“Tem gente que sabia disso pelos livros, gente que sabia disso pelos filmes, e tem quem conseguiu chegar aos 46 sem saber muito sobre isso”, brinca Kinnear.
“Fui totalmente honesto: quando me ofereceram o papel, eu disse que não tinha lido. Eu falei: vou ler e lhe retorno. Depois que contei para minha namorada (a também atriz Pandora Colin) ela foi direta: – você não pode fazer o Tom Bombadil de jeito nenhum! Foi nesse momento que senti o verdadeiro peso cultural do personagem”, revelou.
Rory Kinnear conta que uma das inspirações para absorver Tom Bombadil foi sua própria filha. Ao observar como ela se vestia, usando um chapéu de lã de ovelha em pleno verão, ele comparou o jeito descontraído e despreocupado da menina de 10 anos com o estilo extravagante da criação de Tolkien.
“O chapéu era quente e muito grande para ela. Então você pensa: ela não se importou. Podemos também explorar algo dessa atitude infantil e decidida como adultos”, comparou.
Encerrando a reportagem, os showrunners retornam com mais pistas sobre a segunda incursão de Anéis do Poder e de como Tom Bombadil poderá se encaixar para temperar a trama que – na opinião dos seguidores e leitores de Tolkien – deixou bastante a desejar em termos de credibilidade e ação.
“A primeira temporada colocou as peças no tabuleiro de xadrez, e na segunda temporada as peças estão em movimento – e será realmente sobre os vilões”, destaca Payne (…) Tom será uma espécie de curiosidade dentro dessa estrutura porque ele aparecerá cantando e recitando versos que poderiam ser canções infantis de poemas infantis em um cenário que será mais sombrio. Então ele meio que desafia a mudança tonal do resto da temporada e será um ponto de luz em meio a um mar de escuridão”, acrescenta.